A
DOUTRINA DA IMORTALIDADE NO LIVRO DA SABEDORIA
Com este livro, aparece na Bíblia hebraica um vocabulário
novo, desconhecido até pelos LXX: σωμα - ψυχή, σωμα – πνευμα, αθανασία, αφθαρσία (1,4. 15; 2,3. 23; 3,4; 4,1...). Não se trata
aqui da alma naturalmente imortal, mas do fruto da justiça, da sabedoria, da
santidade. O termo ‘morte’ só é empregado para os ímpios, enquanto que os
justos são transferidos por Deus (4,10s.14), seu fim terreno é uma saída
(3,2s), uma mera aparência de morte (3,2).
A
imortalidade dos justos é um estar nas mãos de Deus (3,1), uma vida eterna cuja
recompensa é o próprio Deus (5,15), na graça e misericórdia divinas (3,9). Há
continuidade perfeita com a idéia bíblica de vida e de morte, um parentesco
claro com os salmos (compare-se Sb 3,1.9; 5,15s com Sl 16, 9-11; 73,23.25s; e
ainda Sb 4,10s com Sl 49,16 e 73,24).
Entretanto,
várias questões permanecem em pé: qual o substrato ideológico da distinção alma
e corpo: mero empréstimo terminológico ou introdução de novo esquema
antropológico, diferente da concepção tipicamente unitária da tradição bíblica?
Qual o sujeito da imortalidade, a alma separada
ou o homem inteiro? Quando surtem efeito os prêmios e castigos, logo
depois da morte, ou no final dos tempos como em Daniel e Macabeus?
Através
da dor de seu silêncio (Jó), da decepção do afastamento (Eclesiastes), do gozo
de sua presença (Salmos), é Deus quem vai abrindo caminho na alma de Israel. Como
essa relação nunca foi vista como meramente futura, mas como algo experienciado
no tempo da existência terrena, pôde sobreviver uma esperança que sabe mirar
além dessa existência.
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