sábado, 13 de fevereiro de 2016

MARIA MÃE DE DEUS

THEOTOKOS
                                                                                             

Esse é um dos títulos pelos quais Maria é invocada na Igreja. Antes de se falar de Maria como mãe de Deus, é preciso provar o que ela gerou é Deus. Estamos falando de Jesus, pois ele é o ponto de partida para tal definição, ou seja, é necessário provar a divindade de Jesus, só por causa Dele podemos dizer que Maria é mãe de Deus. É preciso fazer uma explanação bíblica sobre a divindade de Jesus e depois adentrarmos na historia da Igreja, com as chamas heresias sobre Jesus. Trata-se do problemas da natureza de Jesus, e depois chegarmos ao concilio de Éfeso em 431 d.C com a grande controvérsia entre São Cirilo de Alexandria e Nestorio bispo de Constantinopla, só assim entederemos porque Maria é chamada de mãe de Deus.
Tudo o que temos sobre Jesus está contido nos evangelhos. Cada um desses nos traças um perfil sobre Jesus, tratam-se de quatro cristologias diferentes, 4 modos de ver Jesus, pois cada um dos evangelista pinta um Jesus de acordo com a realidade em que está sendo escrito. Exemplo: em Mt temos um Jesus com características Judaicas, um Jesus orante, um mestre que ensina, um Jesus que morre abandonado na cruz; em Mc temos um Jesus bem humano, sofrido, que caminha, que não para, escrito para Romanos, um Jesus que oculta a todo tempo que ele é; em LC temos um Jesus que aparece como um profeta, que esta há todo tempo subindo para Jerusalém, evangelho escrito para os gregos; e por fim temos São João, que nos mostra um Jesus glorioso, já ressuscitado, alta cristologia, ou seja, a divindade de Jesus é mostrada de forma bem clara, nesse evangelho Jesus é Deus.
Vejamos em Mt algo que menciona a divindade de Jesus em vida: Mt 8, 1-2, o mesmo relato em Mc 1,40 não menciona o nome “Senhor” Mt 8,24, já em Mc o mesmo episodio porém com uma cristológia baixa, os discípulos não o reconhecem como Deus Mc 4,35-38. Em São Marcos: Mc 7,24-28. Em São Lucas: Lc 1,41-43; 2,11; 7,1-6. O pouco o que temos nos evangelhos chamados sinóticos são de fato alguém reconhecendo a divindade de Jesus.
Em São João é bem diferente. Temos já um Jesus em vida Ressuscitado. Ele mesmo diz ser DEUS. Jo 1,1.14; 6,35.48.51; 8,24.28.58; 10,9.14.29-30; 14,8-9. É desse Jesus como Deus já mostrado no NT que iremos falar de Maria como mãe de Deus. Como entender Maria como mãe de Deus? Em que sentido ela é mãe de Deus. Os autores bíblicos entenderam, mais os seguidores fora da bíblia em partes não entederam tal problemática sobre a divindade de Jesus. Aqui é preciso mergulhar nos cinco primeiros séculos da historia da Igreja. Foi onde começou a surgir as chamadas heresias, e por elas devemos entender como a negação de um dado da fé.
As diversas heresias cristológicas ao longo dos séculos

É curioso constatar que, ao longo dos séculos, não se soube entender Jesus. É natural, porque Jesus é um mistério: um Deus com duas naturezas, uma divina e outra humana. Quase todas as heresias observaram Jesus de um ponto de vista e desprezaram ou desvalorizaram outros, consciente ou inconscientemente. Mas todas trouxeram mais luz para esse mistério, e a Igreja pôde se aprofundar no único tesouro que dá razão da nossa fé: Jesus Cristo. Podemos, assim, dizer com São Paulo: “Para os que amam a Deus, tudo coopera para o bem”; também as heresias, porque, graças a elas ou por causa delas, a figura de Cristo apareceu resplandecente, luminosa e esplêndida.

Jesus foi, é e será um mistério, porque é ao mesmo tempo Deus e homem verdadeiro. Nele convivem duas naturezas diferentes, a humana e a divina, em uma só Pessoa divina. As diversas heresias cristológicas não souberam conjugar essas duas realidades: Ele é ao mesmo tempo verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Alguns, por quererem valorizar a divindade, menosprezaram a humanidade. Outros, pelo contrário, querendo valorizar a humanidade, menosprezaram a divindade, ou simplesmente a negaram. O dogma católico diz: “Jesus é verdadeiro Deus e Filho de Deus, gerado antes dos séculos, da mesma substância do Pai; e é homem verdadeiro que assumiu um corpo real, não aparente, no seio de Maria, nascido no século”.

Estas são as principais heresias ou erros doutrinais sobre Jesus, o Filho de Deus.

Docetismo: Heresia difundida no século I por Márcio, Valentino e Basílides (estes últimos gnósticos) que reduz a carne de Cristo a uma aparência: “Parece que come, que caminha, parece estar cansado...” Tanto São João em suas cartas (I Jo 4, 2) como Santo Inácio de Antioquia lutam contra este erro. Jesus é verdadeiro homem que come, bebe, se cansa, caminha, chora, admira. Jesus caminhou pelas calçadas poeirentas de Israel. Jesus olhou com os próprios olhos para as crianças inocentes, para os homens enfermos, para os fariseus complicados. Jesus amou também com coração humano.

Ebionismo: Heresia difundida no século II em ambientes judaico-cristãos, nega que Cristo tenha sido gerado pelo Pai e reconhece nele o homem investido pelo Espírito Santo no batismo. Esta heresia foi condenada por Santo Irineu de Lyon, que diz que Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Verdadeiro Deus porque só Deus pode dar a salvação e restabelecer a união com os homens. Verdadeiro homem porque compete ao homem reparar a própria falta. Por ser Deus, reparou a ofensa infinita que o homem perpetrou contra Deus. Por ser homem, o homem ficou redimido e a sua conta saldada.

Adocionismo: Heresia difundida no século II por Teodoro, o Velho, e por Paulo de Samósata, que diz que Cristo é um simples homem, adotado por Deus como portador de uma graça divina excepcional. Nega, portanto, a Trindade, a divindade de Cristo e a encarnação do Verbo. É preciso voltar ao mesmo fato: Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Precisamos de fé para acreditar nisto, pois Cristo, não nos esqueçamos, é um mistério. Só os humildes e simples se abrem totalmente a este mistério.

Gnose cristã: Heresia difundida no século II por Márcio, Valentino, Epifânio e Simão o Mago, segundo a qual Jesus não é Deus, mas um eon no meio dos demais, que veio dar conhecimento aos homens enganados pelos próprios sentidos. Cristo desce sobre Jesus no momento do batismo. É uma heresia, porque cria em Jesus um dualismo de pessoas e desvirtua a sua missão divina e redentora. Esta heresia foi combatida por Hipólito e Santo Irineu. Em Jesus há uma só pessoa, a divina, com duas naturezas, a humana e a divina. De novo, o mistério, diante do qual os nossos joelhos têm que se dobrar. Se houvesse duas pessoas, teria também duas personalidades; haveria dois centros de comando. A saúde psíquica e psicológica correria risco. Esta única pessoa divina de Cristo faz uso das duas naturezas, sem mistura e confusão, como de duas mãos. As duas naturezas são instrumentos que a Pessoa divina de Jesus utiliza para realizar a sua missão salvadora.

Arianismo: Heresia difundida no século III por Ário, que nega a divindade de Cristo. Cristo, ele diz, é filho adotivo de Deus, não consubstancial ao Pai. E o Espírito Santo é a primeira criatura do Filho, portanto, inferior a Ele. Esta heresia foi condenada no concílio de Nicéia, de 325: “Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem”. São Jerônimo pronunciou esta frase célebre: “O mundo despertou um dia e gemeu ao ver-se ariano”. Muitíssimos sacerdotes e fiéis foram martirizados, bispos católicos mandados ao desterro e substituídos por arianos. Tudo isto por culpa do imperador Constâncio II, ariano, que tinha tomado posse de todo o Império. Foi ele quem disse: “Acabaram-se os niceianos (queria dizer os católicos); vencemos nós, os cristãos (queria dizer os arianos). Se pudéssemos agarrar e enforcar o bandido do bispo de Alexandria!”. Referia-se a um grande defensor da fé católica, Cirilo de Alexandria.

Apolinarismo: Heresia difundida no século IV por Apolinário, que nega a alma humana de Cristo, crendo que esta alma humana seria como a nossa, pecaminosa. Assim acreditava salvar a divindade de Cristo. A Igreja, no sínodo de Alexandria (362), assegurou a alma de Cristo dizendo: “O Verbo se encarnou para salvar alma e corpo; por isso teve que tomar um corpo”. O sínodo de Roma do ano 377 condenou a heresia de Apolinário. A alma humana de Cristo não é pecaminosa, porque não teve pecado original, e, portanto, tampouco as conseqüências desse pecado original com que nascemos todos nós, mortais. Só o pecado deixa a marca pecaminosa na alma. Jesus não teve pecado; a conclusão, portanto, é bem clara.

Nestorianismo: Heresia difundida no século V por Nestório, bispo de Constantinopla, que sustentava a teoria de duas pessoas em Cristo: uma divina e outra humana. O Concílio de Calcedônia, de 451, diz que em Cristo há duas naturezas distintas, unidas numa só pessoa, a do Verbo. O que pensaríamos de um homem que tivesse duas pessoas ou duas personalidades incorporadas em seu ser? Qual das duas mandaria? Que luta dentro do mesmo ser!

Monofisismo: Heresia difundida no século V por Eutiques, arquimandrita de Constantinopla, que sustentava uma só natureza em Cristo, a divina. A resposta foi dada pelo Concílio de Calcedônia de 451: em Cristo existem duas naturezas, uma divina e a outra humana. Se a heresia monofisita tivesse razão, como se explicariam tantas atitudes de Cristo no Evangelho? Jesus se cansava, comia, bebia, caminhava, chorava, se enchia de uma santa cólera. Se não tivesse natureza humana, não poderia ter atitudes e realizar atividades humanas.

Monotelismo: Heresia difundida no século VII por Sérgio, patriarca de Constantinopla, que sustentava uma só vontade em Cristo, a divina. A Igreja deu resposta no III Concílio de Constantinopla (680-681): “Em Cristo há duas vontades sem divisão, sem troca, sem separação nem confusão”. As duas vontades não se opõem em Cristo, porque a vontade humana segue sem resistir ou se opor, submetendo-se livre e amorosamente à vontade divina onipotente.
Esse é o ponto de partida para a compreensão do dogma de Maria como mãe de Deus, conhecido na língua grega como Theotokos que ao pé da letra se traduz para o português como aquela que pariu Deus (Theos=Deus, Tokos pariu), o latim traduziu como Mater Dei, que por sua vez a língua portuguesa traduziu como mãe de Deus.
O que temos no começo do Sec V d.C são duas tradições no oriente sobre a natureza de Jesus (Alexandria com o Logos/sarx. E de Antioquia com o Logos/antropos. O que é a cristologia logos/antropos? A distinção da natureza humana da divina, ou seja, é algo dividido.
A grande controvérsia está entre Cirilo e Nestorio, sendo que o primeiro será o grande responsável pelo titulo de Maria como Mãe de Deus. Nestorio critica o titulo de Theotokos, ele pensava contra aquilo que a Igreja dizia em relação a Maria, a quem se invocava como Theotokos, isso em Constantinopla onde os fieis rendiam um culto fervoroso a Maria com o titulo de Mãe de Deus. De todas as maneiras, parece historicamente certo que este apelativo mariano estava presente não só na piedade popular, mais também na liturgia e na linguagem da época. Nestorio chega a mandar uma carta para o Papa Celestino lembrando a ele que o concilio de Niceia não havia dito nada a respeito sobre a Virgem Maria e que só havia dito que Nosso Senhor se fez homem por obra do Espírito Santo no seio da virgem Maria. Diz que os apóstolos se referem a Maria somente como Mãe de Jesus, e nunca como mãe de Deus. Nestorio também se dirige a Cirilo dizendo: “ em toda a sagrada escritura, quando se recorda a economia do Senhor, nos diz que ao nascimento e a paixão não são da divindade, porém da humanidade de Cristo; por tanto, si queremos ser exatos nos adjetivos, a Santa Virgem deve chamar-se Mãe de Cristo e não mãe de Deus. Nestorio preferia o titulo de Cristotokos, ao invés de Theotokos.
A CRISTOLOGIA DE NESTORIO
1° A afirmação de dois filhos em Cristo, o logos divino e o homem Jesus.
2° um simples homem e logo depois adotado como filho
Resumindo: duas naturezas, duas pessoas.
A CRISTOLOGIA DE CIRILO

Logos/sarx. O verbo se fez carne. A natureza humana é completa, mas permanece como instrumento passivo. A escola Antioquena acentuava a autonomia da natureza humana ate constituí-la em um segundo sujeito junto ao logos. Cirilo evita os termos homo assumptus e tudo o que possa favorecer a divisão em Cristo. Para Cirilo, no verbo encarnado, o homem é o verbo, mas o verbo enquanto unido à carne. Consequente a isso é poder dizer que: a possibilidade de poder atribuir a pessoa divina propriedades ou características tanto humanas como divinas. Se pode dizer que, por exempo, que Deus padeceu e foi morto mais o sofrimento e a morte propriamente só se dão na humanidade. Cirilo explica que ao afirmar tal doutrina, pode-se falar corretamente de Maria como Theotokos. Por isso os Santos Padres tem a valentia de definir a santa virgem como mãe de Deus, ano porque a natureza do logos, sua divindade, tenha começado a existir em Maria, mais que do logos foi gerado dela, o santo corpo animado racionalmente, que está unido a ela segundo a sua natureza. A formula significa que no único sujeito que é o logos encarnado subsiste de maneira integra e as características da humanidade e da divindade.
Tal definição dogmática foi acatada pelo concilio de Éfeso a proclamando Theotokos acatando as ideias de Cirilo. Em há duas naturezas em uma unidade. Verdadeiro Deus, verdadeiro homem. O verbo unindo a si em sua pessoa uma carne animada por uma alma racional se tornou homem. Maria se tornou de verdade Mãe de Deus pela concepção humana  do filho de Deus tirou dela sua natureza divina, mas porque é dela que ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o verbo nasceu segundo a carne.

Assim formulou o Concilio: Santa Maria mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amem!

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