. ESCOLA DE ALEXANDRIA
Segue mais de perto a filosofia
platônica, é adepta da interpretação alegórico-mística da Escrituras e fundamentalmente
baseada em Orígenes, Atanásio e Cirilo de Alexandria.
O modelo teológico que aqui se
enquadra é o da teologia do Logos; Cristo é apresentado como mediador entre
Deus e os homens. É um modelo descendente: o Logos se faz carne, exatamente
como se apropria da humanidade completa.
Acentuava a união íntima entre as duas
naturezas humana e divina de Cristo. Aqui corre o perigo de que a natureza
humana fosse absorvida pela natureza divina.
Dentro dessa corrente se insere Apolinário
de Laodiceia (+ 390), que tendeu a sublinhar preponderantemente a unidade de
Cristo, acentuando a natureza divina.
O Logos que se apropria da humanidade
desempenharia a função do princípio determinante; o homem estaria emprestando o
corpo.
Suas idéias foram condenadas pelo
sínodo de Alexandria (362) e Roma (377-382) e pelo Concílio de Constantinopla
(581).
O modelo alexandrino é
fundamentalmente temporal: considera o antes e o depois da encarnação. Fala-se
de uma teologia interna do próprio Deus: Trindade imanente e econômica.
O Verbo tornado a carne torna-se um
único Cristo e o único Filho (conclusão do concílio de Éfeso).
A encarnação do Verbo já se encontra
na própria revelação: Jo 1 e Fl 2.
A importância da teologia Alexandrina
consiste por ser uma teologia que tem como centro o próprio Cristo: uno e que
se humanizou, isto é, que é Filho antes e é Filho depois da fala da geração
eterna do Filho. É Filho desde sempre, não passa a ser Filho a partir da
encarnação.
Essa teologia vai contra o adocionismo
que diz que a filialidade de Cristo se dá em decorrência da função.
2.2. ESCOLA ANTIOQUENA
Segue mais de perto a filosofia
aristotélica e opta por uma interpretação literal das Escrituras. Sem excluir o
uso literal da alegoria, os antioquenos recorriam à filologia e à história.
Os antioquenos defendem a real
humanidade de Cristo e por isto defendem as duas naturezas humana e divina em Jesus Cristo.
Em sua exegese bíblica comentou o
Pentateuco e os Profetas. Sua interpretação é fundamentalmente tipológica. Ele
busca um equilíbrio entre tipologia e literatura.
O método usado era tipológico,
alegórico, sem deixar o sentido literal do texto.
Vai escrever com um objetivo: nas
controvérsias temos quatro cartas em que apresenta as questões e disputas
nestorianas.
Escreve contra Nestório os anátemas e
duas apologias, como também escreve contra o imperador Juliano.
Em sua cristologia vai afirmar que em
Cristo há uma unidade das duas naturezas ou das duas prosopa, torna-se uma
única unidade. Nesse momento temos a obra “Por que Cristo é uma Unidade?”.
O Logos é Filho antes e depois da
encarnação, gerado desde sempre e que se encarna unitariamente; se humaniza se
faz carne, não deixa de ser o que ele é. Ele é, de fato, o meio de comunicação
(doação) da vida divina de Deus aos homens.
A grande dificuldade desta teologia
consiste em que depois da união do Verbo homem e homem Verbo (realidade de
Cristo – duas naturezas em uma pessoa), existe uma dificuldade de distinção.
A linguagem teológica não dá conta da
distinção após a união. Em Calcedônia teremos a formula dessa personalidade: a
dimensão humana de Cristo. Já o Concílio de Nicéia quer falar que o homem
histórico é Deus. Cristo é Deus.
b) Nestório
(428)
Discípulo de Apolinário e depois se
tornou bispo de Constantinopla desde 428, antes disso tinha sido monge formado
pela escola antioquena.
Seu texto fundamental é o livro de Eraclides. Neste, busca explicação
das 2 naturezas de Cristo. Toda a sua teologia está fundada em combater e
eliminar todo monofisismo.
Via em Cristo uma pessoa humana unida
à pessoa do filho de Deus. Segundo essa sua teoria quem morreu na cruz foi
apenas o homem. Falava ainda de “uma união moral” entre as duas naturezas.
Temeroso de ver misturado às duas
naturezas em Cristo, mostrou-se contrário ao costume, já comum desde o século
IV, de chamar Maria de Teotókos (Mãe de Deus).
Depois de sua condenação no concílio
de Éfeso foi exilado em Petra, na Arábia e, depois, para o grande Oásis do
Egito, onde viveu durante vinte anos até morrer.
c) As controvérsias
entre Cirilo e Nestório
O conflito entre Cirilo e Nestório se
originou pela pregação do bispo Nestório conta a denominação de Theotókos (Mãe
de Deus) para a mãe de Jesus. Para ele era mais apropriado teologicamente
chamar de Crhistotókos (Mãe de Cristo). Contudo, o termo Theotókos era muito
usado popularmente e a proposta de Nestório foi vista como escândalo.
Segundo Nestório as duas naturezas
eram tão separadas que praticamente eram duas pessoas, negando a união
hipostática.
Os conceitos usados por ele irão
substituir os dois conceitos que já são claros: Fisis (natureza) e o
termo de Usia (substância). Vai usar o termo Prosopon e Hipóstase.
O termo prosopon é a idéia de mascara
ou visibilidade tirado do teatro, pois os atores nas tragédias mudam de
mascaras. Já o termo hipóstase quer dizer individualidade, particularidade.
Esse termo foi usado no âmbito da Trindade. Uma única natureza, única substância.
Tanto Teodoreto de Mopsuéstia como
nestório vão ligar o conceito de natureza (conjunto de todas as manifestações,
particularidades no sujeito), isto é, em Cristo nós temos duas naturezas e cada
uma tem a sua própria individualidade, conjuntos distintivos. Cristo se
apresenta com duas prosopon, visibilidade, mas unida em uma mesma hipóstase.
A união das duas naturezas se dá por
conjugação, conexão. Com esse termo evitaria a idéia de mistura que
desembocaria numa terceira via: inabitação.
Os conceitos tradicionais utilizados
pela escola antioquena: inabitação – transitoriedade: uma crítica vai dizer que
aqui se trata de uma união superficial.
O que se tem em mente é a questão das
duas naturezas. Nestório prefere falar da união em Cristo e não de duas
naturezas, de distinções como ponto de partida, isso por ter bem claro que a
natureza não encontra a sua concretude individual no ente, hipóstase ou
individuo.
Quando Nestório fala de união, não pode ser
entendido senão como mistura. Usa uma expressão, com a preocupação da
concretude. É uma união que se dá por condescendência, por complacência.
Na verdade Nestório não vai falar
ontologicamente dessa união. Une-se por complacência, por amor. Não fala da
razão ontológica da união, pois isso é um puro adocionismo.
A polêmica aumentou quando entrou na
discursão Cirilo de Alexandria, que ao ouvir falar dos acontecimentos de
Constantinopla escreve uma carta aos monges e bispos do Egito rejeitando a
doutrina de Nestório e defendendo o Theotókos.
Cirilo também escreve para Nestório
onde insiste sobre a questão da mãe de Deus, aumentando ainda mais a polêmica.
Numa carta alexandrina Maria é
afirmada como “Teotókos” e esta fala da unidade das duas naturezas de Cristo
segundo a hipóstase. Trata-se de uma união natural que atinge diretamente a
natureza e não a uma conjugação como queria Nestório, ou seja, parecia uma
união, mas uma união aparente, externa. Nestório não aceita uma comunhão do
prosopon, características, intercomunicação das propriedades.
Como usar o termo união das duas
naturezas?
Cirilo de Alexandria Tenta explicar
que esta união é segundo as duas naturezas, uma união por natureza. Vai juntamente
com as provas da Escritura, apresentar as provas patrísticas. Outros métodos são as provas racionais, Lógica: Escritura,
Tradição e razão. Já aqui os argumentos dos Santos Padres vão sendo tomados
como fonte de credibilidade.
Nas provas de razão usa o instrumento
de Aristóteles: redução ao absurdo. Qual é a Cristologia? É um continuador de
Atanásio, a teologia onde o logos é mediador, todo o sofrimento de Cristo só
pode ser atribuído à humanidade, à carne, não fala de um sofrimento da alma.
Contra o adocionismo Cirilo insiste em
dizer que o verbo se fez homem, e não simplesmente assumiu o homem. Portanto,
nada que pareça a idéia de que o verbo desce ao homem preexistente.
Antes da encarnação era separado e
depois da encarnação a unidade é de tal forma que é impossível a distinção. O
sofrimento está relacionado com a natureza humana. Como Atanásio, não fala em
momento algum da alma de Cristo, mas ao mesmo tempo é uma teologia contrária ao
adocionismo, insiste em dizer que o verbo se fez homem.
O termo: “tomou habitação” ou “templo”,
são termos joaninos – o adocionismo vai entender isto na perspectiva do
encarnado. Cirilo não tira as mesmas conclusões da escola antioquena, pois o
Verbo era desde sempre e, portanto, Filho de Deus, jamais deixou de ser Filho
para se tornar homem.
Tanto Cirilo como Nestório pedem ao
papa Celestino I (422-432) que julgue a questão. Isso foi feito em um sínodo
romano de 430, onde Nestório foi condenado e acusado pela negação do nascimento
virginal do Senhor e pelo fato de considerá-lo somente um homem. O papa exige
de Nestório a retratação pública em um prazo de 10 dias, a partir da
notificação.
Cirilo ficou encarregado de aceitar a
retratação de Nestório. Mas Cirilo em vez de tentar solucionar o problema com
Nestório aumentou a controvérsia. Convocou um sínodo da Igreja Alexandrina onde
Nestório também foi condenado, além disso este sínodo formulou um documento que
ficou conhecido na história como “Os 12 anátemas de Cirilo de Alexandria”, além
de se retratar, Nestório deveria aceitar estes 12 anátemas para não ser
condenado.
Contudo, Nestório viu nestes anátemas
a teologia apolinarista (única natureza do logos encarnado), já condenada
precedentemente, e não aceitou assinar. Para ele as naturezas em Cristo são tão
unas que não consegue diferenciar a distinção. Desta forma se endureceram as
posições.
Alexandria, na verdade, vai de
encontro ao arianismo, condenado outrora em Nicéia (325).
d) Concílio
de Éfeso (431)
Sendo convocado pelo imperador Teodósio
II, por volta do mês de novembro de 430, o concílio de Éfeso não se dá por
conta dos problemas que a Europa está passando.
Em junho de 431 Cirilo se dirige a
Éfeso contra o próprio comissário imperial e abre o concílio. Inicialmente
estão presentes 150 bispos favoráveis a tese de Cirilo.
Foi presidido pelo patriarca de
Alexandria, o bispo Cirilo, defensor da cristologia alexandrina que falava de
unidade de natureza, unidade de hipóstase em Cristo.
É lida a segunda carta de Cirilo a
Nestório, fortemente nicena e já na primeira sessão o grupo de Nestório não se
faz representar, pois ainda não tinha chegado a Éfeso.
Antes mesmo de chegar, Nestório foi
condenado e deposto, não só tendo presente as suas teses, mas as do sínodo de
Roma; não foi considerado o termo teotókos.
Em 26 de junho chega João de Antioquia
com os orientais e não aceita a decisão da presidência de cirilo e na reunião
deles depõe Cirilo. O imperador Teodósio se viu obrigado a intervir e anular a
decisão de Cirilo. Redige-se um credo mais moderado, mas com o termo teotókos.
Por essa ocasião Cirilo se opõe e o
argumento de que se serve é de que essa decisão é verdadeiramente ecumênica.
Em Éfeso vai ter a afirmação que Maria
é mãe de Deus (Theotókos). Para Nestório aceitar que uma criatura cria deus é
uma idéia ariana. Estavam presentes de 500 a 600 bispos.
Já no séc. I Maria é venerada como mãe
de Deus. Maria já era aceita na tradição do povo. Afirma os padres conciliares
que Cristo não é um homem que se tornou deus, mas é Deus na pessoa do Filho
Unigênito, que assumiu nossa humanidade no seio da Virgem Maria.
Definem como verdade de fé que Jesus é
verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, as duas naturezas na única pessoa
do Verbo eterno, sem confusão, mas, ao contrário, as propriedades de cada
natureza permanecem salvas e se reencontram numa única pessoa.
Uma referência teológica se fez
presente nestes dois séculos, denominado por isso mesmo de idade de ouro da
patrística e a vida da Igreja se tornou pujante em sua dimensão litúrgica,
pastoral e monástica.
Tanto Éfeso quanto calcedônia podem
ser tratados conjuntamente, pois os dois tratam da questão cristológica. Com
relação à calcedônia, como foi acolhido, entendido e colocado em prática?
Surgem novas questões como: 1) a dos três capítulos; 2) o monegismo; 3) o monotelismo;
4) a questão Iconoclasta; 5) e o Concílio de Nicéia II.
Tanto Cirilo quanto Nestório querem
ser fieis a Nicéia.
Nestório, partindo de Jo1, 14, afirma
que o Verbo não pode sofrer. Ele confunde Verbo com divindade, ou seja,
confunde a hipóstase com a natureza. A natureza é única que todos têm em comum. Nestório se
confunde quando fala que existem duas naturezas e duas pessoas
Cirilo insiste nesta distinção entre
natureza e hipóstase.
O imperador toma as duas declarações
(antioquena e a do partido ecumênico representado por Cirilo), despede todos os
participantes e prende Nestório e Cirilo.
Cirilo consegue escapar e fazer-se
reabilitar. O bispo Nestório, por sua vez, retirou-se para um mosteiro, em Antioquia,
depois vai para Petra, desaparecendo em um mosteiro no Egito.
Mesmo depois do concílio Nestório continuou
a ter muitos defensores, que levaram o seu ensinamento às últimas
conseqüências, sustentando a coexistência em Cristo de duas naturezas e duas
pessoas (humana e divina), sem união hipostática.
Nesse concílio a unidade da Igreja
está interrompida, o imperador percebe que não é possível um acordo das partes.
O concílio de Éfeso sob o ponto de vista eclesial é de pouco valor; foi um
concílio decidido à base de imposição e de uma única tendência, que é a
alexandrina, que chama para se a ortodoxia de Nicéia.
No ano de 431 foi afirmado que a
humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de
Deus, que a assumiu e a fez sua desde a sua concepção.
Em 433 foi feito um acordo de Cirilo
com João de Antioquia com a formula: “nós professamos que a virgem é Mãe de
Deus, porque o Verbo divino se tornou carne e homem”; houve uma união de duas
naturezas sem mistura.
Em 435 o imperador toma à decisão de
quimar todas as obras de Nestório. O acordo revela uma preocupação antioquena,
apresenta as duas naturezas mesmo depois da união; ele se serve do termo
“união” que é próprio da tendência alexandrina e não aproximação. Reconhece o
conceito de Maria “Teotókos”, mas colocando sempre em destaque a dupla condição
de Cristo: Homem e Deus.
É Mãe de Deus que se fez homem segundo
a carne, mas, sobretudo coloca em destaque que a pessoa de Cristo é única; a
mãe não gerou uma duplicidade.
As atas desse concílio não as temos.
Somente algumas informações de diversos conpiladores que escreveram sob
diferentes pontos de vista. Alguns autores antes de Calcedônia.
Definindo e defendendo a união das
duas naturezas em Cristo o concílio também proclamou que Maria se tornou de
verdade Mãe de Deus. Não porque o Verbo de Deus tirou dela a sua natureza
divina, mas porque é dela que ele tem corpo sagrado dotado de uma alma
racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o verbo nasceu segundo a
carne.
e) Teodoreto
de Ciro
Foi um antioqueno, em 425 vai ser
bispo de Ciro. Em Éfeso participou do grupo de João de Antioquia e é contrário
a condenação de Nestório. Vai ser condenado em 553 no segundo Concílio entre
Éfeso e Calcedônia.
Suas Obras: escreveu muitas obras
exegéticas, históricas e dogmáticas. A primeira obra é uma impugnação aos doze
anátemas de Cirilo contra Nestório; escreveu uma obra sobre a Teologia da
Santíssima Trindade e economia da salvação.
Escreveu ainda cinco discursos contra
Cirilo e o concílio de Éfeso.
Sua mais importante obra dogmática é
contra o monofisismo; sob o ponto de vista exegético é o mais puro
representante da escola antioquena, sobretudo pela sua originalidade. Serve-se
de seu método, pois estará analisando a própria situação do texto bíblico.
Teodoreto vai retomar as questões mais
importantes de Éfeso até Calcedônia. A sua obra mais importante é “Heranistes”,
de 447, que diz respeito à controvérsia da dualidade e da distinção radical.
Ele vê esta distinção em relação contrária a Eutiques.
Seu Método: fala da analise da
atualização do texto (texto bíblico). Todo texto é culturalmente determinado,
datado. A primeira preocupação ver as possíveis comparações dos textos,
confronto com as diversas versões gregas (versão dos LXX), não só a dos LXX,
mas também a Siríaca.
Levanta a questão literária como
autenticidade do texto, autor, datação, a gênese da obra, circunstancias
históricas, intenções do autor, o estilo do autor, gênero literário. Esse tipo
de metodologia se opõe a velha tendência alexandrina que é a alegorização.
O método, diz o autor, deve se adequar
à situação em particular, a expressão que é colocada em questão, à dificuldade
em questão (pontualizar a questão).
Sua Teologia vai ser uma expressão da
intenção de não somente parar na alegorização, mais de ir além, ou seja, ver
também o sentido literário e tudo o que é próprio para se fazer analise de um
texto.
Seja o Antigo como o Novo Testamento
forma uma unidade (contra todo tipo de marcianismo), ver a Escritura como um
todo. Todavia, o Antigo Testamento deve ser lido tipologicamente; é também
chamada na teologia de Teodoreto, a teoria das duas idades, mas numa profunda
indissociável unidade.
As cartas de São Paulo em particular,
da escola de Antioquia, são interpretadas todas no sentido cristológico – a
encarnação de Cristo como canal da salvação, mas não despreza a alegoria muito
mais como qualquer outro antioqueno; está lendo o Antigo Testamento em clave
cristológica. Aquilo que é histórico
deve ser visto do ponto de vista histórico. O que há de simbólico aqui
(distinção do método) nos textos deve ser interpretado alegoricamente.
Um outro elemento fundamental é
recorrer à autoridade dos teólogos, em Teodoreto isso vai tomam importância
primordial. Teodoreto ama de modo particular a síntese (mais ou menos aquilo
que faz S. Tomás).
A literatura cristológica tanto é
feita em sentido literal (histórico, contextual) como é igualmente feita
alegoricamente falando (faz uma mediação entre duas linhas de teologia bastante
diferente: alexandrina e antioquena).
Cristo é vencedor, a sua mensagem será
difundida em toda a terra (teologia de Eusébio de Cesaréia). O que o distancia
fortemente da teologia alexandrina é a interpretação de tipo psicológico ou
individual. Já Orígenes tem presente que a Escritura tem como razão de ser,
formar o homem.
Teodoreto não valoriza a interpretação
tipo individual ou psicológico; vai fazer um comentário ao Cântico dos Cânticos
da forma mais material possível e menos alegórica. A interpretação que faz do
Cântico dos Cânticos é de tudo cristológica, alegórica; fala de tropologia,
metáfora (o que vai além do imediato, descobre no símbolo um sentido ulterior,
vai além do comum).
Todavia, Teodoreto é o teólogo
antioqueno que mais se aproxima da teologia alexandrina, não adere firmemente a
letra do texto, mas tira o véu da letra, desvela o sentido interior, qual a
intenção do autor ao escrever, pois a Escritura é espiritual, forma o homem.
Teodoreto procura observar as leis que
regulam a alegoria, aquelas que devem ser propriamente utilizadas.
A diferença entre Teodoreto e
Orígenes: Teodoreto não usa os três níveis de leitura – material, psicológico e
espiritual de Orígenes, mas unifica os dois níveis: psicológico e espiritual.
O Antigo Testamento pode ter vários
sentidos: sentidos abertos e não fechados. Teodoreto não os aceita. Orígenes
propõe em sua exegese uma teologia plural, a escritura pode ser pluralmente
alegórica.
Teodoreto diz que o Antigo Testamento
não pode ser visto no seu sentido polivalente (critica Orígenes e a visão
platônica que tem do mundo).
A sua grande novidade é de retomar de
modo mais amplo a própria leitura do Antigo testamento; lê sempre mais de forma
cristológica o Antigo testamento.
Todavia, o Novo Testamento como as
cartas de Paulo vão ser vistas não somente do ponto de vista simbólico e alegórico,
mas literal.
Orígenes diz que o Novo Testamento
pode ser visto como alegoria (vinda do definitivo); teodoreto diz que é
fundamentalmente literal (o tempo se realizou em Cristo).
É próprio de a exegese antioquena ser
precisa nos detalhes e breve no modo de apresentar, quase como uma exposição
escolástica (uma teologia sintética).
Obras
“Eranisses ou Polimorfo” – mendicantes
ou multiformes: um tratado contra o monofisita Eutiques da teologia
alexandrina; por não distinguir as duas naturezas acaba tendendo para uma única
natureza. Todos os erros cristológicos atuais podem se reportar a antiga
heresia. O monofisismo nada mais é do que uma reapresentação das seguintes
heresias:
1ª Gnosticismo: tudo
parte de um único principio; Cristo é um espírito de luz; encarnação significa
mudança, mutabilidade, deixar de ser, vulnabilidade. O gnosticismo é fortemente
dualista.
2ª Arianismo: o Deus
assume o homem; uma versão pouco diferente do adocionismo.
3ª Apolinarismo: fala
dessa presença do Logos no homem (humano), mas no sentido de que não há uma
verdadeira unidade. Não pode haver dois princípios hegemônicos do mesmo ser.
A obra de Teodoreto é um diálogo entre
oponentes: um monofisista e um fiel ortodoxo (aquele defende a teologia de
Antioquia). Os temas tratados são cristológicos: imutabilidade divina – Deus
imutável. O conceito de substância: o homem tem uma formação intelectual
sólida. O princípio é todo metafísico.
Outro tema tratado é a autonomia das duas
substâncias duas naturezas que não se misturam. Insisto no aspecto da ausência
de paixão, sofrimento, alteração na natureza divina. A novidade é a enorme
quantidade de referencias de citações patrística. A patrologia se torna
instrumento. No séc. V dar margens à Tradição.
Do ponto de vista histórico escreveu
as diversas histórias: a história da Igreja que assume a partir de onde Eusébio
de Cesáréia parou. Eusébio tinha escrito até a vitória de Licínio em 334 e
Rufino a completou até 395. Outros que deram continuidade á história: Sozomeno
e Sócrates.
Tem
um belo livro chamado “História Eclesiástica” onde consegue chegar até 428
(crise nestóriana). Apresenta as heresias sob o ponto de vista teológico. É
apologético e anti-herético, de modo especial anti-ariano. Outro livro
importante é a “História dos monges Sírios”
Cristologia: As duas naturezas de Cristo são absolutamente perfeitas e
autônomas, nenhuma sofre influencia da outra a ponto de ter a sua propriedade
alterada. Após a união das duas naturezas existe um único sujeito que age, não
são dois sujeitos; as naturezas permanecerão sempre distintas, presentes e
inalteráveis. A palavra divina não se torna humano, ela se reveste do humano
assumindo a condição de servo.
Cristo é
uma pessoa com identidade própria: duas naturezas, uma humana e outra divina;
no início não era o Cristo, mas o logos; o humano e o divino agem no Cristo. Em
Cristo não há divisão na vontade; a vontade humana não se opõe à divina.
Diferente de Nestório, Teodoreto afirma e defende a Teotókos. É importante a
insistência na distinção das duas naturezas e da unidade no mesmo sujeito (base
do concílio de Calcedônia).
f) LEÃO MAGNO
(440-461)
Excelente estudo de teologia da história do cristianismo...
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