O FILHO DO PAI SE AUTOREVELA
Essa última
perícope do amplo prólogo de Lucas está dividido em cinco blocos:
Cf. Quiasmo da Pág.113
1. Perdido
durante três dias na festa da Páscoa
A família de Nazaré, e
nela o jovem Jesus, aparece como modelo de piedade. Obedecem a lei e sobem em
peregrinação litúrgica a Jerusalém para celebrar a Páscoa. Era, pois, costume
de Maria e de toda sua família celebrar a Páscoa em 14 de Nisán em Jerusalém.
A fuga de Jesus é um ato
profético que prediz a paixão. Os três dias da separação anunciam os três dias
de sua morte. Ambas as cenas acontecem na Páscoa. As palavras de Jesus a seus
pais “porque me buscais?” evocam aquelas dos dois varões às mulheres: “por que
buscais entre os morte aquele que está vivo?” (Lc 24, 5). Na cena do templo a
figura de José fica eclipsada tornando Maria a protagonista.
2. “Nas
coisas do Pai”
As palavras de Jesus constituem
o ponto central da cena: “Por que me buscais? Não sabíeis que eu devo cuidas
das coisas de meu Pai?” Essa frase recebeu diversas interpretações e traduções,
mas seja qual for a tradução, o ponto essencial é a autoproclamação de Jesus
como “Filho do Pai” e como aquele que deve estar com seu Pai no templo.
Certamente estas palavras se pronunciam no templo, propriedade e lugar da
presença do Pai. Não enquanto templo do sacrifício, mas templo do ensinamento
da palavra. Jesus antecipa qual será sua atividade predominante, a que dará
sentido total à sua vida: o serviço à palavra do Pai. A cena indica a
emancipação de Jesus dos laços familiares para dedicar-se e pertencer
exclusivamente a Deus Pai. Neste contexto Maria não é especialmente considerada
enquanto mãe.
Jesus é Filho de Deus Pai. Os
pais de Jesus não compreenderam isso, mas essa falta de compreensão não deve
nos estranhar, pois os discípulos de Jesus só compreenderam isso depois da
ressurreição. Ninguém podia compreender ainda, nem sequer seus pais, mas não
porque não queriam, mas porque o mistério não se tinha revelado.
3. Um Jesus
que desconcerta
Desde sua primeira
manifestação Jesus se desconcerta: manifesta sua sabedoria, mas, ao mesmo
tempo, mostra também sua falta de submissão diante dos pais. No entanto,
desobedecendo a seu pai de Nazaré, obedece na realidade a seu de Jerusalém.
José não é seu pai, disse Jesus. As primeiras palavras de Jesus no Evangelho de
Lucas declaram com toda evidencia qual é sua identidade, sua filiação, sua origem.
Essa genealogia está
situada depois do relato do batismo de Jesus, onde o Pai diz “este é meu filho,
muito amado, nele me compadeço”. A genealogia é como um comentário a essas
palavras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário