O tempo da consolidação da Igreja no Império Romano (70 - 180
d.C.)
É o
tempo do surgimento progressivo da “Grande Igreja”, que é consciente da unidade
de todas as igrejas locais e vai organizando pouco a pouco uma estrutura
administrativa de unidade. Vemos a formação de tal processo com: a difusão do
cristianismo em todos os centros de Império graças a obra missionária; o
nascimento de uma diversificação nas igrejas; a consciência de que esta
diversidade arrisca de tocar também o coração do anúncio e que por isto há uma
exigência de mais união entre as igrejas.
Esta
época é caracterizada por três elementos:
1.
difusão geográfica do cristianismo;
2.
consolidação da estrutura hierárquica nas igrejas locais;
3.
primeiras hostilidades do estado romano. É necessário distinguir três tipos de
hostilidade:
-
hostilidade dos judeus;
-
hostilidade da sociedade pagã;
-
hostilidade que se baseiam em atos legislativos da sociedade.
Na
literatura cristã deste período podemos distinguir dois gêneros: aquela que se
dirige ao externo (apologia) e aquela interna que se preocupa de combater as
heresias (contra).
A difusão do cristianismo
- Palestina:
antes do ano 70 d.C. a comunidade cristã tinha perdido prestígio porque as
“colunas” tinham se dedicado à missão. Depois de 70 d.C. se tenta restabelecer
uma comunidade tendo como guias parentes de Jesus. Mas a evangelização dos
judeus encontra grandes dificuldades. Existe um judaísmo heterodoxo que
considera importante a observância da Lei e da circuncisão; também a
consideração de Jesus como Deus era um problema porque colocaria em perigo o
rígido monoteísmo judaico. No início permanece uma oscilação entre as duas
comunidades; depois pouco a pouco cresce a compreensão da diversidade entre as
duas concepções e isto leva ao desencontro violento.
Mas a
hostilidade mais forte vem do judaísmo ortodoxo, dirigido pelos rabinos que
recomeçam a tradição farisaica. A destruição do Templo tinha levado ao declínio
sacerdotes e saduceus que contrabalançavam o poder religioso dos fariseus;
estes tornam-se agora os verdadeiros guias: se trata de um processo que vai do
ano 70 d.C. até o final do século II. Antes de 70 d.C. o judaísmo era mais
pluralista, as várias correntes religiosas encontravam unidade em torno ao
Templo que também essênios e cristãos respeitavam. Depois da sua destruição
falta o elemento em torno do qual se sustentava a unidade. Também, de um ponto de
vista econômico-administrativo, a população de Jerusalém era ligada ao Templo.
Com o impor-se da corrente farisaico-rabínica aumenta a pressão unificante e
não serão mais permitidos desvios ao interno do judaísmo. A tentativa de manter
ao menos a unidade religiosa (aquela política não existe mais) faz desaparecer
a tolerância precedente. Nestas condições a participação dos cristãos na
sinagoga torna-se impossível. Estes fatos deixam o seu rastro sobretudo no
quarto evangelho (cf. a hostilidade dos judeus com relação a Jesus). No seu Diálogo
com Trifão o mártir Justino fala deste ódio difundido pela propaganda
judaica não só na Palestina mas também em toda a diáspora. Por estes motivos o
bispo de Jerusalém Simeão foi martirizado em 107 d.C. Em 135 d.C., o fracasso
da revolta de Bar Kosiba significou o final da comunidade judeu-cristã de
Jerusalém. A cidade passa a ser chamada da Aelia Capitolina onde foi proibido
aos judeus e aos cristãos de origem judaica de morar. Depois destes fatos a
comunidade cristã de Jerusalém pode ser composta somente por cristãos de origem
pagã. Contudo a comunidade não conseguirá mais recuperar o antigo prestígio,
mesmo se em 451 d.C. se tornará um patriarcado. Nos dois séculos sucessivos (II
- III) Jerusalém aparece no segundo lugar depois de Cesaréia Marítima como
importância. Junto a estas duas comunidades existiam outras igrejas situadas
sobretudo nas cidades do litoral.
- Síria:
fazia parte da Arábia Romana. Podemos dividi-la em três zonas: a primeira
corresponde a Síria atual; a segunda é a zona mais oriental submetida ao
domínio persiano; a terceira é Antioquia, centro urbano que deve ser visto
separadamente. Na primeira zona a evangelização progride nas cidades (Damasco,
por exemplo), não conseguindo penetrar nas zonas rurais.
Na
segunda zona está a Síria Oriental com a sua capital Edessa que se distingue
como centro missionário. Também a língua que ali se fala é diferente. Na busca
de uma origem apostólica para esta Igreja se fingiu no século II-III uma troca
de correspondência entre Jesus e o rei Abgar V; a igreja teria sido fundada por
Judas Tadeu. Taciano compôs neste ambiente o seu Diatessaron depois de
172 d.C.: é a fusão dos quatro evangelhos em um, somando os vários elementos
(temos por exemplo sete mulheres no sepulcro de Jesus). É um escrito em que
falta claramente de uma unidade teológica. A difusão e organização desta igreja
são testemunhadas por dois fatos diferentes: o sínodo de Edessa sobre o
problema Pascal, citado por Eusébio; e uma inscrição de Abércio datada de 216
d.C. e conservada hoje nos Museus Vaticanos. Diferentemente da Síria Ocidental
a evangelização nesta zona penetra também nas zonas rurais chegando ao Reino
dos Partas.
Na
terceira zona temos Antioquia antiga fundação que aumenta a sua importância pelo
grande prestígio do grande bispo Inácio (+117 d.C.). Teófilo bispo depois de
180 d.C., escreve uma apologia contra o paganismo. É um centro de grande
cultura onde se desenvolve o “mono-episcopado”.
- Egito:
não sabemos quase nada do cristianismo no Egito antes do final do século II. A
igreja de Alexandria se diz fundada por Pedro ou por Marco, mas se trata
provavelmente de lenda posterior. Não parece ser facilmente sustentável uma
difusão precoce do cristianismo no Egito. Contudo já em 180 d.C. encontramos
uma comunidade cristã em condições de manter uma escola catequética guiada
primeiramente por Panteno, depois por Clemente e Orígenes. Isto significa que
já de antes a comunidade era vivaz e consistente.
- Ásia
Menor: o principal ponto da evangelização nos primeiros dois séculos
não é nem no Egito nem na Síria mas na Ásia Menor. Além de Paulo, sem dúvida,
existiram outros missionários muito ativos nesta área. As cartas de Inácio de
Antioquia no início do século II assinalam a existência de várias comunidades
na zona ocidental: Éfeso, Filadélfia, Tralle, Magnésia, Esmirna. Naturalmente
atrás desta grande rede de comunidades estão as rotas navais. Tratam-se de
cidades portuárias com conseqüente facilidade de comunicação. Daqui a
evangelização se expandia para o interior. Junto ao testemunho de Inácio de
Antioquia se soma àquela do Apocalipse. Em 1Pd 1,1 temos grande parte das
regiões da Ásia Menor: Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia (que nesta época se
referia a zona centro-ocidental da atual Turquia) e Bitínia. Com relação a
Bitínia e ao Ponto temos também um testemunho não cristão, a carta de Plínio, o
jovem, procurador junto ao procônsul destas duas províncias ao Imperador
Trajano.
-
Creta: ali se encontram as comunidades de Knosso e Gortina, as duas mencionadas
por Dionísio de Corinto, mas a tradição remonta a carta de Tito (mais ou menos
em 130 d.C.), que pressupõe a existência de uma comunidade cristã cujas raízes
se unem de algum modo a Paulo. A Igreja mais consistente na Grécia é aquela de
Corinto, e a partir desta se conhece também aquela de Atenas, da onde vinha o
apologeta Aristides.
-
Roma: no ocidente a comunidade que se sobressai è a de Roma. Não
conhecemos o nome dos fundadores, embora esta comunidade celebre os apóstolos
Pedro e Paulo. Contudo esta hipótese é insustentável. A carta de Paulo aos
Romanos testemunha que no início esta comunidade é composta de judeu-cristãos,
mesmo se não sabemos como estava organizada. Talvez em igrejas domésticas, ou
seja, em casas de cristãos que estavam bem economicamente que possuíam casas
espaçosas que podiam hospedar as assembléias da comunidade; ou segundo a
distribuição das sinagogas.
- Gália:
temos os testemunhos chegados através das obras de Irineu de Lion e aquela de
Eusébio de Cesaréia. Deve-se ao comércio e as sua vias de comunicação através
do mar o início da evangelização na Gália. A primeira comunidade nasce em
Marselha, cidade de fundação grega que conserva uma estreita ligação com a Ásia
Menor. Dali a evangelização provavelmente subiu o rio Ródano chegando nas
cidades fluviais (segundo a lenda Lázaro e as três Marias teriam chegado a
Provenza com a escrava Sara, patrona dos ciganos). Como notícias históricas
sobre as comunidades ao longo do Ródano temos uma carta de 177 d.C. das igrejas
de Lion e Vienne que descrevem um progrom (uma perseguição não
organizada pelo estado, mas popular) que aconteceu nas duas cidades. Nesta
ocasião morreram muitos cristãos, certamente mais do que os dez dos quais se
possuem o nome. Depois deste acontecimento Irineu se torna o bispo de Lion e,
mesmo tendo origens asiáticas, a comunidade está em estreito contato com Roma.
- África:
como na Gália o primeiro testemunho tem relação aos mártires “cilitanos”,
localidade não ainda identificada, provavelmente nas vizinhanças de Cartago. A
presença no século III de tumbas cristãs e hebraicas na mesma área faz com que
se hipótese que a missão tenha acontecido a partir de comunidades
judeu-cristãs. Ponto de partida devia ser Cartago, o maior porto africano e
dali se expandir para outros pontos. Em 220 d.C., 70 bispos se reúnem em um
sínodo, o que faz supor que a evangelização tenha se estendido para a zona
rural já que não existem grandes cidades nesta região.
Muito legal! Esse texto é seu?
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