sábado, 27 de fevereiro de 2016

A ESCOLA ANTIOQUENA DE ALEXANDRIA E O CONCILIO DE ÉFESO

. ESCOLA DE ALEXANDRIA

Segue mais de perto a filosofia platônica, é adepta da interpretação alegórico-mística da Escrituras e fundamentalmente baseada em Orígenes, Atanásio e Cirilo de Alexandria.
O modelo teológico que aqui se enquadra é o da teologia do Logos; Cristo é apresentado como mediador entre Deus e os homens. É um modelo descendente: o Logos se faz carne, exatamente como se apropria da humanidade completa.
Acentuava a união íntima entre as duas naturezas humana e divina de Cristo. Aqui corre o perigo de que a natureza humana fosse absorvida pela natureza divina. 
Dentro dessa corrente se insere Apolinário de Laodiceia (+ 390), que tendeu a sublinhar preponderantemente a unidade de Cristo, acentuando a natureza divina.
O Logos que se apropria da humanidade desempenharia a função do princípio determinante; o homem estaria emprestando o corpo.
Suas idéias foram condenadas pelo sínodo de Alexandria (362) e Roma (377-382) e pelo Concílio de Constantinopla (581).            
O modelo alexandrino é fundamentalmente temporal: considera o antes e o depois da encarnação. Fala-se de uma teologia interna do próprio Deus: Trindade imanente e econômica.
O Verbo tornado a carne torna-se um único Cristo e o único Filho (conclusão do concílio de Éfeso).
A encarnação do Verbo já se encontra na própria revelação: Jo 1 e Fl 2.
A importância da teologia Alexandrina consiste por ser uma teologia que tem como centro o próprio Cristo: uno e que se humanizou, isto é, que é Filho antes e é Filho depois da fala da geração eterna do Filho. É Filho desde sempre, não passa a ser Filho a partir da encarnação.
Essa teologia vai contra o adocionismo que diz que a filialidade de Cristo se dá em decorrência da função.

2.2. ESCOLA ANTIOQUENA
        
Segue mais de perto a filosofia aristotélica e opta por uma interpretação literal das Escrituras. Sem excluir o uso literal da alegoria, os antioquenos recorriam à filologia e à história.
Os antioquenos defendem a real humanidade de Cristo e por isto defendem as duas naturezas humana e divina em Jesus Cristo.



Em sua exegese bíblica comentou o Pentateuco e os Profetas. Sua interpretação é fundamentalmente tipológica. Ele busca um equilíbrio entre tipologia e literatura.
O método usado era tipológico, alegórico, sem deixar o sentido literal do texto.
Vai escrever com um objetivo: nas controvérsias temos quatro cartas em que apresenta as questões e disputas nestorianas.
Escreve contra Nestório os anátemas e duas apologias, como também escreve contra o imperador Juliano.
Em sua cristologia vai afirmar que em Cristo há uma unidade das duas naturezas ou das duas prosopa, torna-se uma única unidade. Nesse momento temos a obra “Por que Cristo é uma Unidade?”.
O Logos é Filho antes e depois da encarnação, gerado desde sempre e que se encarna unitariamente; se humaniza se faz carne, não deixa de ser o que ele é. Ele é, de fato, o meio de comunicação (doação) da vida divina de Deus aos homens.
A grande dificuldade desta teologia consiste em que depois da união do Verbo homem e homem Verbo (realidade de Cristo – duas naturezas em uma pessoa), existe uma dificuldade de distinção.
A linguagem teológica não dá conta da distinção após a união. Em Calcedônia teremos a formula dessa personalidade: a dimensão humana de Cristo. Já o Concílio de Nicéia quer falar que o homem histórico é Deus. Cristo é Deus.
                      
b) Nestório (428)

Discípulo de Apolinário e depois se tornou bispo de Constantinopla desde 428, antes disso tinha sido monge formado pela escola antioquena.
Seu texto fundamental é o livro de Eraclides. Neste, busca explicação das 2 naturezas de Cristo. Toda a sua teologia está fundada em combater e eliminar todo monofisismo.
Via em Cristo uma pessoa humana unida à pessoa do filho de Deus. Segundo essa sua teoria quem morreu na cruz foi apenas o homem. Falava ainda de “uma união moral” entre as duas naturezas.
Temeroso de ver misturado às duas naturezas em Cristo, mostrou-se contrário ao costume, já comum desde o século IV, de chamar Maria de Teotókos (Mãe de Deus).
Depois de sua condenação no concílio de Éfeso foi exilado em Petra, na Arábia e, depois, para o grande Oásis do Egito, onde viveu durante vinte anos até morrer.

c) As controvérsias entre Cirilo e Nestório

O conflito entre Cirilo e Nestório se originou pela pregação do bispo Nestório conta a denominação de Theotókos (Mãe de Deus) para a mãe de Jesus. Para ele era mais apropriado teologicamente chamar de Crhistotókos (Mãe de Cristo). Contudo, o termo Theotókos era muito usado popularmente e a proposta de Nestório foi vista como escândalo.
Segundo Nestório as duas naturezas eram tão separadas que praticamente eram duas pessoas, negando a união hipostática.
Os conceitos usados por ele irão substituir os dois conceitos que já são claros: Fisis (natureza) e o termo de Usia (substância). Vai usar o termo Prosopon e Hipóstase.
O termo prosopon é a idéia de mascara ou visibilidade tirado do teatro, pois os atores nas tragédias mudam de mascaras. Já o termo hipóstase quer dizer individualidade, particularidade. Esse termo foi usado no âmbito da Trindade. Uma única natureza, única substância.
Tanto Teodoreto de Mopsuéstia como nestório vão ligar o conceito de natureza (conjunto de todas as manifestações, particularidades no sujeito), isto é, em Cristo nós temos duas naturezas e cada uma tem a sua própria individualidade, conjuntos distintivos. Cristo se apresenta com duas prosopon, visibilidade, mas unida em uma mesma hipóstase.
A união das duas naturezas se dá por conjugação, conexão. Com esse termo evitaria a idéia de mistura que desembocaria numa terceira via: inabitação.
Os conceitos tradicionais utilizados pela escola antioquena: inabitação – transitoriedade: uma crítica vai dizer que aqui se trata de uma união superficial.
O que se tem em mente é a questão das duas naturezas. Nestório prefere falar da união em Cristo e não de duas naturezas, de distinções como ponto de partida, isso por ter bem claro que a natureza não encontra a sua concretude individual no ente, hipóstase ou individuo.
 Quando Nestório fala de união, não pode ser entendido senão como mistura. Usa uma expressão, com a preocupação da concretude. É uma união que se dá por condescendência, por complacência.
Na verdade Nestório não vai falar ontologicamente dessa união. Une-se por complacência, por amor. Não fala da razão ontológica da união, pois isso é um puro adocionismo.
A polêmica aumentou quando entrou na discursão Cirilo de Alexandria, que ao ouvir falar dos acontecimentos de Constantinopla escreve uma carta aos monges e bispos do Egito rejeitando a doutrina de Nestório e defendendo o Theotókos.
Cirilo também escreve para Nestório onde insiste sobre a questão da mãe de Deus, aumentando ainda mais a polêmica.
Numa carta alexandrina Maria é afirmada como “Teotókos” e esta fala da unidade das duas naturezas de Cristo segundo a hipóstase. Trata-se de uma união natural que atinge diretamente a natureza e não a uma conjugação como queria Nestório, ou seja, parecia uma união, mas uma união aparente, externa. Nestório não aceita uma comunhão do prosopon, características, intercomunicação das propriedades.
Como usar o termo união das duas naturezas?
Cirilo de Alexandria Tenta explicar que esta união é segundo as duas naturezas, uma união por natureza. Vai juntamente com as provas da Escritura, apresentar as provas patrísticas. Outros  métodos são as provas racionais, Lógica: Escritura, Tradição e razão. Já aqui os argumentos dos Santos Padres vão sendo tomados como fonte de credibilidade.
Nas provas de razão usa o instrumento de Aristóteles: redução ao absurdo. Qual é a Cristologia? É um continuador de Atanásio, a teologia onde o logos é mediador, todo o sofrimento de Cristo só pode ser atribuído à humanidade, à carne, não fala de um sofrimento da alma.
Contra o adocionismo Cirilo insiste em dizer que o verbo se fez homem, e não simplesmente assumiu o homem. Portanto, nada que pareça a idéia de que o verbo desce ao homem preexistente.
Antes da encarnação era separado e depois da encarnação a unidade é de tal forma que é impossível a distinção. O sofrimento está relacionado com a natureza humana. Como Atanásio, não fala em momento algum da alma de Cristo, mas ao mesmo tempo é uma teologia contrária ao adocionismo, insiste em dizer que o verbo se fez homem.
O termo: “tomou habitação” ou “templo”, são termos joaninos – o adocionismo vai entender isto na perspectiva do encarnado. Cirilo não tira as mesmas conclusões da escola antioquena, pois o Verbo era desde sempre e, portanto, Filho de Deus, jamais deixou de ser Filho para se tornar homem. 
Tanto Cirilo como Nestório pedem ao papa Celestino I (422-432) que julgue a questão. Isso foi feito em um sínodo romano de 430, onde Nestório foi condenado e acusado pela negação do nascimento virginal do Senhor e pelo fato de considerá-lo somente um homem. O papa exige de Nestório a retratação pública em um prazo de 10 dias, a partir da notificação.
Cirilo ficou encarregado de aceitar a retratação de Nestório. Mas Cirilo em vez de tentar solucionar o problema com Nestório aumentou a controvérsia. Convocou um sínodo da Igreja Alexandrina onde Nestório também foi condenado, além disso este sínodo formulou um documento que ficou conhecido na história como “Os 12 anátemas de Cirilo de Alexandria”, além de se retratar, Nestório deveria aceitar estes 12 anátemas para não ser condenado.
Contudo, Nestório viu nestes anátemas a teologia apolinarista (única natureza do logos encarnado), já condenada precedentemente, e não aceitou assinar. Para ele as naturezas em Cristo são tão unas que não consegue diferenciar a distinção. Desta forma se endureceram as posições.
Alexandria, na verdade, vai de encontro ao arianismo, condenado outrora em Nicéia (325).

d) Concílio de Éfeso (431)

Sendo convocado pelo imperador Teodósio II, por volta do mês de novembro de 430, o concílio de Éfeso não se dá por conta dos problemas que a Europa está passando.
Em junho de 431 Cirilo se dirige a Éfeso contra o próprio comissário imperial e abre o concílio. Inicialmente estão presentes 150 bispos favoráveis a tese de Cirilo.
Foi presidido pelo patriarca de Alexandria, o bispo Cirilo, defensor da cristologia alexandrina que falava de unidade de natureza, unidade de hipóstase em Cristo.
É lida a segunda carta de Cirilo a Nestório, fortemente nicena e já na primeira sessão o grupo de Nestório não se faz representar, pois ainda não tinha chegado a Éfeso.
Antes mesmo de chegar, Nestório foi condenado e deposto, não só tendo presente as suas teses, mas as do sínodo de Roma; não foi considerado o termo teotókos.
Em 26 de junho chega João de Antioquia com os orientais e não aceita a decisão da presidência de cirilo e na reunião deles depõe Cirilo. O imperador Teodósio se viu obrigado a intervir e anular a decisão de Cirilo. Redige-se um credo mais moderado, mas com o termo teotókos.
Por essa ocasião Cirilo se opõe e o argumento de que se serve é de que essa decisão é verdadeiramente ecumênica.
Em Éfeso vai ter a afirmação que Maria é mãe de Deus (Theotókos). Para Nestório aceitar que uma criatura cria deus é uma idéia ariana. Estavam presentes de 500 a 600 bispos.
Já no séc. I Maria é venerada como mãe de Deus. Maria já era aceita na tradição do povo. Afirma os padres conciliares que Cristo não é um homem que se tornou deus, mas é Deus na pessoa do Filho Unigênito, que assumiu nossa humanidade no seio da Virgem Maria.
Definem como verdade de fé que Jesus é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, as duas naturezas na única pessoa do Verbo eterno, sem confusão, mas, ao contrário, as propriedades de cada natureza permanecem salvas e se reencontram numa única pessoa.
Uma referência teológica se fez presente nestes dois séculos, denominado por isso mesmo de idade de ouro da patrística e a vida da Igreja se tornou pujante em sua dimensão litúrgica, pastoral e monástica.
Tanto Éfeso quanto calcedônia podem ser tratados conjuntamente, pois os dois tratam da questão cristológica. Com relação à calcedônia, como foi acolhido, entendido e colocado em prática? Surgem novas questões como: 1) a dos três capítulos; 2) o monegismo; 3) o monotelismo; 4) a questão Iconoclasta; 5) e o Concílio de Nicéia II.
Tanto Cirilo quanto Nestório querem ser fieis a Nicéia.
Nestório, partindo de Jo1, 14, afirma que o Verbo não pode sofrer. Ele confunde Verbo com divindade, ou seja, confunde a hipóstase com a natureza. A natureza é única que todos têm em comum. Nestório se confunde quando fala que existem duas naturezas e duas pessoas
Cirilo insiste nesta distinção entre natureza e hipóstase.
O imperador toma as duas declarações (antioquena e a do partido ecumênico representado por Cirilo), despede todos os participantes e prende Nestório e Cirilo.
Cirilo consegue escapar e fazer-se reabilitar. O bispo Nestório, por sua vez, retirou-se para um mosteiro, em Antioquia, depois vai para Petra, desaparecendo em um mosteiro no Egito.
Mesmo depois do concílio Nestório continuou a ter muitos defensores, que levaram o seu ensinamento às últimas conseqüências, sustentando a coexistência em Cristo de duas naturezas e duas pessoas (humana e divina), sem união hipostática.
Nesse concílio a unidade da Igreja está interrompida, o imperador percebe que não é possível um acordo das partes. O concílio de Éfeso sob o ponto de vista eclesial é de pouco valor; foi um concílio decidido à base de imposição e de uma única tendência, que é a alexandrina, que chama para se a ortodoxia de Nicéia.
No ano de 431 foi afirmado que a humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde a sua concepção.
Em 433 foi feito um acordo de Cirilo com João de Antioquia com a formula: “nós professamos que a virgem é Mãe de Deus, porque o Verbo divino se tornou carne e homem”; houve uma união de duas naturezas sem mistura.
Em 435 o imperador toma à decisão de quimar todas as obras de Nestório. O acordo revela uma preocupação antioquena, apresenta as duas naturezas mesmo depois da união; ele se serve do termo “união” que é próprio da tendência alexandrina e não aproximação. Reconhece o conceito de Maria “Teotókos”, mas colocando sempre em destaque a dupla condição de Cristo: Homem e Deus.
É Mãe de Deus que se fez homem segundo a carne, mas, sobretudo coloca em destaque que a pessoa de Cristo é única; a mãe não gerou uma duplicidade.
As atas desse concílio não as temos. Somente algumas informações de diversos conpiladores que escreveram sob diferentes pontos de vista. Alguns autores antes de Calcedônia.
Definindo e defendendo a união das duas naturezas em Cristo o concílio também proclamou que Maria se tornou de verdade Mãe de Deus. Não porque o Verbo de Deus tirou dela a sua natureza divina, mas porque é dela que ele tem corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o verbo nasceu segundo a carne.

e) Teodoreto de Ciro
        
Foi um antioqueno, em 425 vai ser bispo de Ciro. Em Éfeso participou do grupo de João de Antioquia e é contrário a condenação de Nestório. Vai ser condenado em 553 no segundo Concílio entre Éfeso e Calcedônia.
Suas Obras: escreveu muitas obras exegéticas, históricas e dogmáticas. A primeira obra é uma impugnação aos doze anátemas de Cirilo contra Nestório; escreveu uma obra sobre a Teologia da Santíssima Trindade e economia da salvação.
Escreveu ainda cinco discursos contra Cirilo e o concílio de Éfeso.
Sua mais importante obra dogmática é contra o monofisismo; sob o ponto de vista exegético é o mais puro representante da escola antioquena, sobretudo pela sua originalidade. Serve-se de seu método, pois estará analisando a própria situação do texto bíblico.
Teodoreto vai retomar as questões mais importantes de Éfeso até Calcedônia. A sua obra mais importante é “Heranistes”, de 447, que diz respeito à controvérsia da dualidade e da distinção radical. Ele vê esta distinção em relação contrária a Eutiques.
Seu Método: fala da analise da atualização do texto (texto bíblico). Todo texto é culturalmente determinado, datado. A primeira preocupação ver as possíveis comparações dos textos, confronto com as diversas versões gregas (versão dos LXX), não só a dos LXX, mas também a Siríaca.
Levanta a questão literária como autenticidade do texto, autor, datação, a gênese da obra, circunstancias históricas, intenções do autor, o estilo do autor, gênero literário. Esse tipo de metodologia se opõe a velha tendência alexandrina que é a alegorização.
O método, diz o autor, deve se adequar à situação em particular, a expressão que é colocada em questão, à dificuldade em questão (pontualizar a questão).
Sua Teologia vai ser uma expressão da intenção de não somente parar na alegorização, mais de ir além, ou seja, ver também o sentido literário e tudo o que é próprio para se fazer analise de um texto.
Seja o Antigo como o Novo Testamento forma uma unidade (contra todo tipo de marcianismo), ver a Escritura como um todo. Todavia, o Antigo Testamento deve ser lido tipologicamente; é também chamada na teologia de Teodoreto, a teoria das duas idades, mas numa profunda indissociável unidade.
As cartas de São Paulo em particular, da escola de Antioquia, são interpretadas todas no sentido cristológico – a encarnação de Cristo como canal da salvação, mas não despreza a alegoria muito mais como qualquer outro antioqueno; está lendo o Antigo Testamento em clave cristológica.  Aquilo que é histórico deve ser visto do ponto de vista histórico. O que há de simbólico aqui (distinção do método) nos textos deve ser interpretado alegoricamente.
Um outro elemento fundamental é recorrer à autoridade dos teólogos, em Teodoreto isso vai tomam importância primordial. Teodoreto ama de modo particular a síntese (mais ou menos aquilo que faz S. Tomás).
A literatura cristológica tanto é feita em sentido literal (histórico, contextual) como é igualmente feita alegoricamente falando (faz uma mediação entre duas linhas de teologia bastante diferente: alexandrina e antioquena).
Cristo é vencedor, a sua mensagem será difundida em toda a terra (teologia de Eusébio de Cesaréia). O que o distancia fortemente da teologia alexandrina é a interpretação de tipo psicológico ou individual. Já Orígenes tem presente que a Escritura tem como razão de ser, formar o homem.
Teodoreto não valoriza a interpretação tipo individual ou psicológico; vai fazer um comentário ao Cântico dos Cânticos da forma mais material possível e menos alegórica. A interpretação que faz do Cântico dos Cânticos é de tudo cristológica, alegórica; fala de tropologia, metáfora (o que vai além do imediato, descobre no símbolo um sentido ulterior, vai além do comum).
Todavia, Teodoreto é o teólogo antioqueno que mais se aproxima da teologia alexandrina, não adere firmemente a letra do texto, mas tira o véu da letra, desvela o sentido interior, qual a intenção do autor ao escrever, pois a Escritura é espiritual, forma o homem.
Teodoreto procura observar as leis que regulam a alegoria, aquelas que devem ser propriamente utilizadas.
A diferença entre Teodoreto e Orígenes: Teodoreto não usa os três níveis de leitura – material, psicológico e espiritual de Orígenes, mas unifica os dois níveis: psicológico e espiritual.
O Antigo Testamento pode ter vários sentidos: sentidos abertos e não fechados. Teodoreto não os aceita. Orígenes propõe em sua exegese uma teologia plural, a escritura pode ser pluralmente alegórica.
Teodoreto diz que o Antigo Testamento não pode ser visto no seu sentido polivalente (critica Orígenes e a visão platônica que tem do mundo).
A sua grande novidade é de retomar de modo mais amplo a própria leitura do Antigo testamento; lê sempre mais de forma cristológica o Antigo testamento.
Todavia, o Novo Testamento como as cartas de Paulo vão ser vistas não somente do ponto de vista simbólico e alegórico, mas literal.
Orígenes diz que o Novo Testamento pode ser visto como alegoria (vinda do definitivo); teodoreto diz que é fundamentalmente literal (o tempo se realizou em Cristo).
É próprio de a exegese antioquena ser precisa nos detalhes e breve no modo de apresentar, quase como uma exposição escolástica (uma teologia sintética).
Obras
“Eranisses ou Polimorfo” – mendicantes ou multiformes: um tratado contra o monofisita Eutiques da teologia alexandrina; por não distinguir as duas naturezas acaba tendendo para uma única natureza. Todos os erros cristológicos atuais podem se reportar a antiga heresia. O monofisismo nada mais é do que uma reapresentação das seguintes heresias:
Gnosticismo: tudo parte de um único principio; Cristo é um espírito de luz; encarnação significa mudança, mutabilidade, deixar de ser, vulnabilidade. O gnosticismo é fortemente dualista.
Arianismo: o Deus assume o homem; uma versão pouco diferente do adocionismo.
Apolinarismo: fala dessa presença do Logos no homem (humano), mas no sentido de que não há uma verdadeira unidade. Não pode haver dois princípios hegemônicos do mesmo ser.
A obra de Teodoreto é um diálogo entre oponentes: um monofisista e um fiel ortodoxo (aquele defende a teologia de Antioquia). Os temas tratados são cristológicos: imutabilidade divina – Deus imutável. O conceito de substância: o homem tem uma formação intelectual sólida. O princípio é todo metafísico.
 Outro tema tratado é a autonomia das duas substâncias duas naturezas que não se misturam. Insisto no aspecto da ausência de paixão, sofrimento, alteração na natureza divina. A novidade é a enorme quantidade de referencias de citações patrística. A patrologia se torna instrumento. No séc. V dar margens à Tradição.
Do ponto de vista histórico escreveu as diversas histórias: a história da Igreja que assume a partir de onde Eusébio de Cesáréia parou. Eusébio tinha escrito até a vitória de Licínio em 334 e Rufino a completou até 395. Outros que deram continuidade á história: Sozomeno e Sócrates.
         Tem um belo livro chamado “História Eclesiástica” onde consegue chegar até 428 (crise nestóriana). Apresenta as heresias sob o ponto de vista teológico. É apologético e anti-herético, de modo especial anti-ariano. Outro livro importante é a “História dos monges Sírios”
Cristologia: As duas naturezas de Cristo são absolutamente perfeitas e autônomas, nenhuma sofre influencia da outra a ponto de ter a sua propriedade alterada. Após a união das duas naturezas existe um único sujeito que age, não são dois sujeitos; as naturezas permanecerão sempre distintas, presentes e inalteráveis. A palavra divina não se torna humano, ela se reveste do humano assumindo a condição de servo.
            Cristo é uma pessoa com identidade própria: duas naturezas, uma humana e outra divina; no início não era o Cristo, mas o logos; o humano e o divino agem no Cristo. Em Cristo não há divisão na vontade; a vontade humana não se opõe à divina. Diferente de Nestório, Teodoreto afirma e defende a Teotókos. É importante a insistência na distinção das duas naturezas e da unidade no mesmo sujeito (base do concílio de Calcedônia).

f) LEÃO MAGNO (440-461)
           
De família nobre, romano. Em 430 

2 comentários: