A santidade de Maria, princípio e fim.
Maria mãe do
Messias, mãe do Filho de Deus. Através dela o espírito concebeu em nossa
historia e trouxe-nos Jesus nosso Salvador. Maria foi a primeira conquistada
pela graça e é com certeza um ponto de referência para os que querem
experimentar o amor de Deus.
Não podemos refletir
sobre a santidade e a Imaculada Conceição de Maria vendo isso como um
privilégio seu, mas como graça de Deus a qual Maria esteve aberta. Tudo o que
aconteceu a Maria nos interessa, porque nos traz em verdade a salvação que nós
necessitamos. Os dogmas marianos não podem ser compreendidos quando se reduzem
a especiais condecorações de Deus a Maria que Deus reconhece e por isso
recompensa-la a mãe de Jesus Cristo. Os dogmas são sim símbolos da totalidade
do projeto de salvação de Deus: a totalidade numa parte.
João Paulo II, em
sua encíclica Redemptoris Mater, interpreta o relato da
vocação-anunciação de Maria a luz de Efésios 1,3-7, que fala para com cada um de nós e esta se realiza em Cristo Jesus que
fomos eleitos antes da criação do mundo. Assim, todos nós somos chamados a
santidade, remidos pelo sangue de Cristo somos chamados a um dia estarmos com
ele nos céus. Quando tudo isso é dito de
Maria fica claro que Maria não está
situada fora de nossa humanidade ou de nossa historia, fora do povo de Deus. A
graça que faz de Maria mulher bendita é a mesma que faz bendita a humanidade.
Maria não é privilegiada, exceção, é sim uma expressão máxima da bondade
amorosa de Deus Pai sobre o mundo.
Maria envolvida pela graça de
Deus
Maria cotidianamente envolvida com o mistério de
Deus, não podia ser de outra maneira. Todas as suas obrigações de mãe levavam a
um contato direto com o Filho de Deus, pensar nele, cuidar dele e por isso
podemos afirmar que estava assim envolvida pela graça.
- O mistério da santidade de Deus
A santidade é a
transcendência de Deus, sua plenitude e seu poder. Não é um objeto concebível
como realidade, é inalcançável para nossa razão e sensibilidade. Nós só podemos
ir a Deus quando ele se revela e auto se comunica, porém, quando faz isso não
deixa de ser Deus apesar de o conhecermos não superamos o grande mistério,
temos acesso a uma dimensão do divino, enquanto outra certamente maior
permanece oculta.
A santidade de Deus
é dinâmica, ativa, se impõe e se realiza. A santidade de Deus é sua glória
escondida. Sua glória é sua santidade descoberta.
No Novo Testamento
Jesus é a imagem humana do santo, é a revelação mais transformadora da santidade de Deus no humano.
A santidade de Deus
consiste no fato de o Pai ter gerado o Filho. Enquanto o Espírito é a santidade divina em pessoa, como diziam
os padres da Igreja, o Todo santo, o Espírito é o dom de Deus.
Chamados a santidade
Não se é santo por
natureza, por essência, mas por participação. O único santo é Deus. O termo
santo indica uma relação de pertença total a Deus.
O que torna difícil
no mandato divino que o homem seja santo é o fato de que não se trata de
adquirir uma conformidade moral com Deus, mas sim uma correspondência
ontológica com ele. Para entrar nesta esfera de santidade é necessária uma
purificação, uma consagração. Santo é o que pertence a esfera de Deus.
Ser santos como Deus
é lei do Espírito é o resultado do dom da imanência do Espírito Santo em nós. Só o Espírito nos
purifica de toda mancha.
A
santidade de Maria
Maria teve a graça de participar na geração do
Filho de Deus neste mundo. A santidade divina a cobriu com sua sombra e a
consagrou. Maria foi santa na consagração maternal ela é a “Imaculada
Conceição”.
Maria gera o Filho de Deus e cobrindo-a com sua
sombra, o Espírito impregnava o coração da serva do Senhor. A união de
Maria com o Filho esteve estreitamente
vinculada a sua união com o Espírito Santo. A cheia de graça recebeu a
plenitude do Espírito Santo com todo o conjunto de seus dons.
Santidade radical e original
Falar da santidade de
Maria parece algo duvidoso sem provas documentais, porém é algo presente e com
uma firme convicção nos padres da Igreja. E ainda nas distintas Igrejas tanto
do Oriente quanto do Ocidente e isto se dá
depois de uma olhada profunda a
Maria no mistério da encarnação e na sua resposta de fé a graça. O sim de Maria
tem uma grande dimensão, dimensão esta que afeta toda a história da salvação.
A santidade de Maria
foi expressa de diversas maneiras, no Oriente em termos de teologia total e
perfeita e no Ocidente em termos de preservação do pecado original.
Como o projeto
criador e redentor de Deus querem que sejamos santos e imaculados e como somos
manchados pelo pecado original lutamos a cada dia para dar a Deus uma resposta
positiva de amor e correspondência ao seu chamado. Maria foi esta que durante
toda sua vida correspondeu a esse projeto de santidade de Deus, vivendo
conforme a sua condição ontológica, foi assim à perfeita consagrada pelo
Espírito, como expressão de “Imaculada Conceição” do Filho de Deus.
Santidade permanente
Maria foi agraciada
com a revelação do nome de Deus, o santo aproximou-se do ser de Maria e foi
integrado ao seu nome. Jesus o Filho de Maria é o santo por excelência. Mesmo sem
conhecer totalmente o mistério de Deus, Maria viveu na fé e conservou tudo em
seu coração.
A santidade de Deus,
sua glória escondida se difunde sobre Maria e ela em correspondência era ativa
na fé, faz de Deus o seu Senhor e o glorifica.
Para os santos
padres a verdade do ser humano se revela na encarnação-Jesus Filho de Deus e
também em Maria nova Eva.
A santidade de Maria
não é principalmente uma santidade moral, mas ontológica, é a santidade da presença do Espírito de Deus nela. Voltada
para este vive em pureza, em fé e caridade como autêntica propriedade de Deus.
É santa porque pertence a esfera de Deus.
Bases históricas
Tendo surgido
diversos questionamentos quanto à definição dogmática da Imaculada Conceição
devido à ausência de certos termos relacionados a este dogma nas Escrituras e
até mesmo na tradição patrística ocidental. Diante de todo este panorama de
duvidas a Igreja apresenta alguns dados
históricos com bases na teologia.
Como resposta
às questões feitas quanto a Imaculada Conceição de Maria devemos voltar a
atenção às únicas bases históricas das quais dispomos e também as bases
teológicas que são oferecidas.
A única base
bíblica é a imagem com a qual nos dispomos numa leitura atenta e global do Novo
Testamento a luz do Antigo Testamento. Dois fatores que nos ajudam nesta
compreensão.
Maria é a mãe de
Jesus, o santo, o grande, não só pelo fato de sua virgindade mas sim pela
presença do Espírito Santo e o poder de Deus que nela atua. A outra é que Maria
não é mãe de forma passiva, mas o seu sim é inquebrantável. Maria ao contrário
de Eva creu e obedeceu e por isso é apresentada pelos padres apostólicos como
nova Eva, mãe de todos os viventes. Outros a identificam como a Igreja santa e
Imaculada.
Fundamentação teológica
Esta ressalta que o dogma que proclama a Imaculada
Conceição de Maria em sua concepção, não quer dizer que o momento no qual o ser
humano é gerado seja pecaminoso, pois a geração é um ato da criação divina.
O dogma contudo faz menção ao
pecado original e a preservação de Maria dele. E como a Igreja afirma o pecado
original não é uma herança biológica, mas sim que Adão tendo recebido a
santidade e justiça original não só para ele mas para toda a natureza humana e
cedendo ao tentador Adão e Eva cometem um pecado pessoal que afeta toda a
natureza humana e assim o pecado é transmitido por propagação a toda a humanidade.
Experimentamos o pecado original como influencia de
múltiplas mediações negativas que impede
o homem de uma comunhão com o projeto de Deus.
Quanto a Maria não se quer dizer que isenta do
pecado original na sua concepção ocorrera um fenômeno biológico especial, pois
o pecado original não é uma herança biológica. Nem tão pouco porque Deus deixou
de colocar nela o pecado, pois, este não é castigo de Deus. Isenta de toda
mancha de pecado quer dizer varias coisas entre elas: Maria recebeu uma
liberdade liberada não passível e volúvel entre o bem e o mal. Maria emergiu um
novo tipo de mulher, recebeu a graça, energia de Deus. A graça sobrenatural do
seu Filho Jesus. Em
seu Filho Jesus Maria tinha a fonte do seu ser. A nova mulher
que nasce de Adão. E a Igreja nascida do lado aberto de Cristo.
Maria situada na historia dos homens onde estava a
dramática batalha do bem e do mal é preservada das forças do mal e habilitada
para vencer as forças e mediações negativas pela graça de Deus.
Segundo a definição dogmática
Maria foi preservada “por singular graça e privilegio de Deus onipotente, em
atenção aos méritos de Jesus Cristo salvador do gênero humano”.
Assim a
existência de Maria deve ser considerada como uma existência de comunhão total
com Cristo desde a origem até ao fim. Com a salvação Cristo converte-se no
sacramento de Deus salvador, também parta Maria Jesus Cristo é o libertador.
A Igreja está autorizada para afirmar tudo isso de
Maria?
A Igreja fixando os
olhos em Maria no decorrer dos séculos faz uma “leitura patológica” do dogma da
Imaculada Conceição. Contemplando Maria como aparece no Novo Testamento.
Pergunta-se assim pela raiz-principio (em sentido ontológico e cronológico) de
tudo o que a ela sucedeu. Movida pelo Espírito Santo e guiada pela palavra de
Deus, descobriu que toda criação cristã tem
sua pré- historia “Deus nos chama desde o ventre materno” como afirma
Jeremias, assim foi a vocação de Maria: foi eleita para ser a mãe do Salvador e
a promessa de que Deus nos chama para sermos santos e imaculados diante dele
realizou de modo especial em
Maria. Se Maria pronunciou um sim, um Fiat, incondicional a
palavra de Deus, foi por resposta a todos os dons em sua vida e assim foi
agraciada e a Igreja a reconhece como nova Eva.
O mistério da
Imaculada Conceição de Maria é o mistério do admirável chamado de Deus e de uma
resposta humana.
Simbolismo do dogma
A)
Significado cristológico do dogma
Proclama antes de
tudo que Cristo é o redentor. Maria foi o protótipo, a primícia da redenção.
A Igreja apresenta
uma experiência integral da redenção-salvaçao e isto se realizou de forma
paradigmática em Maria por obra do Espírito Santo e de Jesus. Já que Maria
viveu sua vocação-anunciaçao em verdadeira comunhão com Jesus seu salvador.
Foi, portanto esta comunhão com o Filho e a ação do Espírito Santo que a
preservou do pecado.
Esta profunda
intimidade com o Filho foi como que um remédio contra todo pecado e uma semente
da graça que em Maria foi crescendo.
B)
Significado eclesiológico do dogma
O dogma nos ensina
como fomos salvos, não só libertos do pecado, mas, sobretudo preservados.
Maria não foi à
única preservada, mas sim a primeira. É a obra mestra da redenção, mas não é a
única.
A redenção de Jesus
é universal e afeta a todo homem e isso é o que nos indica o dogma.
K. Rahner afirma: “O
segundo Adão é muito mais poderoso sobre todo novo ser que nasce que o influxo
do primeiro Adão. Batalha entre a graça e o pecado, porém, onde a graça
escatologicamente já é vitoriosa”.”Isto vale não somente para os cristãos, mas
para todos os homens de boa vontade” (GS 22).
Maria a primeira
crente é por isso mesmo “Igreja nascente”. É a Ecclesia immaculata.
“Maria é para a Igreja um modelo permanente” (Redemptoris Mater 42).
Assim a Igreja
reconhece em Maria a mais perfeita imagem, quando ela diz “sim” a palavra é
vista como um exemplo vivo de comunhão com Cristo redentor e com o Espírito
Santo.
C)
Significado pneumatologico: Maria a consagrada pelo
Espírito Santo.
O dogma expressa
ainda que desde o inicio mesmo de sua existência, Maria se viu agraciada pela
comunicação do Espírito Santo, sem mérito algum de sua parte e desde aí
preservada do pecado original e de qualquer pecado pessoal.
Teria o Espírito
Santo a santificado desde o ventre materno desde o primeiro instante de sua
concepção. Assim a Igreja afirma que Maria não foi consagrada só no momento da
sua anunciação-vocaçao como nos relata Lucas, mas desde o instante de sua
concepção. Isto conforme ensina a Igreja se deu de maneira permanente até o fim
de seus dias aqui na terra.
Como no caso do
dogma da Imaculada Conceição, o ponto de partida só pode ser a imagem bíblica
de Maria, lida e interpretada numa chave unitária.
Sobre a morte ou possível sorte
final de Maria não se diz nada no Novo Testamento. Nenhum dos evangelistas teve
interesse de narrar algo relacionado aos últimos dias de Maria na terra.
Já na escatologia do período
intertestamentário se admite a possibilidade de ressurreições individuais. No
Novo Testamento isso se deu de forma culminante em Jesus Cristo , apesar
de São Paulo afirmar que se não há ressurreição dos mortos, tão pouco Cristo
ressuscitou, assim Paulo afirma que a ressurreição dos mortos é inicio e
fundamento da ressurreição de Jesus.
Mesmo diante deste pensamento
de não haver ressurreição individual, a Igreja afirma que Maria nova Eva,
associada intimamente ao Redentor, é assumida em corpo e alma a gloria, inicia
em Maria o ultimo dia. “A Assunção da santíssima virgem constitui uma
participação singular na ressurreição de seu Filho e uma antecipação da
ressurreição dos demais cristãos” (Catecismo da Igreja Católica, 966).
A
Igreja realiza uma leitura escatológica
A Igreja quando canoniza os seus
mártires e santos faz uma leitura escatológica, contemplando a luz do Espírito
Santo e da palavra e olhando o exemplo de vida dos crentes, afirma neles o
cumprimento das promessas de Deus.
No caso da Assunção de Maria a
Igreja faz algo parecido e não faz isso por uma “nova” revelação e nem por uma
descoberta no sentido histórico, mas sim por uma intuição de fé, iluminada
pelas promessas de Deus a quem se identifica com o Seu Filho.
Diante de tantos questionamentos
quanto ao fim de Maria aqui na terra, analisando que Maria foi aquela que nunca
esteve do domínio do maligno, que nenhum poder do mal atuou sobre ela, como
pode ter sido submetida as forças da morte conseqüência do pecado?
Assim a igreja faz a seguinte reflexão:
Desde que o
discípulo amado a acolheu em seu próprio mundo Maria começou a ser parte
integrante do universo dos cristãos. Nós a reconhecemos como mãe e exemplo de
vida.
Todo o ser de Maria foi vivificado porque Deus realiza
essa vivificação-ressuscita todo aquele que tem germes da graça e Maria foi
esta que soube amar e cumprir a vontade de Deus em tudo e por isso a igreja
reconhece-a como aquela que está junto ao Filho intercedendo por cada um de nós
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