O
CONCÍLIO VATICANO II
a) A figura do seu idealizador: o papa
João XXIII
Ângelo Roncalli nasceu em 25 de novembro de 1891 na diocese de Bérgamo,
de família humilde, teve bastantes dificuldades econômicas, foi seu tio quem
assumiu as despesas do seminário. Foi para Roma e foi ordenado em 1904 (Época
do Modernismo). Depois de ordenado retorna para Bérgamo, ficando de 1904 a 1914 como secretário
do bispo. Em 1914 começou a II Guerra Mundial e de 1915 a 1918 ficou como
capelão militar na guerra, época que marcou a sua vida (incansável defensor da
paz). Voltando para a diocese fica de 1918 a 1920 trabalhando no seminário como
professor de História. Foi chamado a Roma para ser diretor da obra da
propagação da fé (Propaganda Fidei) de 1920 a 1925. Em 13 de março de 1925 foi eleito
bispo e começou a sua experiência internacional, trabalhou na diplomacia de 1925 a 1952. Em 25 de abril
de 1925 foi visitador e depois delegado apostólico na Bulgária (cristãos de
maioria ortodoxa). De 1935 a
1944 foi ser delegado apostólico na Turquia e Grécia. Em 1944 Núncio Apostólico
na França. Em 1952 foi escolhido cardeal e assumiu o patriarcado de Veneza onde
ficou até 1958.
Após a morte de Pio XII, foi eleito papa em 28 de outubro após onze
escrutínios. Escolheu o nome de João XIII, pois o seu pai se chamava joão e foi
batizado na Igreja de São João Batista; tinha 77 anos quando foi eleito papa.
No dia da coroação em 04 de novembro se dá a conhecer:
* A missão do papa é religiosa e pastoral: “a missão do papa é ser bom
pastor”;
* Em dezembro vai fazer algo que os antigos papas costumavam fazer e que
havia sido esquecido: visita os hospitais e a prisão em Roma nos dias de natal;
* Faz a sua primeira escolha de cardeais (23 cardeais), a lista chama a
atenção, pois o primeiro nome é o do arcebispo de Milão: Giovanni Batista
Montini.
* No dia 25 de janeiro de 1959, no encerramento da semana de oração pelos
cristãos, João XIII anunciou o Concílio Ecumênico, um Sínodo Romano e a reforma
do Código de Direito Canônico.
b) O seu Desenvolvimento
O Concílio teve quatro fases, somente na primeira fase esteve presente
João XIII; as demais foram dirigidas pelo cardeal Montini que foi eleito papa
escolhendo o nome de Paulo VI.
Nem todos acharam boa a idéia do Concílio, os cardeais e a Cúria Romana
viram isso com certa desconfiança. Em 17 de maio de 1959 temos o início da
comissão preparatória. Se pensou em primeiro lugar mandar um questionário para
os bispos, mas se descartou essa idéia e foi pedido em 18 de julho de 1959 que
os bispos enviassem quais seriam as questões a serem tratadas no Concílio; que
presidiu essa comissão foi o cardeal Tardini. De 2593 bispos questionados, 1998
responderam; o trabalho dessa comissão foi de classificação de tudo aquilo que
fora enviado pelos bispos. Em 14 de julho de 1959 aconteceu um discurso do papa
no Vaticano dizendo que o Concílio era um Concílio próprio e não uma
continuação do anterior. Em 05 de junho de 1960 começa a fase preparatória do
Concílio. Essa comissão teve um certo problema, pois os presidentes das
comissões foram os presidentes das Congregações da Cúria Romana e os esquemas
preparados foram um pouco contraditórios à posição de João XIII; esses esquemas
foram rejeitados pelo Concílio com exceção do documento sobre liturgia; os demais
tiveram que ser novamente escritos pela comissão. Em geral, esses esquemas
tentaram colocar os ensinamentos doutrinários e disciplinares dos outros papas,
sobretudo de Pio XII. João XIII queria uma atualização da Igreja aos novos
tempos, formas de transmitir a doutrina; tentou construir uma ponte para o
diálogo. Passados 2 anos, tem-se aproximadamente 70 esquemas escritos, somente 16 foram aprovados. A Cúria
queria que o Concílio tivesse início mais adiante, mas o papa queria o início
para 1962. Em 02 de fevereiro de 1962 foi dada como concluída a fase
preparatória para o Concílio e assim foi marcada à abertura para o dia 11 de
outubro do mesmo ano. Foram enviados esquemas para os bispos, sobretudo o da
liturgia e o regulamento do Concílio dizendo que funcionaria como os anteriores[1]. O
regulamento prevê a presença de peritos, isto é, teólogos que ajudarão aos
bispos em determinadas temáticas tratadas no concílio, esses peritos não tiveram
direito de voto. Serão estes peritos os grandes teólogos após o Vaticano II;
eles que na década de 50 tiveram que silenciar, agora aparecem no Concílio como
grandes assessores dos bispos.
c) Comissões do Concílio
Em
preparação para o concílio, algumas comissões foram formadas, são elas:
comissão central, dogmática, bispos, governo das dioceses, disciplina do clero,
sacramentos, liturgias, seminários, religiosos, Igrejas orientais, missões,
apostolados dos leigos e secretariado para a união dos cristãos. Os presidentes
destas comissões eram os presidentes das respectivas congregações curiais. Os
presidentes pensavam que os esquemas sendo feitos em fase aos documentos de Pio
XII, logo seriam aprovados e logo concluiriam o concílio. Em 16 de fevereiro de
1962 foi estabelecido o Motu Próprio Concílio, a data de abertura do concílio
para o dia 11 de outubro de 1962. foram enviados sete esquemas para os bispos
onde não ficaram satisfeitos, pois existia uma distância entre o discurso do
papa e o que ali vinha apresentado. O esquema da liturgia foi o único aceito
pelos bispos, mas mesmo assim não foi aprovado na primeira fase do concílio. O
regulamento foi publicado um mês antes, em 05 de setembro de 1962. Existia um
plenário, um grupo de comissões, um conselho de presidência, os esquemas eram
aprovados e depois o documento em sessão solene. Em 13 de outubro foi pedido
que fosse adiada a votação das comissões para que os bispos pudessem se
conhecer melhor. O regulamento previa a assistência nas sessões solenes de
observadores por parte dos cristãos separados (protestantes e ortodoxos); na
primeira fase teremos 48 observadores e no final 100, tem-se a presença de
ouvintes leigos.
A sessão solene de abertura foi dia
11 de outubro de 1962; alguns cardeais europeus pediram adiamento para um
melhor conhecimento entre eles, demonstrando certa consciência conciliar. A
votação vai acontecer em 16 de outubro, mas as conferências episcopais
fizeram uma lista de sugestões onde
solicitam que não se renove a mesma comissão preparatória, mas que sejam
formadas por novos membros. O papa dispôs que o primeiro esquema discutido no
concílio fosse o da liturgia. Neste concílio houve quatro fases:
1ª fase: 11/10/1962 a 08/12/1962.
2ª fase: 29/09/1963 a 04/12/1963.
3ª fase: 14/09/1964 a 21/11/1964.
4ª fase: 14/09/1965 a 08/12/1965.
O primeiro documento vai ser o da
liturgia, existia uma pequena minoria que não aceitava as questões propostas,
em particular a língua vulgar, por causa disso, o texto não vai ser aprovado na
primeira fase. Em 14 de novembro começaram a debater o esquema chamado “as
fontes da revelação”; só o nome já causou problemas, pois muitos no diálogo
ecumênico rejeitavam o nome “as fontes”; vai receber críticas radicais, se
recusavam a colocar no mesmo nível a palavra de Deus e a tradição, antes era
opinião predominante que ao a palavra de Deus era a fonte primária da
revelação. Houve 1381 votos contra e 822 a favor. O papa vai pedir que o documento
seja reelaborado pó uma comissão mista formada por membros da mesma comissão
teológica, mas também do secretariado para a unidade, começa a tirar a
hegemonia da cúria sob os trabalhos conciliares. Vão até 20 de novembro as
discussões sobre o assunto. Em 23 de novembro, o concílio entra na última fase
do primeiro período. São colocados dois outros esquemas: meios de comunicação
social e unidade da Igreja. O esquema sobre a unidade da Igreja não estava bem elaborado
e se decidiu retornar a fazer uma comissão mista para trabalhar a questão. No
mesmo dia é distribuído o esquema mais esperado, sobre a Igreja, que na opinião
de muitas pessoas deveria reequilibrar as dimensões do Vaticano I; o esquema
sobre a Igreja vai gerar o documento chamado “Lumen Gentium”. A essa altura já
é possível perceber um grande crescimento pos parte dos bispos naquilo que
teriam que fazer um nível elevado da compreensão do que verdadeiramente era o
concílio. As seis últimas congregações gerais do concílio foram dedicadas ao
exame do esquema “De ecclesia”. Embora o esquema fosse considerado uns dos
melhores dentre os aprovados pela comissão teológica, levantaram-se grandes
objeções não só em relação a sua redação, mas também a linha eclesiástica que o
inspirava.
O concílio concluía a primeira fase
numa situação de instabilidade; nenhum dos esquemas examinados havia concluído
seu item. Excetuando-se o projeto sobre a reforma litúrgica, nada do que tinha
sido preparado previamente, obtivera consenso. Os documentos mais debatidos
serão: Sacrosanctum Concilium (sobre a liturgia); Lumen Gentium (sobre a
Igreja); Dignitatis humanae (liberdade religiosa); e Gaudium et spes (Igreja e
mundo).
Na vigília de suspensão do concílio
foi distribuído aos padres um fascículo no qual as várias dezenas de esquemas
preparatórios eram sistematizados em vinte assuntos. No dia 11 de abril de 1963
foi publicada, mesmo com o estado de saúde do papa, a encíclica “Pacem in
teris”; dia 03 de junho de 1963, dia de Pentecostes morre João XXIII.
Paulo VI vai ser eleito papa em 21
de Junho de 1963 e a parte mais importante do seu pontificado será dar
continuação ao concílio em andamento, para o qual dirigi-se os olhares de todos
os homens de boa vontade. No dia 27 de junho, o secretário do Estado anunciou
que o papa havia determinado não só a continuação do concílio, mas fixado para
o dia 29 de setembro a retomada dos trabalhos, que ficaram assim adiados apenas
por duas semanas, que tinha sido a duração da vacância da sede de Pedro.
d)
Giovvanni Battista Montini
Nasceu em 26 de setembro de 1897 em
Concesio; em 1916 entra no seminário, sendo ordenado em 29 de maio de 1920. Em
1923 começa a trabalhar como diplomata em Varsóvia (Polônia); via ser nomeado
no mesmo ano assistente eclesiástico da Federação Universitária Católica
Italiana. Em 1924 começa a trabalhar na secretaria do Estado até ir para Milão.
Em 1925 se torna assistente nacional da FUCI; em 1933 sai da federação. Em 1937
vai ser substituído da secretaria do Estado. Em 12 de dezembro de 1954 foi
consagrado bispo, sendo arcebispo de Milão; em 15 de dezembro de 1959 foi escolhido
cardeal por João XXIII. No dia 21 de junho de 1963, depois de cinco escrutinhos
do conclave que durou três dias, foi eleito papa com o nome de Paulo VI. Morreu
em 06 de agosto de 1978. Quando foi escolhido, falou que seu plano era dar
seguimento ao concílio, transfere a data da segunda fase que deveria começar
duas semanas antes, para o dia 29 de setembro de 1963. Quando inaugurou o
segundo período, Paulo VI lembrou quatro objetivos do concílio: a exposição da
teologia da Igreja, a sua renovação interior, a promoção da unidade dos
cristãos e o diálogo com o mundo contemporâneo. Em outubro de 1963 só deu
início a discussão sobre o esquema da “De Ecclesia” que já vinha sendo
discutida deste a primeira fase. Superada a crise sobre a “De Ecclesia”, começa
em novembro a discussão sobre o esquema relativo ao ofício e aos poderes dos
bispos. Em 18 de dezembro de 1963 começa a discussão sobre o ecumenismo; na
parte que tratava dos judeus e da ordem religiosa, foi bastante contestada. Em
04 de dezembro temos a aprovação da “Sacrosanctum Concilium” e do decreto
“Inter Mirifica” (meios de comunicação social).
No discurso de encerramento
da segunda fase, Paulo VI sublinhou os resultados conseguidos e o grande trabalho ainda por
fazer, advertiu contra impaciência e iniciativas arbitrárias na aplicação da
reforma litúrgica e, enfim, anunciou a própria decisão de realizar uma
peregrinação a Jerusalém, durante a qual se encontraria como patriarca de
Constantinopla,Atenágoras. A terceira fase teve início em 14 de setembro de
1964, temos ai uma nova participação de observadores (do patriarcado de
Constantinopla e das Igrejas nestorianas); começam o trabalho sobre outros
documentos já discutidos anteriormente: De Ecclesia, De cecumenismo e De
episcoporum munere, e sobre outros três: Revelação, Apostolado dos leigos e
Igreja no Mundo Contemporâneo. Em 21 de novembro de 1964 a Lumen Gentium foi
aprovada. Os outros documentos não tiveram tanto problema como a Lumen Gentium
e Dignitatis Humanae. O Vaticano II é algo de grande importância para a
História da Igreja Contemporânea.