domingo, 28 de fevereiro de 2016

A santidade de Maria, princípio e fim.



A santidade de Maria, princípio e fim.

Maria mãe do Messias, mãe do Filho de Deus. Através dela o espírito concebeu em nossa historia e trouxe-nos Jesus nosso Salvador. Maria foi a primeira conquistada pela graça e é com certeza um ponto de referência para os que querem experimentar o amor de Deus.
Não podemos refletir sobre a santidade e a Imaculada Conceição de Maria vendo isso como um privilégio seu, mas como graça de Deus a qual Maria esteve aberta. Tudo o que aconteceu a Maria nos interessa, porque nos traz em verdade a salvação que nós necessitamos. Os dogmas marianos não podem ser compreendidos quando se reduzem a especiais condecorações de Deus a Maria que Deus reconhece e por isso recompensa-la a mãe de Jesus Cristo. Os dogmas são sim símbolos da totalidade do projeto de salvação de Deus: a totalidade numa parte.
João Paulo II, em sua encíclica Redemptoris Mater, interpreta o relato da vocação-anunciação de Maria a luz de Efésios 1,3-7, que fala   para com cada um de nós e esta se realiza em Cristo Jesus que fomos eleitos antes da criação do mundo. Assim, todos nós somos chamados a santidade, remidos pelo sangue de Cristo somos chamados a um dia estarmos com ele nos céus.  Quando tudo isso é dito de Maria  fica claro que Maria não está situada fora de nossa humanidade ou de nossa historia, fora do povo de Deus. A graça que faz de Maria mulher bendita é a mesma que faz bendita a humanidade. Maria não é privilegiada, exceção, é sim uma expressão máxima da bondade amorosa de Deus Pai sobre o mundo.

Maria envolvida pela graça de Deus

Maria cotidianamente envolvida com o mistério de Deus, não podia ser de outra maneira. Todas as suas obrigações de mãe levavam a um contato direto com o Filho de Deus, pensar nele, cuidar dele e por isso podemos afirmar que estava assim envolvida pela graça.

  1. O mistério da santidade de Deus
A santidade é a transcendência de Deus, sua plenitude e seu poder. Não é um objeto concebível como realidade, é inalcançável para nossa razão e sensibilidade. Nós só podemos ir a Deus quando ele se revela e auto se comunica, porém, quando faz isso não deixa de ser Deus apesar de o conhecermos não superamos o grande mistério, temos acesso a uma dimensão do divino, enquanto outra certamente maior permanece oculta.
A santidade de Deus é dinâmica, ativa, se impõe e se realiza. A santidade de Deus é sua glória escondida. Sua glória é sua santidade descoberta.
No Novo Testamento Jesus é a imagem humana do santo, é a revelação mais transformadora da  santidade de Deus no humano.
A santidade de Deus consiste no fato de o Pai ter gerado o Filho. Enquanto o Espírito  é a santidade divina em pessoa, como diziam os padres da Igreja, o Todo santo, o Espírito é o dom de Deus.

Chamados a santidade

Não se é santo por natureza, por essência, mas por participação. O único santo é Deus. O termo santo indica uma relação de pertença total a Deus.
O que torna difícil no mandato divino que o homem seja santo é o fato de que não se trata de adquirir uma conformidade moral com Deus, mas sim uma correspondência ontológica com ele. Para entrar nesta esfera de santidade é necessária uma purificação, uma consagração. Santo é o que pertence a esfera de Deus.
Ser santos como Deus é lei do Espírito é o resultado do dom da imanência do Espírito Santo em nós. Só o Espírito nos purifica de toda mancha.
A santidade de Maria
Maria teve a graça de participar na geração do Filho de Deus neste mundo. A santidade divina a cobriu com sua sombra e a consagrou. Maria foi santa na consagração maternal ela é a “Imaculada Conceição”.
Maria gera o Filho de Deus e cobrindo-a com sua sombra, o Espírito impregnava o coração da serva do Senhor. A união de Maria  com o Filho esteve estreitamente vinculada a sua união com o Espírito Santo. A cheia de graça recebeu a plenitude do Espírito Santo com todo o conjunto de seus dons.

Santidade radical e original

Falar da santidade de Maria parece algo duvidoso sem provas documentais, porém é algo presente e com uma firme convicção nos padres da Igreja. E ainda nas distintas Igrejas tanto do Oriente quanto do Ocidente e isto se dá  depois de uma olhada  profunda a Maria no mistério da encarnação e na sua resposta de fé a graça. O sim de Maria tem uma grande dimensão, dimensão esta que afeta toda a história da salvação.
A santidade de Maria foi expressa de diversas maneiras, no Oriente em termos de teologia total e perfeita e no Ocidente em termos de preservação do pecado original.
Como o projeto criador e redentor de Deus querem que sejamos santos e imaculados e como somos manchados pelo pecado original lutamos a cada dia para dar a Deus uma resposta positiva de amor e correspondência ao seu chamado. Maria foi esta que durante toda sua vida correspondeu a esse projeto de santidade de Deus, vivendo conforme a sua condição ontológica, foi assim à perfeita consagrada pelo Espírito, como expressão de “Imaculada Conceição” do Filho de Deus.

Santidade permanente

Maria foi agraciada com a revelação do nome de Deus, o santo aproximou-se do ser de Maria e foi integrado ao seu nome. Jesus o Filho de Maria é o santo por excelência. Mesmo sem conhecer totalmente o mistério de Deus, Maria viveu na fé e conservou tudo em seu coração.
A santidade de Deus, sua glória escondida se difunde sobre Maria e ela em correspondência era ativa na fé, faz de Deus o seu Senhor e o glorifica.
Para os santos padres a verdade do ser humano se revela na encarnação-Jesus Filho de Deus e também em Maria nova Eva.
A santidade de Maria não é principalmente uma santidade moral, mas ontológica, é a santidade da  presença do Espírito de Deus nela. Voltada para este vive em pureza, em fé e caridade como autêntica propriedade de Deus. É santa porque pertence a esfera de Deus.

Bases históricas

Tendo surgido diversos questionamentos quanto à definição dogmática da Imaculada Conceição devido à ausência de certos termos relacionados a este dogma nas Escrituras e até mesmo na tradição patrística ocidental. Diante de todo este panorama de duvidas  a Igreja apresenta alguns dados históricos com bases na teologia.
Como resposta às questões feitas quanto a Imaculada Conceição de Maria devemos voltar a atenção às únicas bases históricas das quais dispomos e também as bases teológicas que são oferecidas.
A única base bíblica é a imagem com a qual nos dispomos numa leitura atenta e global do Novo Testamento a luz do Antigo Testamento. Dois fatores que nos ajudam nesta compreensão.
Maria é a mãe de Jesus, o santo, o grande, não só pelo fato de sua virgindade mas sim pela presença do Espírito Santo e o poder de Deus que nela atua. A outra é que Maria não é mãe de forma passiva, mas o seu sim é inquebrantável. Maria ao contrário de Eva creu e obedeceu e por isso é apresentada pelos padres apostólicos como nova Eva, mãe de todos os viventes. Outros a identificam como a Igreja santa e Imaculada.

Fundamentação teológica
Esta ressalta que o dogma que proclama a Imaculada Conceição de Maria em sua concepção, não quer dizer que o momento no qual o ser humano é gerado seja pecaminoso, pois a geração é um ato da criação divina.
  O dogma contudo faz menção ao pecado original e a preservação de Maria dele. E como a Igreja afirma o pecado original não é uma herança biológica, mas sim que Adão tendo recebido a santidade e justiça original não só para ele mas para toda a natureza humana e cedendo ao tentador Adão e Eva cometem um pecado pessoal que afeta toda a natureza humana e assim o pecado é transmitido por propagação  a toda a humanidade.
Experimentamos o pecado original como influencia de múltiplas  mediações negativas que impede o homem de uma comunhão com o projeto de Deus.
Quanto a Maria não se quer dizer que isenta do pecado original na sua concepção ocorrera um fenômeno biológico especial, pois o pecado original não é uma herança biológica. Nem tão pouco porque Deus deixou de colocar nela o pecado, pois, este não é castigo de Deus. Isenta de toda mancha de pecado quer dizer varias coisas entre elas: Maria recebeu uma liberdade liberada não passível e volúvel entre o bem e o mal. Maria emergiu um novo tipo de mulher, recebeu a graça, energia de Deus. A graça sobrenatural do seu Filho Jesus. Em seu Filho Jesus Maria tinha a fonte do seu ser. A nova mulher que nasce de Adão. E a Igreja nascida do lado aberto de Cristo.
Maria situada na historia dos homens onde estava a dramática batalha do bem e do mal é preservada das forças do mal e habilitada para vencer as forças e mediações negativas pela graça de Deus.
Segundo a definição dogmática Maria foi preservada “por singular graça e privilegio de Deus onipotente, em atenção aos méritos de Jesus Cristo salvador do gênero humano”.
Assim a existência de Maria deve ser considerada como uma existência de comunhão total com Cristo desde a origem até ao fim. Com a salvação Cristo converte-se no sacramento de Deus salvador, também parta Maria Jesus Cristo é o libertador.  

A Igreja está autorizada para afirmar tudo isso de Maria?
A Igreja fixando os olhos em Maria no decorrer dos séculos faz uma “leitura patológica” do dogma da Imaculada Conceição. Contemplando Maria como aparece no Novo Testamento. Pergunta-se assim pela raiz-principio (em sentido ontológico e cronológico) de tudo o que a ela sucedeu. Movida pelo Espírito Santo e guiada pela palavra de Deus, descobriu que toda criação cristã tem  sua pré- historia “Deus nos chama desde o ventre materno” como afirma Jeremias, assim foi a vocação de Maria: foi eleita para ser a mãe do Salvador e a promessa de que Deus nos chama para sermos santos e imaculados diante dele realizou de modo especial em Maria. Se Maria pronunciou um sim, um Fiat, incondicional a palavra de Deus, foi por resposta a todos os dons em sua vida e assim foi agraciada e a Igreja a reconhece como nova Eva.
O mistério da Imaculada Conceição de Maria é o mistério do admirável chamado de Deus e de uma resposta humana.

                    Simbolismo do dogma
A)    Significado cristológico do dogma
Proclama antes de tudo que Cristo é o redentor. Maria foi o protótipo, a primícia da redenção.
A Igreja apresenta uma experiência integral da redenção-salvaçao e isto se realizou de forma paradigmática em Maria por obra do Espírito Santo e de Jesus. Já que Maria viveu sua vocação-anunciaçao em verdadeira comunhão com Jesus seu salvador. Foi, portanto esta comunhão com o Filho e a ação do Espírito Santo que a preservou do pecado.
Esta profunda intimidade com o Filho foi como que um remédio contra todo pecado e uma semente da graça que em Maria foi crescendo.
B)    Significado eclesiológico do dogma
O dogma nos ensina como fomos salvos, não só libertos do pecado, mas, sobretudo preservados.
Maria não foi à única preservada, mas sim a primeira. É a obra mestra da redenção, mas não é a única.
A redenção de Jesus é universal e afeta a todo homem e isso é o que nos indica o dogma.
K. Rahner afirma: “O segundo Adão é muito mais poderoso sobre todo novo ser que nasce que o influxo do primeiro Adão. Batalha entre a graça e o pecado, porém, onde a graça escatologicamente já é vitoriosa”.”Isto vale não somente para os cristãos, mas para todos os homens de boa vontade” (GS 22).
Maria a primeira crente é por isso mesmo “Igreja nascente”. É a Ecclesia immaculata. “Maria é para a Igreja um modelo permanente” (Redemptoris Mater 42).
Assim a Igreja reconhece em Maria a mais perfeita imagem, quando ela diz “sim” a palavra é vista como um exemplo vivo de comunhão com Cristo redentor e com o Espírito Santo.
C)    Significado pneumatologico: Maria a consagrada pelo Espírito Santo.
O dogma expressa ainda que desde o inicio mesmo de sua existência, Maria se viu agraciada pela comunicação do Espírito Santo, sem mérito algum de sua parte e desde aí preservada do pecado original e de qualquer pecado pessoal.
Teria o Espírito Santo a santificado desde o ventre materno desde o primeiro instante de sua concepção. Assim a Igreja afirma que Maria não foi consagrada só no momento da sua anunciação-vocaçao como nos relata Lucas, mas desde o instante de sua concepção. Isto conforme ensina a Igreja se deu de maneira permanente até o fim de seus dias aqui na terra.

Assunção de Maria em corpo e alma ao céu.
                Como no caso do dogma da Imaculada Conceição, o ponto de partida só pode ser a imagem bíblica de Maria, lida e interpretada numa chave unitária.
Sobre a morte ou possível sorte final de Maria não se diz nada no Novo Testamento. Nenhum dos evangelistas teve interesse de narrar algo relacionado aos últimos dias de Maria na terra.
               Já na escatologia do período intertestamentário se admite a possibilidade de ressurreições individuais. No Novo Testamento isso se deu de forma culminante em Jesus Cristo, apesar de São Paulo afirmar que se não há ressurreição dos mortos, tão pouco Cristo ressuscitou, assim Paulo afirma que a ressurreição dos mortos é inicio e fundamento da ressurreição de Jesus.
                 Mesmo diante deste pensamento de não haver ressurreição individual, a Igreja afirma que Maria nova Eva, associada intimamente ao Redentor, é assumida em corpo e alma a gloria, inicia em Maria o ultimo dia. “A Assunção da santíssima virgem constitui uma participação singular na ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos demais cristãos” (Catecismo da Igreja Católica, 966).
A Igreja realiza uma leitura escatológica
A Igreja quando canoniza os seus mártires e santos faz uma leitura escatológica, contemplando a luz do Espírito Santo e da palavra e olhando o exemplo de vida dos crentes, afirma neles o cumprimento das promessas de Deus.
                No caso da Assunção de Maria a Igreja faz algo parecido e não faz isso por uma “nova” revelação e nem por uma descoberta no sentido histórico, mas sim por uma intuição de fé, iluminada pelas promessas de Deus a quem se identifica com o Seu Filho.
                 Diante de tantos questionamentos quanto ao fim de Maria aqui na terra, analisando que Maria foi aquela que nunca esteve do domínio do maligno, que nenhum poder do mal atuou sobre ela, como pode ter sido submetida as forças da morte conseqüência do pecado?
Assim a igreja faz a seguinte reflexão:
Desde que o discípulo amado a acolheu em seu próprio mundo Maria começou a ser parte integrante do universo dos cristãos. Nós a reconhecemos como mãe e exemplo de vida.
Todo o ser de Maria foi vivificado porque Deus realiza essa vivificação-ressuscita todo aquele que tem germes da graça e Maria foi esta que soube amar e cumprir a vontade de Deus em tudo e por isso a igreja reconhece-a como aquela que está junto ao Filho intercedendo por cada um de nós

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