sábado, 27 de fevereiro de 2016

A TRAMA DO EVANGELHO DE MATEUS E SEU PRÓLOGO CRISTOLÓGICO

A TRAMA DO EVANGELHO DE MATEUS E SEU PRÓLOGO CRISTOLÓGICO


1. A trama interna do Evangelho de Mateus
            Desenvolve-se a partir do nascimento de Jesus precedido por uma genealogia que remonta a Abraão e culmina na parusía.
            A rejeição do messianismo de Jesus – depois de haver ensinado, pregado e curado em Israel – é outro tema importante. Daí pra frente, o Evangelho foi dirigido aos gentios.

2. O prólogo Cristológico
            Segundo F. J. Matera, vai até o Mt 4,11, conclui com as tentações de Jesus. Na Genealogia: De Abraão a Davi; de Davi ao Êxodo; do Êxodo a Jesus, mostra, assim, a historia profética, messiânica e apocalíptica, vendo nelas uma preparação para a vinda de Jesus. Belém, José e Maria, o nascimento do menino, a fuga ao Egito e o regresso a Nazaré, mostram a trama. Para entender a Mariologia de Mateus, é preciso ler o relato de forma global.

MARIA NA TRAMA DO PRÓLOGO CRISTOLOGICO

1. A genealogia do “rei dos judeus” e as seis mulheres
            Ao mostrar a Genealogia de Jesus, Mateus o apresenta como um autêntico “filho de Davi”. José era chamado filho de Davi, por isso Jesus é legitimamente dito “rei dos Judeus.”
            As seis mulheres: Tamar, Raab, Rute, a mulher de Urias e Maria – esta não tem relação sexual com José, filho de Davi. Depois disso fala da “alamah”, a virgem, uma mulher anônima. Todas têm elementos comuns entre si: irregularidade ou condição de pecadoras; estrangeiras; instrumentos do Espírito Santo. Há também aspectos diferentes entre elas.
a) Tamar “ao enganar fez uma obra santa” (Gn 38,6-30)
            Depois de casar-se com Er, filho de Judá, ela ficou viúva. Casou-se com outro filho, Onán, e novamente se enviuvou. Judá prometeu que quando seu filho mais novo crescesse ela se casaria com ele. Um dia, Judá tinha ido apascentar o rebanho, Tamar soube e foi lá seduzi-lo disfarçada de prostituta, este deitou-se com ela e ela concebeu Fares e Zara. Na liturgia judaica, Tamar era proclamada santa. Pois ao enganar ela fez uma obra santa, pois por ela Deus realizou o seu desígnio. Com Fares se iniciou os imediatos descendentes de Davi.
b) Raab e Rut, duas estrangeiras na genealogia messiânica
Raab: Prostituta em Jericó, soube que havia um Deus que fazia coisas maravilhosas acompanhava um povo pelo deserto. Alguns espiões desse povo chegou à sua casa e ela os escondeu dos oficiais do rei. Depois que os hebreus tomaram a cidade, só ficou viva a família de Raab. Dela nasceu Booz, outro antepassado de Davi. Nela se dizia que o Espírito Santo teria repousado antes que os israelitas chegassem à terra prometida.
Rut: nome ligado à cidade de Belém. Ela não pertencia ao povo de Deus, mas faz parte da imediata descendência de Davi. Raab é a mãe de Booz. Este é esposo de Rut. E Rut é a mãe de Obed que gerou Jessé, pai de Davi. Era conhecida como mulher virtuosa, e se dizia que Deus a tirou de sua esterelidade. Semelhança com Maria: mãe em belém; achou graça aos olhos de Deus; por graça dão continuação à bênção de Judá.
            Por essas mulheres, vê-se que Davi era “nascido de mulher”. Por essas três, Deus continuou o seu projeto de bênção em situações difíceis. Tamar, Raab e Rut antecipam a figura de Maria. Nelas e em Maria, Jesus é dito “nascido de mulher”.
c) A mulher de Urias
            A figura de Davi num gravíssimo conflito. Ele usurpa os direitos de Urias sobre a sua legítima mulher. Mandou matar Urias e a tomou por esposa. Ela perdeu seu primeiro filho, e ele só conseguiu que tivessem Salomão depois que ele fez penitência. Betsabéia é conhecida como aquela que assegurou ao filho de Jessé a primogenitura real: Salomão.
Comparação: Davi rouba. José tenta repudiar. Davi manda matar Urias. José não quer denunciar Maria. O primogênito de Davi é filho do pecado. O filho de Maria é filho de Deus.
d) A esposa de José: a quinta mulher
            José era o descendente de Davi e o portador da legitimidade genealógica. No entanto, foi Maria a protagonista da vinda do messias. Por Maria e José Jesus foi o “filho de Davi”, messias salvador. O feminino foi escolhido por Deus para realizar a promessa da salvação mostrou a originalidade da salvação que suplantou o escalão masculino da tradição judaica.
e) A “Almah” de Is 7,14: a sexta mulher
            Maria virgem na qual age o Espírito Santo é para Mateus a gênesis da filiação divina de Jesus e ao mesmo tempo da condição humana. Maria-virgem e o Espírito Santo seriam os que engendraram ao Filho. Dá-se uma relação íntima entre o Espírito Santo e a virgem. Mas a tradução de Almah (heb) por partenos (grego) leva conotação messiânica apenas em Mateus, para dar a entender que Jesus é o Emanuel, o cumprimento da promessa feita a Davi.

2. A Geração e nascimento do Messias Jesus
            A genealogia de Jesus está a serviço do seu nascimento.
a) O texto do relato: Mt 1,18-25
            Mostra não só como Jesus foi descendente de Davi, mas também, e, sobretudo, Filho de Deus.
            A perícope se desenvolve em forma de quiasmo:
            * conferir pág. 47
           
b) A gênese de Jesus
            A palavra “gênese” (Mt 1,18) faz referência a todo o processo de gerações através das quais chega a bênção: salvação do povo e purificação dos pecados. Com Jesus essa bênção é total.
            Se o conflito entre José e Maria não se resolvesse não seria obstáculo à concretização do plano de Deus: messias filho de Deus e filho de Davi.
c) “Sua mãe, Maria, se achava grávida por obra do Espírito Santo” (v. 18)
            O que vem ressaltado é o fato de ser mãe e não ser esposa. “Estava prometida”: mostra que a promessa de Deus se realiza diante de testemunhas. O que acontece a Maria é inimaginável: o que se lhe acontece a surpreende porque está fora de sua decisão.
O Espírito santo exerce uma função ativa, mas que não é a de esposo. O homem que Maria engendra é uma criatura do Espírito. Maria em sua maternidade é atuada pelo Espírito. E, de fato, Jesus, em Mateus, é o homem sobre quem op Espírito Santo baixou. Cristo é concebido pelo Espírito Santo e a Virgem, diz o credo. Maria é o cento da inauguração do reino de Deus e do novo Povo.
d) O conflito de José e sua decisão
            Descendente de Abraão, é chamado filho de Davi, seu pai imediato é Jacó. Um homem diferente dos outros judeus que buscava a justiça e o reino de Deus.
            O conflito se dá porque “sua mulher” aparece grávida do Espírito Santo. José pretendia castigar Maria segundo a lei, mas a intervenção do anjo faz que ele resolva o conflito e a receba por esposa.
e) Revelação e mandato do anjo do Senhor
            O anjo diz a José que Maria continuara sendo sua esposa e que ele não deve temer, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. O temor de José revela o temor diante do incompreensível e da nascimento do homem novo. O anjo, porém, confere a Jose a missão de dar um nome ao filho, Jesus. Por um nome era o mesmo que dizer: “este é meu filho”..
f) O cumprimento da palavra profética de Isaias
            Mateus fala do seu cumprimento na vida de Jesus. Mateus mostra isso com todos os detalhes para dizer que quem negasse a legitimidade da genealogia e do messianismo de Jesus, estaria negando o próprio Deus que o havia prometido pelos profetas. Ao Fiat do Criador, foi necessário o Fiat de Maria.
g) A paternidade de José e a filiação divídica de Jesus
            José levou Maria pra sua casa, mas não teve relação sexual com ela. Respeitou-a ate que o menino nascesse. Ao assumir legalmente Jesus como filho, José assume também a paternidade. Por meio da paternidade legal de José, Jesus também é filho de Davi.
h) conclusão
-          O Espírito Santo é o protagonista;
-          Em Jesus a salvação chegou a todos os povos (Emanuel);
-          Maria aparece como a mãe do messias (grávida do Espírito);
-          Depois é acolhida por José e por sua paternidade legal;
-          Jesus é “filho de Davi” por ser filho de José pois José lhe deu o nome;
-          Sobre o temor e o conflito sobrevém a paz trazida pelo anjo;
-          Cumpriu-se a promessa de Deus anunciada pelos profetas.

3. A paixão, incrustada no nascimento
            Mateus apresenta já no prólogo a condição sofredora do filho de Davi, diante da sua aceitação ou rejeição.
a) Alguns magos que vêm do Oriente adoram ao verdadeiro rei dos judeus

            Os magos que tinham o poder pessoal divino nas mãos, segundo definição de sua própria função, de forma física e tangível. Aqui eles aparecem confirmando a legitimidade do poder de Cristo, enquanto que normalmente eles questionavam o poder espiritual. O menino aparece como rival de Herodes. Ele é o verdadeiro rei dos judeus, enquanto Herodes é o usurpador, o falso rei. Os magos adoraram Jesus e lhe deram presentes, o que confirma os planos de Deus.
b) Raquel – a sétima mulher – e a mãe do povo no novo êxodo
            José, avisado em sonho, foge para o Egito com Jesus e Maria. Deus libertara seu povo do Egito como um pai livra o filho do inimigo. Paradoxalmente, o Egito agora é um lugar de refugio para o salvador, enquanto Jerusalém é uma cidade de ameaças e morte. Com Maria e José e Jesus acontece o mesmo a Moisés: é-lhes anunciado que voltem a Israel, pois os inimigos já não estão mais aí. Raquel era invocada como uma das grandes mulheres que edificaram a casa de Israel. Ela chorou pelo povo que foi ao desterro, destruído. Ela foi a mãe do povo oprimido no Egito. Agora, Maria é a mãe do novo povo libertado. Raquel é a mãe morta; Maria é a mãe que foge da ameaça. O menino que leva, representa o povo de Israel, por isso, é a mãe do novo povo.
            O êxodo de Jesus, depois que volta com seus pais do Egito, só se consumara no caminho da cruz, mostra as mulheres que o seguem, os seus discípulos, está inaugurado o reino de Deus; o messianismo de Jesus está realizado: o filho de Deus caminha na direção da sua morte na cruz. Maria acompanha a Jesus desde que fora reconhecido como filho de Davi até o momento em que ele é condenado à morte. Ela acompanha Jesus no novo êxodo como a mãe do novo povo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário