segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O CONCÍLIO VATICANO II

O CONCÍLIO VATICANO II

a) A figura do seu idealizador: o papa João XXIII

Ângelo Roncalli nasceu em 25 de novembro de 1891 na diocese de Bérgamo, de família humilde, teve bastantes dificuldades econômicas, foi seu tio quem assumiu as despesas do seminário. Foi para Roma e foi ordenado em 1904 (Época do Modernismo). Depois de ordenado retorna para Bérgamo, ficando de 1904 a 1914 como secretário do bispo. Em 1914 começou a II Guerra Mundial e de 1915 a 1918 ficou como capelão militar na guerra, época que marcou a sua vida (incansável defensor da paz). Voltando para a diocese fica de 1918 a 1920 trabalhando no seminário como professor de História. Foi chamado a Roma para ser diretor da obra da propagação da fé (Propaganda Fidei) de 1920 a 1925. Em 13 de março de 1925 foi eleito bispo e começou a sua experiência internacional, trabalhou na diplomacia de 1925 a 1952. Em 25 de abril de 1925 foi visitador e depois delegado apostólico na Bulgária (cristãos de maioria ortodoxa). De 1935 a 1944 foi ser delegado apostólico na Turquia e Grécia. Em 1944 Núncio Apostólico na França. Em 1952 foi escolhido cardeal e assumiu o patriarcado de Veneza onde ficou até 1958.
Após a morte de Pio XII, foi eleito papa em 28 de outubro após onze escrutínios. Escolheu o nome de João XIII, pois o seu pai se chamava joão e foi batizado na Igreja de São João Batista; tinha 77 anos quando foi eleito papa. No dia da coroação em 04 de novembro se dá a conhecer:
* A missão do papa é religiosa e pastoral: “a missão do papa é ser bom pastor”;
* Em dezembro vai fazer algo que os antigos papas costumavam fazer e que havia sido esquecido: visita os hospitais e a prisão em Roma nos dias de natal;
* Faz a sua primeira escolha de cardeais (23 cardeais), a lista chama a atenção, pois o primeiro nome é o do arcebispo de Milão: Giovanni Batista Montini.
* No dia 25 de janeiro de 1959, no encerramento da semana de oração pelos cristãos, João XIII anunciou o Concílio Ecumênico, um Sínodo Romano e a reforma do Código de Direito Canônico.

b) O seu Desenvolvimento

O Concílio teve quatro fases, somente na primeira fase esteve presente João XIII; as demais foram dirigidas pelo cardeal Montini que foi eleito papa escolhendo o nome de Paulo VI.
Nem todos acharam boa a idéia do Concílio, os cardeais e a Cúria Romana viram isso com certa desconfiança. Em 17 de maio de 1959 temos o início da comissão preparatória. Se pensou em primeiro lugar mandar um questionário para os bispos, mas se descartou essa idéia e foi pedido em 18 de julho de 1959 que os bispos enviassem quais seriam as questões a serem tratadas no Concílio; que presidiu essa comissão foi o cardeal Tardini. De 2593 bispos questionados, 1998 responderam; o trabalho dessa comissão foi de classificação de tudo aquilo que fora enviado pelos bispos. Em 14 de julho de 1959 aconteceu um discurso do papa no Vaticano dizendo que o Concílio era um Concílio próprio e não uma continuação do anterior. Em 05 de junho de 1960 começa a fase preparatória do Concílio. Essa comissão teve um certo problema, pois os presidentes das comissões foram os presidentes das Congregações da Cúria Romana e os esquemas preparados foram um pouco contraditórios à posição de João XIII; esses esquemas foram rejeitados pelo Concílio com exceção do documento sobre liturgia; os demais tiveram que ser novamente escritos pela comissão. Em geral, esses esquemas tentaram colocar os ensinamentos doutrinários e disciplinares dos outros papas, sobretudo de Pio XII. João XIII queria uma atualização da Igreja aos novos tempos, formas de transmitir a doutrina; tentou construir uma ponte para o diálogo. Passados 2 anos, tem-se aproximadamente 70 esquemas  escritos, somente 16 foram aprovados. A Cúria queria que o Concílio tivesse início mais adiante, mas o papa queria o início para 1962. Em 02 de fevereiro de 1962 foi dada como concluída a fase preparatória para o Concílio e assim foi marcada à abertura para o dia 11 de outubro do mesmo ano. Foram enviados esquemas para os bispos, sobretudo o da liturgia e o regulamento do Concílio dizendo que funcionaria como os anteriores[1]. O regulamento prevê a presença de peritos, isto é, teólogos que ajudarão aos bispos em determinadas temáticas tratadas no concílio, esses peritos não tiveram direito de voto. Serão estes peritos os grandes teólogos após o Vaticano II; eles que na década de 50 tiveram que silenciar, agora aparecem no Concílio como grandes assessores dos bispos.

c) Comissões do Concílio

            Em preparação para o concílio, algumas comissões foram formadas, são elas: comissão central, dogmática, bispos, governo das dioceses, disciplina do clero, sacramentos, liturgias, seminários, religiosos, Igrejas orientais, missões, apostolados dos leigos e secretariado para a união dos cristãos. Os presidentes destas comissões eram os presidentes das respectivas congregações curiais. Os presidentes pensavam que os esquemas sendo feitos em fase aos documentos de Pio XII, logo seriam aprovados e logo concluiriam o concílio. Em 16 de fevereiro de 1962 foi estabelecido o Motu Próprio Concílio, a data de abertura do concílio para o dia 11 de outubro de 1962. foram enviados sete esquemas para os bispos onde não ficaram satisfeitos, pois existia uma distância entre o discurso do papa e o que ali vinha apresentado. O esquema da liturgia foi o único aceito pelos bispos, mas mesmo assim não foi aprovado na primeira fase do concílio. O regulamento foi publicado um mês antes, em 05 de setembro de 1962. Existia um plenário, um grupo de comissões, um conselho de presidência, os esquemas eram aprovados e depois o documento em sessão solene. Em 13 de outubro foi pedido que fosse adiada a votação das comissões para que os bispos pudessem se conhecer melhor. O regulamento previa a assistência nas sessões solenes de observadores por parte dos cristãos separados (protestantes e ortodoxos); na primeira fase teremos 48 observadores e no final 100, tem-se a presença de ouvintes leigos.
            A sessão solene de abertura foi dia 11 de outubro de 1962; alguns cardeais europeus pediram adiamento para um melhor conhecimento entre eles, demonstrando certa consciência conciliar. A votação vai acontecer em 16 de outubro, mas as conferências episcopais fizeram  uma lista de sugestões onde solicitam que não se renove a mesma comissão preparatória, mas que sejam formadas por novos membros. O papa dispôs que o primeiro esquema discutido no concílio fosse o da liturgia. Neste concílio houve quatro fases:
            1ª fase: 11/10/1962 a 08/12/1962.
            2ª fase: 29/09/1963 a 04/12/1963.
            3ª fase: 14/09/1964 a 21/11/1964.
            4ª fase: 14/09/1965 a 08/12/1965.
            O primeiro documento vai ser o da liturgia, existia uma pequena minoria que não aceitava as questões propostas, em particular a língua vulgar, por causa disso, o texto não vai ser aprovado na primeira fase. Em 14 de novembro começaram a debater o esquema chamado “as fontes da revelação”; só o nome já causou problemas, pois muitos no diálogo ecumênico rejeitavam o nome “as fontes”; vai receber críticas radicais, se recusavam a colocar no mesmo nível a palavra de Deus e a tradição, antes era opinião predominante que ao a palavra de Deus era a fonte primária da revelação. Houve 1381 votos contra e 822 a favor. O papa vai pedir que o documento seja reelaborado pó uma comissão mista formada por membros da mesma comissão teológica, mas também do secretariado para a unidade, começa a tirar a hegemonia da cúria sob os trabalhos conciliares. Vão até 20 de novembro as discussões sobre o assunto. Em 23 de novembro, o concílio entra na última fase do primeiro período. São colocados dois outros esquemas: meios de comunicação social e unidade da Igreja. O esquema sobre a unidade da Igreja não estava bem elaborado e se decidiu retornar a fazer uma comissão mista para trabalhar a questão. No mesmo dia é distribuído o esquema mais esperado, sobre a Igreja, que na opinião de muitas pessoas deveria reequilibrar as dimensões do Vaticano I; o esquema sobre a Igreja vai gerar o documento chamado “Lumen Gentium”. A essa altura já é possível perceber um grande crescimento pos parte dos bispos naquilo que teriam que fazer um nível elevado da compreensão do que verdadeiramente era o concílio. As seis últimas congregações gerais do concílio foram dedicadas ao exame do esquema “De ecclesia”. Embora o esquema fosse considerado uns dos melhores dentre os aprovados pela comissão teológica, levantaram-se grandes objeções não só em relação a sua redação, mas também a linha eclesiástica que o inspirava.
            O concílio concluía a primeira fase numa situação de instabilidade; nenhum dos esquemas examinados havia concluído seu item. Excetuando-se o projeto sobre a reforma litúrgica, nada do que tinha sido preparado previamente, obtivera consenso. Os documentos mais debatidos serão: Sacrosanctum Concilium (sobre a liturgia); Lumen Gentium (sobre a Igreja); Dignitatis humanae (liberdade religiosa); e Gaudium et spes (Igreja e mundo).
            Na vigília de suspensão do concílio foi distribuído aos padres um fascículo no qual as várias dezenas de esquemas preparatórios eram sistematizados em vinte assuntos. No dia 11 de abril de 1963 foi publicada, mesmo com o estado de saúde do papa, a encíclica “Pacem in teris”; dia 03 de junho de 1963, dia de Pentecostes morre João XXIII.
            Paulo VI vai ser eleito papa em 21 de Junho de 1963 e a parte mais importante do seu pontificado será dar continuação ao concílio em andamento, para o qual dirigi-se os olhares de todos os homens de boa vontade. No dia 27 de junho, o secretário do Estado anunciou que o papa havia determinado não só a continuação do concílio, mas fixado para o dia 29 de setembro a retomada dos trabalhos, que ficaram assim adiados apenas por duas semanas, que tinha sido a duração da vacância da sede de Pedro.

            d) Giovvanni Battista Montini

            Nasceu em 26 de setembro de 1897 em Concesio; em 1916 entra no seminário, sendo ordenado em 29 de maio de 1920. Em 1923 começa a trabalhar como diplomata em Varsóvia (Polônia); via ser nomeado no mesmo ano assistente eclesiástico da Federação Universitária Católica Italiana. Em 1924 começa a trabalhar na secretaria do Estado até ir para Milão. Em 1925 se torna assistente nacional da FUCI; em 1933 sai da federação. Em 1937 vai ser substituído da secretaria do Estado. Em 12 de dezembro de 1954 foi consagrado bispo, sendo arcebispo de Milão; em 15 de dezembro de 1959 foi escolhido cardeal por João XXIII. No dia 21 de junho de 1963, depois de cinco escrutinhos do conclave que durou três dias, foi eleito papa com o nome de Paulo VI. Morreu em 06 de agosto de 1978. Quando foi escolhido, falou que seu plano era dar seguimento ao concílio, transfere a data da segunda fase que deveria começar duas semanas antes, para o dia 29 de setembro de 1963. Quando inaugurou o segundo período, Paulo VI lembrou quatro objetivos do concílio: a exposição da teologia da Igreja, a sua renovação interior, a promoção da unidade dos cristãos e o diálogo com o mundo contemporâneo. Em outubro de 1963 só deu início a discussão sobre o esquema da “De Ecclesia” que já vinha sendo discutida deste a primeira fase. Superada a crise sobre a “De Ecclesia”, começa em novembro a discussão sobre o esquema relativo ao ofício e aos poderes dos bispos. Em 18 de dezembro de 1963 começa a discussão sobre o ecumenismo; na parte que tratava dos judeus e da ordem religiosa, foi bastante contestada. Em 04 de dezembro temos a aprovação da “Sacrosanctum Concilium” e do decreto “Inter Mirifica” (meios de comunicação social).
            No discurso de encerramento da segunda fase, Paulo VI sublinhou os resultados  conseguidos e o grande trabalho ainda por fazer, advertiu contra impaciência e iniciativas arbitrárias na aplicação da reforma litúrgica e, enfim, anunciou a própria decisão de realizar uma peregrinação a Jerusalém, durante a qual se encontraria como patriarca de Constantinopla,Atenágoras. A terceira fase teve início em 14 de setembro de 1964, temos ai uma nova participação de observadores (do patriarcado de Constantinopla e das Igrejas nestorianas); começam o trabalho sobre outros documentos já discutidos anteriormente: De Ecclesia, De cecumenismo e De episcoporum munere, e sobre outros três: Revelação, Apostolado dos leigos e Igreja no Mundo Contemporâneo. Em 21 de novembro de 1964 a Lumen Gentium foi aprovada. Os outros documentos não tiveram tanto problema como a Lumen Gentium e Dignitatis Humanae. O Vaticano II é algo de grande importância para a História da Igreja Contemporânea.




[1] Todo esse material foi enviado aos bispos um mês antes do seu início.

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