segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

A DOUTRINA DA IMORTALIDADE NO LIVRO DA SABEDORIA

A DOUTRINA DA IMORTALIDADE NO LIVRO DA SABEDORIA

            Com este livro, aparece na Bíblia hebraica um vocabulário novo, desconhecido até pelos LXX: σωμα - ψυχή, σωμα – πνευμα, αθανασία, αφθαρσία  (1,4. 15; 2,3. 23; 3,4; 4,1...). Não se trata aqui da alma naturalmente imortal, mas do fruto da justiça, da sabedoria, da santidade. O termo ‘morte’ só é empregado para os ímpios, enquanto que os justos são transferidos por Deus (4,10s.14), seu fim terreno é uma saída (3,2s), uma mera aparência de morte (3,2).
            A imortalidade dos justos é um estar nas mãos de Deus (3,1), uma vida eterna cuja recompensa é o próprio Deus (5,15), na graça e misericórdia divinas (3,9). Há continuidade perfeita com a idéia bíblica de vida e de morte, um parentesco claro com os salmos (compare-se Sb 3,1.9; 5,15s com Sl 16, 9-11; 73,23.25s; e ainda Sb 4,10s com Sl 49,16 e 73,24).
            Entretanto, várias questões permanecem em pé: qual o substrato ideológico da distinção alma e corpo: mero empréstimo terminológico ou introdução de novo esquema antropológico, diferente da concepção tipicamente unitária da tradição bíblica? Qual o sujeito da imortalidade, a alma separada  ou o homem inteiro? Quando surtem efeito os prêmios e castigos, logo depois da morte, ou no final dos tempos como em Daniel e Macabeus?

            Através da dor de seu silêncio (Jó), da decepção do afastamento (Eclesiastes), do gozo de sua presença (Salmos), é Deus quem vai abrindo caminho na alma de Israel. Como essa relação nunca foi vista como meramente futura, mas como algo experienciado no tempo da existência terrena, pôde sobreviver uma esperança que sabe mirar além dessa existência.


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