THEOTOKOS
Esse é um dos títulos
pelos quais Maria é invocada na Igreja. Antes de se falar de Maria como mãe de
Deus, é preciso provar o que ela gerou é Deus. Estamos falando de Jesus, pois
ele é o ponto de partida para tal definição, ou seja, é necessário provar a
divindade de Jesus, só por causa Dele podemos dizer que Maria é mãe de Deus. É
preciso fazer uma explanação bíblica sobre a divindade de Jesus e depois
adentrarmos na historia da Igreja, com as chamas heresias sobre Jesus. Trata-se
do problemas da natureza de Jesus, e depois chegarmos ao concilio de Éfeso em
431 d.C com a grande controvérsia entre São Cirilo de Alexandria e Nestorio bispo
de Constantinopla, só assim entederemos porque Maria é chamada de mãe de Deus.
Tudo o que temos sobre
Jesus está contido nos evangelhos. Cada um desses nos traças um perfil sobre
Jesus, tratam-se de quatro cristologias diferentes, 4 modos de ver Jesus, pois
cada um dos evangelista pinta um Jesus de acordo com a realidade em que está
sendo escrito. Exemplo: em Mt temos um Jesus com características Judaicas, um
Jesus orante, um mestre que ensina, um Jesus que morre abandonado na cruz; em
Mc temos um Jesus bem humano, sofrido, que caminha, que não para, escrito para
Romanos, um Jesus que oculta a todo tempo que ele é; em LC temos um Jesus que
aparece como um profeta, que esta há todo tempo subindo para Jerusalém,
evangelho escrito para os gregos; e por fim temos São João, que nos mostra um
Jesus glorioso, já ressuscitado, alta cristologia, ou seja, a divindade de
Jesus é mostrada de forma bem clara, nesse evangelho Jesus é Deus.
Vejamos em Mt algo que
menciona a divindade de Jesus em vida: Mt 8, 1-2, o mesmo relato em Mc 1,40 não
menciona o nome “Senhor” Mt 8,24, já em Mc o mesmo episodio porém com uma
cristológia baixa, os discípulos não o reconhecem como Deus Mc 4,35-38. Em São
Marcos: Mc 7,24-28. Em São Lucas: Lc 1,41-43; 2,11; 7,1-6. O pouco o que temos
nos evangelhos chamados sinóticos são de fato alguém reconhecendo a divindade
de Jesus.
Em São João é bem
diferente. Temos já um Jesus em vida Ressuscitado. Ele mesmo diz ser DEUS. Jo
1,1.14; 6,35.48.51; 8,24.28.58; 10,9.14.29-30; 14,8-9. É desse Jesus como Deus
já mostrado no NT que iremos falar de Maria como mãe de Deus. Como entender
Maria como mãe de Deus? Em que sentido ela é mãe de Deus. Os autores bíblicos
entenderam, mais os seguidores fora da bíblia em partes não entederam tal
problemática sobre a divindade de Jesus. Aqui é preciso mergulhar nos cinco
primeiros séculos da historia da Igreja. Foi onde começou a surgir as chamadas
heresias, e por elas devemos entender como a negação de um dado da fé.
As
diversas heresias cristológicas ao longo dos séculos
É curioso
constatar que, ao longo dos séculos, não se soube entender Jesus. É natural,
porque Jesus é um mistério: um Deus com duas naturezas, uma divina e outra
humana. Quase todas as heresias observaram Jesus de um ponto de vista e
desprezaram ou desvalorizaram outros, consciente ou inconscientemente. Mas
todas trouxeram mais luz para esse mistério, e a Igreja pôde se aprofundar no
único tesouro que dá razão da nossa fé: Jesus Cristo. Podemos, assim, dizer com
São Paulo: “Para os que amam a Deus, tudo
coopera para o bem”; também as heresias, porque, graças a elas ou por causa
delas, a figura de Cristo apareceu resplandecente, luminosa e esplêndida.
Jesus foi, é e
será um mistério, porque é ao mesmo tempo Deus e homem verdadeiro. Nele
convivem duas naturezas diferentes, a humana e a divina, em uma só Pessoa
divina. As diversas heresias cristológicas não souberam conjugar essas duas
realidades: Ele é ao mesmo tempo verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Alguns,
por quererem valorizar a divindade, menosprezaram a humanidade. Outros, pelo
contrário, querendo valorizar a humanidade, menosprezaram a divindade, ou
simplesmente a negaram. O dogma católico diz: “Jesus é verdadeiro Deus e Filho
de Deus, gerado antes dos séculos, da mesma substância do Pai; e é homem
verdadeiro que assumiu um corpo real, não aparente, no seio de Maria, nascido
no século”.
Estas são as principais heresias ou erros doutrinais sobre
Jesus, o Filho de Deus.
Docetismo: Heresia difundida no século I por Márcio, Valentino e
Basílides (estes últimos gnósticos) que reduz a carne de Cristo a uma
aparência: “Parece que come, que caminha,
parece estar cansado...” Tanto São João em suas cartas (I Jo 4, 2) como
Santo Inácio de Antioquia lutam contra este erro. Jesus é verdadeiro homem que
come, bebe, se cansa, caminha, chora, admira. Jesus caminhou pelas calçadas
poeirentas de Israel. Jesus olhou com os próprios olhos para as crianças
inocentes, para os homens enfermos, para os fariseus complicados. Jesus amou
também com coração humano.
Ebionismo: Heresia difundida no século II em ambientes
judaico-cristãos, nega que Cristo tenha sido gerado pelo Pai e reconhece nele o
homem investido pelo Espírito Santo no batismo. Esta heresia foi condenada por
Santo Irineu de Lyon, que diz que Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro Deus.
Verdadeiro Deus porque só Deus pode dar a salvação e restabelecer a união com
os homens. Verdadeiro homem porque compete ao homem reparar a própria falta.
Por ser Deus, reparou a ofensa infinita que o homem perpetrou contra Deus. Por
ser homem, o homem ficou redimido e a sua conta saldada.
Adocionismo: Heresia difundida no século II por Teodoro, o Velho, e por
Paulo de Samósata, que diz que Cristo é um simples homem, adotado por Deus como
portador de uma graça divina excepcional. Nega, portanto, a Trindade, a
divindade de Cristo e a encarnação do Verbo. É preciso voltar ao mesmo fato:
Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Precisamos de fé para acreditar
nisto, pois Cristo, não nos esqueçamos, é um mistério. Só os humildes e simples
se abrem totalmente a este mistério.
Gnose cristã: Heresia difundida no século II por Márcio, Valentino,
Epifânio e Simão o Mago, segundo a qual Jesus não é Deus, mas um eon no meio
dos demais, que veio dar conhecimento aos homens enganados pelos próprios
sentidos. Cristo desce sobre Jesus no momento do batismo. É uma heresia, porque
cria em Jesus um dualismo de pessoas e desvirtua a sua missão divina e
redentora. Esta heresia foi combatida por Hipólito e Santo Irineu. Em Jesus há
uma só pessoa, a divina, com duas naturezas, a humana e a divina. De novo, o
mistério, diante do qual os nossos joelhos têm que se dobrar. Se houvesse duas
pessoas, teria também duas personalidades; haveria dois centros de comando. A
saúde psíquica e psicológica correria risco. Esta única pessoa divina de Cristo
faz uso das duas naturezas, sem mistura e confusão, como de duas mãos. As duas
naturezas são instrumentos que a Pessoa divina de Jesus utiliza para realizar a
sua missão salvadora.
Arianismo: Heresia difundida no século III por Ário, que nega a
divindade de Cristo. Cristo, ele diz, é filho adotivo de Deus, não
consubstancial ao Pai. E o Espírito Santo é a primeira criatura do Filho,
portanto, inferior a Ele. Esta heresia foi condenada no concílio de Nicéia, de
325: “Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem”. São Jerônimo
pronunciou esta frase célebre: “O mundo
despertou um dia e gemeu ao ver-se ariano”. Muitíssimos sacerdotes e fiéis foram martirizados, bispos
católicos mandados ao desterro e substituídos por arianos. Tudo isto por culpa
do imperador Constâncio II, ariano, que tinha tomado posse de todo o Império.
Foi ele quem disse: “Acabaram-se os
niceianos (queria dizer os católicos); vencemos nós, os cristãos (queria dizer
os arianos). Se pudéssemos agarrar e enforcar o bandido do bispo de
Alexandria!”. Referia-se a um grande defensor da fé católica, Cirilo de
Alexandria.
Apolinarismo: Heresia difundida no século
IV por Apolinário, que nega a alma humana de Cristo, crendo que esta alma
humana seria como a nossa, pecaminosa. Assim acreditava salvar a divindade de
Cristo. A Igreja, no sínodo de Alexandria (362), assegurou a alma de Cristo
dizendo: “O Verbo se encarnou para salvar
alma e corpo; por isso teve que tomar um corpo”. O sínodo de Roma do
ano 377 condenou a heresia de Apolinário. A alma humana de Cristo não é pecaminosa,
porque não teve pecado original, e, portanto, tampouco as conseqüências desse
pecado original com que nascemos todos nós, mortais. Só o pecado deixa a marca
pecaminosa na alma. Jesus não teve pecado; a conclusão, portanto, é bem clara.
Nestorianismo: Heresia difundida no século V por Nestório, bispo de
Constantinopla, que sustentava a teoria de duas pessoas em Cristo: uma divina e
outra humana. O Concílio de Calcedônia, de 451, diz que em Cristo há duas
naturezas distintas, unidas numa só pessoa, a do Verbo. O que pensaríamos de um
homem que tivesse duas pessoas ou duas personalidades incorporadas em seu ser?
Qual das duas mandaria? Que luta dentro do mesmo ser!
Monofisismo: Heresia difundida no século V por Eutiques, arquimandrita de
Constantinopla, que sustentava uma só natureza em Cristo, a divina. A resposta
foi dada pelo Concílio de Calcedônia de 451: em Cristo existem duas naturezas,
uma divina e a outra humana. Se a heresia monofisita tivesse razão, como se
explicariam tantas atitudes de Cristo no Evangelho? Jesus se cansava, comia,
bebia, caminhava, chorava, se enchia de uma santa cólera. Se não tivesse
natureza humana, não poderia ter atitudes e realizar atividades humanas.
Monotelismo: Heresia difundida no século VII por Sérgio, patriarca de
Constantinopla, que sustentava uma só vontade em Cristo, a divina. A Igreja deu
resposta no III Concílio de Constantinopla (680-681): “Em Cristo há duas vontades sem divisão, sem troca, sem separação nem
confusão”. As duas vontades
não se opõem em Cristo, porque a vontade humana segue sem resistir ou se opor,
submetendo-se livre e amorosamente à vontade divina onipotente.
Esse é o ponto
de partida para a compreensão do dogma de Maria como mãe de Deus, conhecido na
língua grega como Theotokos que ao pé da letra se traduz para o português como
aquela que pariu Deus (Theos=Deus, Tokos pariu), o latim traduziu como Mater
Dei, que por sua vez a língua portuguesa traduziu como mãe de Deus.
O que temos no
começo do Sec V d.C são duas tradições no oriente sobre a natureza de Jesus
(Alexandria com o Logos/sarx. E de Antioquia com o Logos/antropos. O que é a
cristologia logos/antropos? A distinção da natureza humana da divina, ou seja,
é algo dividido.
A grande
controvérsia está entre Cirilo e Nestorio, sendo que o primeiro será o grande
responsável pelo titulo de Maria como Mãe de Deus. Nestorio critica o titulo de
Theotokos, ele pensava contra aquilo que a Igreja dizia em relação a Maria, a
quem se invocava como Theotokos, isso em Constantinopla onde os fieis rendiam
um culto fervoroso a Maria com o titulo de Mãe de Deus. De todas as maneiras,
parece historicamente certo que este apelativo mariano estava presente não só
na piedade popular, mais também na liturgia e na linguagem da época. Nestorio
chega a mandar uma carta para o Papa Celestino lembrando a ele que o concilio
de Niceia não havia dito nada a respeito sobre a Virgem Maria e que só havia
dito que Nosso Senhor se fez homem por obra do Espírito Santo no seio da virgem
Maria. Diz que os apóstolos se referem a Maria somente como Mãe de Jesus, e
nunca como mãe de Deus. Nestorio também se dirige a Cirilo dizendo: “ em toda a
sagrada escritura, quando se recorda a economia do Senhor, nos diz que ao
nascimento e a paixão não são da divindade, porém da humanidade de Cristo; por
tanto, si queremos ser exatos nos adjetivos, a Santa Virgem deve chamar-se Mãe
de Cristo e não mãe de Deus. Nestorio preferia o titulo de Cristotokos, ao
invés de Theotokos.
A CRISTOLOGIA DE NESTORIO
1° A afirmação de dois
filhos em Cristo, o logos divino e o homem Jesus.
2° um simples homem e logo
depois adotado como filho
Resumindo: duas naturezas,
duas pessoas.
A CRISTOLOGIA DE CIRILO
Logos/sarx. O verbo se
fez carne. A natureza humana é completa, mas permanece como instrumento
passivo. A escola Antioquena acentuava a autonomia da natureza humana ate
constituí-la em um segundo sujeito junto ao logos. Cirilo evita os termos homo
assumptus e tudo o que possa favorecer a divisão em Cristo. Para Cirilo, no
verbo encarnado, o homem é o verbo, mas o verbo enquanto unido à carne.
Consequente a isso é poder dizer que: a possibilidade de poder atribuir a
pessoa divina propriedades ou características tanto humanas como divinas. Se
pode dizer que, por exempo, que Deus padeceu e foi morto mais o sofrimento e a
morte propriamente só se dão na humanidade. Cirilo explica que ao afirmar tal
doutrina, pode-se falar corretamente de Maria como Theotokos. Por isso os
Santos Padres tem a valentia de definir a santa virgem como mãe de Deus, ano
porque a natureza do logos, sua divindade, tenha começado a existir em Maria,
mais que do logos foi gerado dela, o santo corpo animado racionalmente, que
está unido a ela segundo a sua natureza. A formula significa que no único
sujeito que é o logos encarnado subsiste de maneira integra e as
características da humanidade e da divindade.
Tal definição dogmática
foi acatada pelo concilio de Éfeso a proclamando Theotokos acatando as ideias
de Cirilo. Em há duas naturezas em uma unidade. Verdadeiro Deus, verdadeiro
homem. O verbo unindo a si em sua pessoa uma carne animada por uma alma
racional se tornou homem. Maria se tornou de verdade Mãe de Deus pela concepção
humana do filho de Deus tirou dela sua
natureza divina, mas porque é dela que ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma
racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o verbo nasceu segundo a
carne.
Assim formulou o
Concilio: Santa Maria mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de
nossa morte. Amem!
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