DOUTRINAS DE SANTO
AGOSTINHO
a) Escritos Exegéticos
Agostinho não compreendia o hebraico, mas era capaz de
traduzir textos gregos, com dificuldades. A melhor tradução latina da Bíblia
para ele era a chamada “Ítala”. Serviu-se da “Vulgata” de Jerônimo.
Parece ter revisto para uso pessoal, textos vétero e
neotestamentários, apoiando-se nos LXX. Os critérios para se fazer uma boa
exegese é, antes de tudo, a autoridade da Igreja, diz Agostinho.
Com relação ao
bispo vai dizer que é uma figura normativa para a interpretação da
Escritura. As diversas ciências do ponto de vista formal: gramática, história,
filosofia, lógica, a ciência da natureza, a retórica e a dialética (são
ciências ditas como uma forma clássica).
Sobre os Salmos vai dar uma interpretação essencialmente
cristológica; é uma das únicas obras completas de toda a Patrística.
Critério exegético: todo o Cristo fala na Escritura, em
toda sua dimensão, cada passagem é dirigida ao próprio Cristo e fala da pessoa
de Cristo. Que critério é esse? O Cristo Filho de Deus, Filho do Homem, o
Cristo como Igreja (pré-existente existente e presente).
Os 4 livros “De doctrina Chistiana”: 1-3, 24 escritos em 396-407
e somente terminados em 426. Restringe-se no sentido literal da Bíblia.
Introduzem ao estudo da Bíblia.
Os livros de 1-2: preparação científica tanto profana
quanto teológica.
O livro 4º: trata de homilética. Contudo, Agostinho,
nesta obra, faz uma síntese entre a cultura antiga e a teologia cristã.
Fez também um belíssimo comentário ao Evangelho de São João.
Sai da alegoria e apresenta Cristo Como Filho de Deus.
b) Teologia Agostiniana
Do ponto de vista teológico é um
grande observador e seguidor de São Paulo.
Do ponto de vista da história do
pensamento e da civilização, não é do gênero das que conhecemos desde a
escolástica. Não se situa no declínio da cultura antiga.
c) Visão Sacramentária
Do ponto de vista sacramental
Agostinho vai de encontro aos donatistas, pois estes não aceitam os sacramentos
ministrados por ministros indignos, de modo especial o batismo. Para Donato e
seus seguidores aquele que foi batizado por um ministro indigno deve ser
rebatizado.
Agostinho vai defender a ação
sacramentaria, afirmando não ser uma ação subjetiva e que o ministro age “na
pessoa de Cristo”. É dele também a expressão “Ex opere operato”, ou seja, o
sacramento contém e confere a graça. Age por si só.
d) Visão Eclesiológica
Desenvolve sua eclesiologia, na obra
sobre a unidade da Igreja: “De unitate Ecclesiae”. Nesta trata da
intangibilidade e santidade da Igreja. Ela é o corpo místico de Cristo.
Corpo misto por ter seus membros que,
por sua vez, são pecadores a caminho da santificação. A Igreja em peregrinação
sempre será mista.
A Igreja ainda é Uma e Universal. É
unida pela comunhão dos santos.
É na precariedade humana que se
manifesta a comunhão com os justos e com os predestinados. A Igreja é uma tríplice
via: peregrina, triunfante e padecente.
e) Doutrina da graça
Com relação à graça Agostinho vai
dizer que ela ajuda e favorece a liberdade humana, para que possa se exprimir
verdadeiramente e não seja condicionada.
Sem o elemento da graça não existe uma
liberdade completamente livre.
Para Agostinho não há uma ruptura
entre liberdade e graça. A graça não oprime a liberdade, antes é dinâmica e se
adapta às condições reais da pessoa. Ela pode crescer.
A graça é o elemento que suscita,
desperta, favorece a fé: “início fidei”. É o próprio bem. O bem maior da
liberdade humana. O bem maior do homem é a escolha de Deus.
O verdadeiramente livre é aquele que
age segundo a graça e vontade de Deus, ou seja, segundo o seu plano de
salvação.
Por si mesma ou deixada em si mesma,
isto é, dependente de Deus, a liberdade termina em um absoluto relativismo
ético; ela a deriva.
Para os pelagianos o pecado de Adão
era só um mau exemplo. Agostinho vai dizer que é muito mais que uma propaganda
por meio da concupiscência.
O homem tem necessidade da graça de
Deus para reconquistar a sua codificação primeira, ao seu estado inicial.
A natureza do homem é impotente diante
daquilo que o pecado causou. Daí a graça ajuda a libertar, em sua ação
dinâmica, gerando o processo de libertação do mal.
Para Pelágio a graça é uma ajuda
externa à liberdade, concedida ao homem:
1º no ato da própria criação.
2º) na revelação por meio dos
mandamentos.
3º) por meios dos modelos oferecidos e
garantidos pelo próprio Deus.
Portanto, como conseqüência, ninguém
pode exercer os sacramentos, pois os sacramentos em si não são portadores e
instrumentos da graça de Deus.
f) Cristologia
Antes de Éfeso (431) e Calcedônia
(451), Agostinho ensina: “em Cristo há duas naturezas (substancias); ele é Deus
e homem, mas uma só pessoa, um só Cristo”.
Nas Confissões o Homem Jesus é o
mediador da salvação (teologia da mediação). Cristo é preexistente e assume
absoluta e perfeitamente toda a humanidade, contra toda forma apolinarista. É o
Homem completo: sente, pensa, nasce se desenvolve, e morre. É o Cristo humano e
divino, o Cristo total.
O objetivo de Agostinho, na Escritura,
é formar Cristo no homem; trata de uma questão antropológica.
Em Cristo se encontram as duas
naturezas em uma única pessoa. Cristo é o único sujeito a quem se atribui os
ditos, fatos e as ações de homem Jesus no homem Jesus. É ele verdadeiramente o
filho de Deus. Nele todas as características das duas naturezas: divina e
humana se interconexam pessoalmente, indissoluvelmente.
Em Cristo total é Deus que nasce e
morre. O Verbo de Deus não está na carne, mas ele se faz carne, isto é, se faz
homem na sua totalidade.
Para Agostinho a maior realidade para entender
a analogia da divindade e humanidade de Jesus, é a partir do próprio homem,
como uma realidade mista e perfeita: corpo e alma.
A conjugação Jesus Cristo é a própria
salvação. Ele deve ser entendido com um nome próprio e com uma função: ser
Salvador. É Cristo o mediador por excelência entre Deus e o homem, superando o
abismo dessas duas realidades.
Como mediador Cristo não assume uma
semelhança humana, mas se torna verdadeiramente humano por humildade. Ele
assume essa humanidade não de maneira teofânica, por serem essas passageiras,
mas de forma real: Cristo da fé e o Cristo da história.
g) Mariologia
Ensina de modo inequívoco a virgindade
perpétua de Maria, também no parto, e afirma a fé em sua isenção do pecado
original.
h) Soteriologia
À semelhança de Orígenes e outros
Padres, concebe a Redenção no sentido de que Cristo, por sua morte, haja
suprimido certo direito que satanás teria tido sobre nós, por causa do pecado
de adão.
i) Santíssima Trindade
Existia no Norte da África um bispo de
nome Aurélio que juntamente com Agostinho realizavam vários sínodos para
organizar a Igreja contra as heresias e a ignorância do clero.
A obra “De trinitate” foi dedicada a esse bispo amigo.
Deus é apresentado como um Deus em si
absolutamente simples. As pessoas divinas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo se
identificam igualmente com a natureza divina. A Trindade não é um outro, pois
todos se identificam com a natureza mesma.
No AT já havia imagens da Trindade: os
anjos no Carvalho de Mambré, nos objetos sagrados, nas carnes separadas e
colocadas sobre o altar e consumida pelo fogo etc.;
Já no NT a Trindade se manifesta na
pessoa real de um homem. É uma pessoa concreta: Jesus Cristo; filho do Pai,
gerado no Espírito e movido pelo mesmo Espírito.
As três pessoas são eternas e agem
complexivamente porque têm o ser em si mesmo. Eterna para Agostinho significa
que o ser e a existência se confundem com a sua própria essência.
Deus é ser em si, imutável,
consubstancial. É igual em si mesmo, mas não se confunde. Não há uma modalidade
em Deus, mas uma distinção real entre as três pessoas. Essa distinção não se dá
naquilo que são em si mesmo, mas na relação (Pericorese). Relação essa que não
é ocasional, acidental e por tanto, não é uma relação mutável.
Deus é pai e nunca deixa de sê-lo.
Cristo é filho e não assume o ser pai. O Espírito é dom, entrega e relação; é
amor, como elo entre o amante e o amado.
O que distingue o Espírito Santo é o
fato de ele proceder do Pai e do Filho. Essa processão é própria do Espírito.
Do Pai o Espírito recebe a divindade e
o Pai concede ao Filho poder ser origem do Espírito. Essa processão é como amor
e não como geração.
As fontes que Agostinho vai tomar:
Tertuliano, que, à sua semelhança, concebe a geração do Filho como ato de
pensamento do Pai; o Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, é o amor
mútuo entre ambos e esse amor é uma pessoa (fala de três pessoas da mesma
substância); Novaciano, Hilário de Poitiers (lado Ocidental), Mario Vitorino
(contemporâneo de Santo Ambrósio), Orígenes, na sua obra “os princípios”.
A grande novidade na teologia
trinitária é: A Trindade é uma unidade indivisa e em todos os momentos Deus age
trinitáriamente, ou seja, a ação é trinitária: “façamos o homem à nossa imagem
e semelhança”.
Quanto a formula há uma só substância
em três pessoas.
Para Agostinho não é satisfatória, pois
a idéia de pessoa pode dar a entender a individualização e não a relação.
Todavia, ele aceita essa terminologia por não encontrar uma outra. Ele vai usar
a imagem humana. O homem como uma realidade interior. Esse homem interior é
imagem da Trindade.
O homem interior, antes de qualquer
coisa, é memória, inteligência e vontade. Uma memória operativa que torna realizável
as coisas por meio da vontade que Agostinho vai dizer que é o amor.
Portanto, o homem reúne em si
ontologicamente a possibilidade de conhecer o próprio Deus porque é imagem do
Deus vivo.
j) Prova da Existência de Deus
Conhece a prova deduzida da aspiração
dos homens à felicidade; bem como a prova histórica da existência de Deus.
A consideração da mutabilidade das
coisas deste mundo há de levar o homem ao conhecimento de sua natureza de
criatura.
Agostinho usa o argumento de
existência das mais sublimes verdades objetivas, é mutável e universalmente
válida, de ordem lógica, matemática, ética e estética que repousam no espírito
humano. A existência dessas verdades seria inexplicável se não se admitisse uma
verdade essencial, idêntica como o próprio Deus, que contém todas as verdades
particulares.
l) Doutrina da Criação
É determinante a idéia bíblica da
criação e a teoria de Platão acerca da formação do mundo e das razões seminais.
Da matéria primitiva, criada por Deus
do nada, desenvolveram-se em virtude das forças seminais nelas depositadas, os
diferentes seres do mundo empírico.
m) Doutrina do Pecado Original
Elucidou com clareza e precisão o
caráter de culpa inerente ao pecado de Adão, transmitido a todos os homens. O
pecado original é um “peccatum”, ao mesmo tempo em que “poena peccati”.
Agostinho comprova o pecado original
principalmente por Rm 5,12: relaciona o “in quo (omnes peccaverunt).” ao “per
unum hominem” (que precede), portanto, Adão.
O pecado é transmitido de geração em
geração pela concupiscência carnal, visto que os filhos são gerados pela ação
da concupiscência dos pais.
A essência do pecado pertence à
concupiscência carnal, que é o pecado e ao mesmo tempo pena pelo pecado.
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