domingo, 28 de fevereiro de 2016

O CONCÍLIO VATICANO I (08-12-1869)

O CONCÍLIO VATICANO I (08-12-1869)

a) A Situação do Século XIX

Causas – desde o início de seu pontificado, Pio IX tinha se esforçado por promover uma restauração geral da sociedade cristã, pondo em evidencias, contra o laicismo que se alastrava, a corrupção causada pelo pecado original e a necessidade de uma ajuda sobrenatural. Com essa finalidade fora proclamado em 1854 o dogma da Imaculada Conceição, e com a mesma finalidade fora publicado o Syllabus e a Quanta Cura, uma sessão ordinária da Congregação dos Ritos, Pio IX, tendo feito sair os que não eram cardeais, interrogou os presentes sobre a oportunidade de convocar um concílio ecumênico. O dogma de 1854, o Syllabus de 1864, o Concílio de 1869, constituem, portanto três momentos sucessivos, mas estreitam conexos de uma idêntica campanha: realizar contra o racionalismo teórico e prático do século XIX o que o tridentino tinha realizado contra o protestantismo do século XVI.
Preparação – o concílio foi anunciado dia 29 de junho de 1867, durante as festas pelo centenário do martírio de São Pedro. Um ano depois ele foi oficialmente convocado com a bula “AETERNI PATRIS”, e aberto, de fato, no dia 08-12-1869.
Foram convocados ao concílio os cardeais, os bispos residenciais e os titulares, os superiores gerais das ordenas religiosas, os abades, os superiores das congregações monásticas, a todos foi dado o voto deliberativo, como aconteceu em Trento. Por vontade do papa, na bula de convocação não se fez nenhum convite às autoridades civis, embora, no último momento, tenha sido inseridas algumas palavras que tornavam possível uma cooperação dos governos nos trabalhos do concílio.
Logo depois do anuncio oficial do concílio foram formadas algumas comissões para preparar os trabalhos da assembléia e evitar a repetição do inconveniente ocorrido em Trento. Tomaram parte nas comissões uma centena de consultores que deviam redigir os esquemas provisórios dos futuros decretos. 2/3 foram escolhidos entre os teólogos que já moravam em Roma; entre outros, faltavam muitos professores de renome de várias universidades alemãs, e sobretudo estavam ausentes dois luminares da teologia do século XIX, Newman e Dollinger. De um trabalho assíduo, que se prolongou por 2 anos, com reuniões a cada 2 ou três semanas, nasceram só esquemas. Extraordinário foi o esquema sobre os erros do racionalismo e o esquema sobre a Igreja, preparado pela comissão doutrinária, sobretudo devido ao trabalho do Pe. Franzelin e do Pe. Schrader.

b) A Convocação do Concílio e as discussões precedentes

O anúncio do concílio causou em muitos ambientes, certa inquietação e uma crescente agitação. As controvérsias entre os católicos liberais e os Intrasigentes, que realmente não tinha sido resolvidas pelo Syllabus e que somente a interpretação minimista de Dupanhup tinha em parte acalmado, retornava-se agora com novo vigor.
Tinha aflorado também agora o problema da infalibilidade pessoal do papa. A dissensão sobre esse ponto central, percebido com maior ou menor clareza, explodiu com violência logo depois da publicação de um artigo da CIVILTA CATTOLICA, em fevereiro de 1869, com a explícita aprovação do papa; a revista semi-oficiosa referia com benevolência a opinião de alguns católicos franceses, que esperavam não só uma aprovação em forma positiva e adequadamente desenvolvida das doutrinas expostas no Syllabus de modo negativo e sintético, como também a definição por aclamação da infalibilidade do papa.
Uma definição por aclamação, como a que fora proposta pela CIVILTTA CATOLICA, implicava, obviamente, gravíssimos perigos, porque tirava toda possibilidade de esclarecer o alcance e o significado exato dos termos, de aceitar a afetiva liberdade de voto de cada um dos participantes, e poderia suscitar em seguida discussões intermináveis sobre a validade e os limites da definição, sobretudo se não se encontrassem nas Escrituras de modo explícito os termos abstratos e científicos nos quais eram formulados o novo dogma. Se para algum bispo a verdadeira preocupação era a de não separar o pontífice do resto da Igreja, a cabeça do corpo, outros temiam sobretudo que uma definição da infalibilidade pessoal do papa fosse um atentado aos direitos dos bispos, reduzidos à posição totalmente inferior diante do pastor supremo.
Dollinger teólogo alemão que tinha passado por uma evolução em sentido anti-romano, publicou num periódico de Agsbusrgo, sob o pseudônimo de Janus, 5 artigos reunidos depois num livro que se chamou: O Papa e o Concílio. Dollinger atacava não o primado de jurisdição do papa, reconhecido explicitamente na introdução como de origem divina, mas o modo concreto como esse primado foi se desenvolvendo, de uma presidência exercida somente em casos de necessidade a um papado, ou seja, a uma estrutura pesada que reivindica o direito de intervir em toda parte com uma certa freqüência[1]. Hergenrother defensor da infalibilidade escreve o Antijanus.
O chanceler da Bavária irmão do cardeal Hohenlohe em 1869 por sugestão de Dollinger, numa circular redigida pelo próprio historiador-teólogo aos governos europeus, alertava sobre os perigos do concílio e sugeria a reunião de uma conferência internacional que estabelecesse uma linha comum de defesa dos Estados. Com razão Bismasck observava que uma intervenção do governo nos assuntos do concílio teria sido compreensível e lógica somente nas condições históricas anteriores a Revolução, já havia muito superado. Nenhum outro concílio, tanto na idade antiga como na moderna, se realizou com total liberdade por parte das autoridades civis.
Em setembro, os bispos alemães reunidos em Fulda, enviavam ao papa uma carta confidencial, ressaltando a inoportunidade da definição. Dom Dupanloup publicou um outro opúsculo, em que resumia todos os argumentos dos inoportunismos contra a definição.
O Mons. Mareto escreve um livro chamado “O Concílio Geral e a Paz Religiosa” afirmando que a autoridade da Igreja consta de dois elementos essenciais: 01 principal: o papa, e o subordinado: o episcopado. Por este motivo a infalibilidade está no papa unida aos bispos e não separado deles.
Os anti-fabilistas eram católicos de pouco zelo, pouco dóceis. Dado que a doutrina da infalibilidade não tinha ainda sido definida, eles usavam de um autentico direito ao propor suas objeções e eram em geral movidos por intenções retilíssimas.
Infabilistas de renome: Manning, Senestrey, Dechamps, Pie
Antiinfabilistas: Rauscher, Shwarzemberg, Simor, Dupanloup, Hefele, Ketteler.
As discussões durante o Concílio - de cerca de 1000 bispos, 700 estavam presentes: aproximadamente 150 provinham das nações de língua inglesa, 30 da América Latina, 40 dos países alemães, 50 do oriente, e 200 eram italianos. O episcopado logo se dividiu em 2 grupos: a maioria infabilista e a minoria anti-infabilista. Os primeiros reunia todos os bispos de língua espanhola, os que provinha das missões, todos os bispos da Bélgica e quase todos os suíços, a quase totalidade dos italianos, cerca de 2/3 dos bispos dos EUA e metade dos franceses.
A quase totalidade anti-infabilista era composta por quase todos os bispos austríacos, alemães e húngaros e por muitos bispos franceses.
Pio IX e Antonelli teriam desejado que nas comissões estivessem presentes também alguns representantes da minoria anti-infabilista, mas Manning fez um trabalho entre os da maioria que a minoria ficou totalmente excluída. “Os heréticos não devem ser ouvidos, mas condenados”, afirmava-se.
De fato, duas tendências tinham se manifestado, uma mais preocupada com os direitos do episcopado, a outra especialmente preocupada com a autoridade do Sumo Pontífice.






[1] A autoridade Pontifícia no século XIX era fruto de exurpações cometidas na Idade Média.

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