COMO FOI ESTABELECIDA A FUNÇÃO DE MARIA NO PROJETO DE
SALVAÇÃO?
1.
Doutrina tradicional sob a mediação de Maria.
A doutrina tradicional sobre a
mediação de Maria, poderia resumir-se em três pontos.
Primeiro:
Cristo Jesus é o mediador entre Deus e os homens por excelência, como causa
principal. Maria é mediadora por analogia, como causa secundária. Ela coopera
com Cristo tanto no ato redentor como na acolhida da ação redentora por parte
de cada indivíduo.
Segundo:
A mediação universal de Maria é a missão que ela tem de solicitar a Deus todo
tipo de graças (temporais e eternas) e distribui-las entre os homens. Divergem
os mariológos em explicar se esta missão de Maria é devida a um influxo moral
que ela exerce sobre Deus ou a um influxo físico-instrumental, enquanto que
Deus se serve de Maria para conceder aos homens sua graça.
Terceiro:
Maria intercede pelos homens para obter-lhes a graça de Deus; e mais, ela,
enquanto corredentora, atua na aplicação destas graças a cada um dos homens.
2.
MEDIAÇAO DE MARIA NO VATICANO II.
O Vaticano II
se deteve mais na maternidade espiritual de Maria, entendida já não só como
cooperação histórica no acontecimento histórico salvífico, se não como
permanente intercessão em favor dos homens que vai desde a assunção ao céu até
a perpetua coroação dos eleitos.
A função de
Maria se funda na mediação de Cristo, depende dela, está subordinada a ela,
dela obtém toda a sua eficácia.
II. TEOLOGIA DA MEDIAÇÃO: ALGUNS
ASPECTOS.
- A MEDIAÇÃO RELIGIOSA.
Próprio da categoria de mediação é também, segundo as religiões, unir o
que está separado, Deus e o homem. Mediação é re-união. Mediador é aquele que,
em nome e por encargo de Deus, efetua a reconciliação. Sua função não consiste
em salvar a Deus da irreconciliaçao, do distanciamento do homem, por que Deus
mesmo tem a iniciativa da ação mediadora: Deus é o sujeito e não o objeto da
mediação; ele não necessita reconciliar-se com o homem; ele é que pede ao homem
que se reconcilie com ele. Mediador é como o sacramento de Deus, que quer
reconciliar o homem consigo.
- JESUS CRISTO MEDIADOR.
Deus se revela a nos e nos reconcilia com ele através do único
mediador, Jesus Cristo. Deus é sempre aquele que atua e o mediador é aquele
através de quem ele atua. Jesus Cristo representa, pois a Deus ante o homem;
mas também o homem ante Deus.
A salvação nos chega através do seu ser filial, através de sua relação
de filho com Deus Pai, levada a sua culminação no acontecimento pascal; e
através de seu ser fraternal e diaconal, que chega a si mesmo a sua plenitude
quando morreu e ressuscitou por nós.
3- NO ESPÍRITO
SANTO.
Jesus não exerce sua função de mediador autonomamente. Sem o Espírito,
Jesus não seria o mediador. Jesus chega a ser enquanto atua como mediador,
graças ao Espírito. A humanidade de Jesus é mediadora enquanto tem a unção do
Espírito.
A auto-revelação do Pai se completa em outra forma de revelação, que é
a efusão do Espírito Santo sobre o Filho. Deus Pai atua através de sua mãos, o
Verbo e o Espírito.
Quando o Filho concluiu sua kénosis na glorificação total e na
ascensão, então concluiu a kénosis no Espírito e se produziu o Pentecostes.
Assim como o Pai enviou o Filho pelo Espírito Santo per Spiritum Sanctum na
encarnação, do mesmo modo o Filho enviou aos apóstolos per Spiritum Sanctum
comunicando-lhes seu Espírito.
4- O ESPÍRITO
COMO MEDIAÇAO.
A função mediadora do Espírito é estruturalmente diferente da de Jesus
Cristo. O espírito não se fez homem como Jesus. É o Espírito de Jesus e é nosso
Espírito. O mesmo em
todos. O Espírito não interfere na mediação de Cristo, leva-a
a sua plenitude.
5- ECCLESIA
MEDIATRIX.
B- A Igreja,
sacramento do único Mediador e da única mediação.
A mediação da Igreja é sacramento da mediação única de Jesus. É a
mediação da Esposa que forma um só corpo com a Esposa. A Igreja é
autenticamente a Igreja de Jesus Cristo quando toda ela é reflexo da única
mediação, quando toda sua luz é só o reflexo da luz das Gentes que é Cristo.
Por instituição de Jesus, o mediador, os elementos constitutivos da
Igreja se convertem em
mediações. Entre as diversas mediações eclesiais, os
sacramentos ocupam um lugar eminente, pois neles está comprometido todo o ser
da Igreja e manifestam com a máxima transparência o único Mediador.
A Igreja é o sacramento do Único Mediador e a única Mediação
espiritual.
Esta mediação espiritual se faz particularmente efetiva na “communio
sanctorum”, que tem seu âmbito privilegiado na Igreja triunfante ou
glorificada.
C- A
mediação da Igreja triunfante.
O ponto de partida é a afirmação da função permanente do Senhor
Ressuscitado como mediador: Cristo levantado ao alto da terra, atrai a si os
homens; está sentado a direita do Pai e “sem cessar atua no mundo para conduzir
os homens a sua Igreja e por ela uni-los a si mais estreitamente e, alimenta-los
com o seu próprio Corpo e Sangue, faze-los participes de sua vida gloriosa”.
(LG 48).
Os que são assumidos na gloria do Senhor, exercem sobre nós um influxo
benéfico através de sua permanente intercessão a Deus. “Os que chegaram já à
pátria e gozam da presença do Senhor, por Ele, com Ele, e nEle não cessam de
interceder por nós diante do Pai”. (LG 49).
Os santos, as santas, são para nós, os crentes, símbolos mediante os
quais Deus se manifesta e se faz presente entre nós. São os ícones vivos de
Deus. Através deles Deus Pai nos fala, nos manifesta seu reino, nos atrai para
ele, nos une e identifica com Jesus Cristo.
II-
MARIA, PARADIGMA DA MEDIAÇAO DE JESUS CRISTO, DO
ESPIRITO E DA IGREJA.
1- A CHAVE
CRISTOLÓGICA: EXPRESSÃO, SIMBOLO DA MEDIAÇÃO DE CRISTO.
Sem Jesus, Maria haveria sido como um broto cortado da vida, como uma
escrava sem redentor, como um ventre materno sem fruto, como uma mulher sem
graça de Deus.
2- A CHAVE
PNEUMATOLÓGICA: MARIA TRANSPARÊNCIA DO ESPÍRITO- MEDIAÇÃO.
A descida do Espírito Santo na sua anunciação não se reduz, pois, à sua
concepção e dar a luz; depois da concepção, Maria não ficou privada da graça. O
Espírito Santo “não a abandonou depois do nascimento de Cristo, senão que
permaneceu com ela por todos os séculos e com toda a força da anunciação. Por
isso, sua dei-maternidade, sua relação com o Verbo Encarnado, dura também
eternamente”. (Bulgakov).
A presença de Maria no Pentecostes Eclesial revela a profunda e intima
sintonia que se estabeleceu entre Maria, os doze e todos os demais crentes.
Mas Maria não é equiparada ao Espírito no aspecto da mediação. Maria
tem acesso ao Pai por Cristo graças a mediação do único Espírito (Ef 2, 18).
Maria não pode ser mãe, discípula de Jesus por si mesma: só mediante o
Espírito. Maria nunca é uma pessoa entre muitas pessoas; não habita
imediatamente nos outros; não é “o nós” de onde se realiza o encontro com Deus
e os homens. Não teremos acesso imediato a ela, a glorificada, a não ser
“mediante o Espírito e mediante Jesus o Senhor”. Não é equiparada a função de
“advocatus” (Paráclito) do Espírito e a função de “advocata” de Maria; “a
intercessão de Maria só pode ser concebida na dependência da do Espírito Santo,
enquanto este é a mediação que se comunica a si mesma, e em subordinação
absoluta a uma última”.(H. Muhlen).
A função materna de Maria de maneira alguma obscurece, diminui a
dimensão do Espírito, se não que é um sinal de seu poder; e ela depende em tudo
do Espírito.
3- MARIA,
SÍMBOLO DA MEDIAÇÃO DE CRISTO E O ESPÍRITO.
Maria é a mediadora enquanto símbolo de mediação, e enquanto símbolo
ela abre um espaço de mediação. Trata-se, evidentemente de um símbolo pessoal,
que estabelece um tipo de relação autônoma com o simbolizado, diferente do
símbolo material, que é pura passividade.
A mediação Mariana não é um complemento da única mediação de Cristo e
do Espírito. É seu símbolo. Qual é a identidade teológica desta mediação? Maria
é mediadora como o é a Igreja. É mediadora da Igreja triunfante.
4- MARIA E A
MEDIAÇÃO DA IGREJA.
O Concílio se preocupa em ressaltar a diferença essencial existente
entre a mediação própria de Cristo e a mediação de Maria (LG 62). A Igreja não
duvida em atribuir esta função subordinada à Maria (LG 62).
A mediação de Maria é, pois, mediação participada. Dentro da Igreja se
dão diferentes modos, inclusive essencialmente distintos, de participar da
mediação, tal como sugere a comparação conciliar ao comparar a mediação com o
sacerdócio de Cristo.(LG 10).
Maria ocupa um lugar único na Igreja em sua condição de mãe-virgem de
Jesus, primeira crente e mãe espiritual do discípulo amado.
Maria é a
imagem original e o centro pessoal da Igreja-Esposa, é a esposa arquétipica de
Cristo, por isso pode ser denominada mãe e esposa espiritual do Filho.
Quando Maria, na cruz e no pentecostes se converte em Igreja, conclui e
coroa seu caminho de cumprimento da vontade do Pai, de seguimento de Cristo e
de docilidade do Espírito.
IV- A NOVA EVA E O MISTÉRIO DE SUA MATERNIDADE
ESPIRITUAL.
1-
A NOVA EVA?
Meu ponto de vista é que quando Irineu e os demais Padres da Igreja
descobrem em Maria a nova Eva e assinam a função no ministério da salvação,
estão fazendo referencia a um esquema de fundo mítico. Com ele indicam que a
salvação deve ser total, holística.
Todos estão chamados a colaborar na salvação que tem como protagonista
principal o novo Adão, aquele que recapitula a toda a humanidade, masculina e
feminina. Mas homens e mulheres, na medida em que seguimos a Jesus, entramos em
comunhão de vida com Ele, colaboramos em sua ação salvífica. Maria foi a
primeira e a mais excelente colaboradora. O foi com sua maternidade física e na
fé. Mas não foi a única. Ela representa o melhor da Igreja. Mas atrás dela
estão todos aqueles e aquelas que se associam a Jesus e com Ele se entregam à
salvação do mundo.
2-
MARIA, MÃE ESPIRITUAL.
A maternidade espiritual é maternidade
no Espírito. Na Igreja falamos de “pai espiritual”, mãe espiritual”. É verdade
que Jesus nos pediu que não chamássemos pai a ninguém na terra, pois só temos
um Pai: o do céu.
Quando falamos de maternidade ou paternidade
espirituais, estamos referindo-nos a um fenômeno espiritual, que tem o Espírito
como protagonista, e na pessoa a que nos referimos, seu instrumento, sua
mediação. O Espírito Santo é a alma da Igreja, de todo novo nascimento
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