A TRAMA DO EVANGELHO DE
MATEUS E SEU PRÓLOGO CRISTOLÓGICO
Desenvolve-se
a partir do nascimento de Jesus precedido por uma genealogia que remonta a
Abraão e culmina na parusía.
A
rejeição do messianismo de Jesus – depois de haver ensinado, pregado e curado
em Israel – é outro tema importante. Daí pra frente, o Evangelho foi dirigido
aos gentios.
2. O prólogo Cristológico
Segundo
F. J. Matera, vai até o Mt 4,11, conclui com as tentações de Jesus. Na
Genealogia: De Abraão a Davi; de Davi ao Êxodo; do Êxodo a Jesus, mostra, assim,
a historia profética, messiânica e apocalíptica, vendo nelas uma preparação
para a vinda de Jesus. Belém, José e Maria, o nascimento do menino, a fuga ao
Egito e o regresso a Nazaré, mostram a trama. Para entender a Mariologia de
Mateus, é preciso ler o relato de forma global.
MARIA NA TRAMA DO PRÓLOGO
CRISTOLOGICO
Ao
mostrar a Genealogia de Jesus, Mateus o apresenta como um autêntico “filho de
Davi”. José era chamado filho de Davi, por isso Jesus é legitimamente dito “rei
dos Judeus.”
As
seis mulheres: Tamar, Raab, Rute, a mulher de Urias e Maria – esta não
tem relação sexual com José, filho de Davi. Depois disso fala da “alamah”, a
virgem, uma mulher anônima. Todas têm elementos comuns entre si: irregularidade
ou condição de pecadoras; estrangeiras; instrumentos do Espírito Santo. Há
também aspectos diferentes entre elas.
a) Tamar “ao enganar fez uma
obra santa” (Gn 38,6-30)
Depois
de casar-se com Er, filho de Judá, ela ficou viúva. Casou-se com outro filho,
Onán, e novamente se enviuvou. Judá prometeu que quando seu filho mais novo
crescesse ela se casaria com ele. Um dia, Judá tinha ido apascentar o rebanho,
Tamar soube e foi lá seduzi-lo disfarçada de prostituta, este deitou-se com ela
e ela concebeu Fares e Zara. Na liturgia judaica, Tamar era proclamada santa.
Pois ao enganar ela fez uma obra santa, pois por ela Deus realizou o seu
desígnio. Com Fares se iniciou os imediatos descendentes de Davi.
b) Raab e Rut, duas
estrangeiras na genealogia messiânica
Raab:
Prostituta em Jericó, soube que havia um Deus que fazia coisas maravilhosas
acompanhava um povo pelo deserto. Alguns espiões desse povo chegou à sua casa e
ela os escondeu dos oficiais do rei. Depois que os hebreus tomaram a cidade, só
ficou viva a família de Raab. Dela nasceu Booz, outro antepassado de Davi. Nela
se dizia que o Espírito Santo teria repousado antes que os israelitas chegassem
à terra prometida.
Rut:
nome ligado à cidade de Belém. Ela não pertencia ao povo de Deus, mas faz parte
da imediata descendência de Davi. Raab é a mãe de Booz. Este é esposo de Rut. E
Rut é a mãe de Obed que gerou Jessé, pai de Davi. Era conhecida como mulher
virtuosa, e se dizia que Deus a tirou de sua esterelidade. Semelhança com
Maria: mãe em belém; achou graça aos olhos de Deus; por graça dão continuação à
bênção de Judá.
Por
essas mulheres, vê-se que Davi era “nascido de mulher”. Por essas três, Deus
continuou o seu projeto de bênção em situações difíceis. Tamar, Raab e Rut
antecipam a figura de Maria. Nelas e em Maria, Jesus é dito “nascido de
mulher”.
c) A mulher de Urias
A
figura de Davi num gravíssimo conflito. Ele usurpa os direitos de Urias sobre a
sua legítima mulher. Mandou matar Urias e a tomou por esposa. Ela perdeu seu
primeiro filho, e ele só conseguiu que tivessem Salomão depois que ele fez
penitência. Betsabéia é conhecida como aquela que assegurou ao filho de Jessé a
primogenitura real: Salomão.
Comparação: Davi rouba.
José tenta repudiar. Davi manda matar Urias. José não quer denunciar Maria. O
primogênito de Davi é filho do pecado. O filho de Maria é filho de
Deus.
d) A esposa de José: a quinta
mulher
José
era o descendente de Davi e o portador da legitimidade genealógica. No entanto,
foi Maria a protagonista da vinda do messias. Por Maria e José Jesus foi o
“filho de Davi”, messias salvador. O feminino foi escolhido por Deus para
realizar a promessa da salvação mostrou a originalidade da salvação que
suplantou o escalão masculino da tradição judaica.
e) A “Almah” de Is 7,14: a
sexta mulher
Maria
virgem na qual age o Espírito Santo é para Mateus a gênesis da filiação divina
de Jesus e ao mesmo tempo da condição humana. Maria-virgem e o Espírito Santo
seriam os que engendraram ao Filho. Dá-se uma relação íntima entre o Espírito
Santo e a virgem. Mas a tradução de Almah (heb) por partenos (grego) leva
conotação messiânica apenas em Mateus, para dar a entender que Jesus é o
Emanuel, o cumprimento da promessa feita a Davi.
A
genealogia de Jesus está a serviço do seu nascimento.
a) O texto do relato: Mt
1,18-25
Mostra
não só como Jesus foi descendente de Davi, mas também, e, sobretudo, Filho de
Deus.
A
perícope se desenvolve em forma de quiasmo:
*
conferir
pág. 47
b) A gênese de Jesus
A
palavra “gênese” (Mt 1,18) faz referência a todo o processo de gerações através
das quais chega a bênção: salvação do povo e purificação dos pecados. Com Jesus
essa bênção é total.
Se o conflito entre José e Maria não
se resolvesse não seria obstáculo à concretização do plano de Deus: messias
filho de Deus e filho de Davi.
c) “Sua mãe, Maria, se achava
grávida por obra do Espírito Santo” (v. 18)
O
que vem ressaltado é o fato de ser mãe e não ser esposa. “Estava
prometida”: mostra que a promessa de Deus se realiza diante de testemunhas. O
que acontece a Maria é inimaginável: o que se lhe acontece a surpreende porque
está fora de sua decisão.
O Espírito
santo exerce uma função ativa, mas que não é a de esposo. O homem que Maria
engendra é uma criatura do Espírito. Maria em sua maternidade é atuada pelo
Espírito. E, de fato, Jesus, em Mateus, é o homem sobre quem op Espírito Santo
baixou. Cristo é concebido pelo Espírito Santo e a Virgem, diz o credo. Maria é
o cento da inauguração do reino de Deus e do novo Povo.
d) O conflito de José e sua
decisão
Descendente
de Abraão, é chamado filho de Davi, seu pai imediato é Jacó. Um homem diferente
dos outros judeus que buscava a justiça e o reino de Deus.
O
conflito se dá porque “sua mulher” aparece grávida do Espírito Santo. José
pretendia castigar Maria segundo a lei, mas a intervenção do anjo faz que ele
resolva o conflito e a receba por esposa.
e) Revelação e mandato do anjo
do Senhor
O
anjo diz a José que Maria continuara sendo sua esposa e que ele não deve temer,
pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. O temor de José revela o
temor diante do incompreensível e da nascimento do homem novo. O anjo, porém,
confere a Jose a missão de dar um nome ao filho, Jesus. Por um nome era o mesmo
que dizer: “este é meu filho”..
f) O cumprimento da palavra
profética de Isaias
Mateus
fala do seu cumprimento na vida de Jesus. Mateus mostra isso com todos os
detalhes para dizer que quem negasse a legitimidade da genealogia e do
messianismo de Jesus, estaria negando o próprio Deus que o havia prometido
pelos profetas. Ao Fiat do Criador, foi necessário o Fiat de
Maria.
g) A paternidade de José e a
filiação divídica de Jesus
José
levou Maria pra sua casa, mas não teve relação sexual com ela. Respeitou-a ate que
o menino nascesse. Ao assumir legalmente Jesus como filho, José assume também a
paternidade. Por meio da paternidade legal de José, Jesus também é filho de
Davi.
h) conclusão
-
O Espírito Santo é o protagonista;
-
Em Jesus a salvação chegou a todos os povos (Emanuel);
-
Maria aparece como a mãe do messias (grávida do
Espírito);
-
Depois é acolhida por José e por sua paternidade legal;
-
Jesus é “filho de Davi” por ser filho de José pois José
lhe deu o nome;
-
Sobre o temor e o conflito sobrevém a paz trazida pelo
anjo;
-
Cumpriu-se a promessa de Deus anunciada pelos profetas.
Mateus
apresenta já no prólogo a condição sofredora do filho de Davi, diante da sua
aceitação ou rejeição.
a) Alguns magos que vêm do
Oriente adoram ao verdadeiro rei dos judeus
Os
magos que tinham o poder pessoal divino nas mãos, segundo definição de sua
própria função, de forma física e tangível. Aqui eles aparecem confirmando a
legitimidade do poder de Cristo, enquanto que normalmente eles questionavam o
poder espiritual. O menino aparece como rival de Herodes. Ele é o verdadeiro
rei dos judeus, enquanto Herodes é o usurpador, o falso rei. Os magos adoraram
Jesus e lhe deram presentes, o que confirma os planos de Deus.
b) Raquel – a sétima mulher –
e a mãe do povo no novo êxodo
José,
avisado em sonho, foge para o Egito com Jesus e Maria. Deus libertara seu povo
do Egito como um pai livra o filho do inimigo. Paradoxalmente, o Egito agora é
um lugar de refugio para o salvador, enquanto Jerusalém é uma cidade de ameaças
e morte. Com Maria e José e Jesus acontece o mesmo a Moisés: é-lhes anunciado
que voltem a Israel, pois os inimigos já não estão mais aí. Raquel era invocada
como uma das grandes mulheres que edificaram a casa de Israel. Ela chorou pelo povo
que foi ao desterro, destruído. Ela foi a mãe do povo oprimido no Egito. Agora,
Maria é a mãe do novo povo libertado. Raquel é a mãe morta; Maria é a mãe que
foge da ameaça. O menino que leva, representa o povo de Israel, por isso, é a
mãe do novo povo.
O
êxodo de Jesus, depois que volta com seus pais do Egito, só se consumara no
caminho da cruz, mostra as mulheres que o seguem, os seus discípulos, está
inaugurado o reino de Deus; o messianismo de Jesus está realizado: o filho de
Deus caminha na direção da sua morte na cruz. Maria acompanha a Jesus desde que
fora reconhecido como filho de Davi até o momento em que ele é condenado à
morte. Ela acompanha Jesus no novo êxodo como a mãe do novo povo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário