sábado, 13 de fevereiro de 2016

INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS

EVANGELHO SEGUNDO MATEUS
1.    Autoria (Do livro Introdução ao Novo Testamento. Brown).
Se retrocedermos no tempo, o titulo segundo Mateus foi acrescentado a esse escrito somente no século II d.C. Certo Mateus aparece na lista dos doze, em Mt 10,3 existe uma identificação: “o publicano” ligado a Mt 9,9. Mais a quem Mc e Lc chamam de Levi? Um homem não pode ter dois nomes semíticos, se identificarmos Levi com Mateus devemos supor que Jesus mudou seu nome.
Existe a Tradição de Papias por volta do ano 125 cujo o dito diz, que Mateus escreveu um evangelho em língua hebraica (aramaica) e cada um traduzia conforme era capaz. A pretensão de que Mateus foi o primeiro evangelho a ser escrito aparece com Clemente de Alexandria, Origines e Eusébio.
O evangelho mateano canônico existe em grego. Estaria Papias se referindo a um original semítico do qual o texto foi traduzido? Três observações:
1                   Na Antiguidade, havia um evangelho judeu, provavelmente em língua aramaica, usado pelos cristãos palestinenses e associado pelos padres da Igreja aos judeus nazarenos (veio a ser conhecido como o evangelho dos nazarenos. Havia outra obra o evangelho dos Hebreus). Jeronimo afirmou que o traduziu para o grego e, por vezes, o trata quase como se fosse o original semítico por trás de Mateus.
2                   Existem formas hebraicas medievais de Mateus consideradas, pela maioria dos estudiosos, retroversões do Mateus grego canônico, feitas para disputas entre judeus e cristãos.
3                   Outros estudiosos pensam que ainda podem reconstruir o original hebraico, que subjaz ao todo ou a partes do texto grego canônico de Mateus.
A maioria dos estudiosos, porém, acreditam que o evangelho que conhecemos de Mateus foi composto originalmente em grego e não é tradução de um original semítico. Se fosse tradução, como é que se pode aceitar que Mateus se serviu de Marcos para escrever o evangelho, já que Mateus foi testemunha ocular? Ou Papias estava errado ao atribuir um evangelho em hebraico a Mateus, ou a composição hebraica que ele descreveu não era a obra que nós conhecemos em grego como o Mateus canônico.
Ao falar de ditos, estaria Papias referindo-se a Q, que o Mateus canônico usou? Já que Papias não podia descrevê-la , estaria falando  de um original semítico do estagio mais antigo de Q, um estagio que somente com muita dificuldade e incerteza pode ser reconstruído? Outros lançam a hipótese de uma coleção aramaica de ditos da qual se serviram Mateus, Marcos e Q.
A guisa de avaliação geral sobre o problema de Mateus, o melhor é aceitar a opinião comum de que o Mateus canônico foi escrito originalmente em grego por uma testemunha não-ocular, cujo nome nos é desconhecido e que dependeu de fontes como Marcos e Q.
Hoje o tópico discutido é se o desconhecido evangelista canônico era um judeu-cristão ou um gentio cristão. A favor da identificação do evangelista como um judeu-cristão, a tradição de Papias pelo menos sugere um contexto judaico para Mateus. O uso que o evangelista faz do antigo testamento indica que ele sabia o hebraico e talvez ate o aramaico, uma proeza improvável para um gentio.
Existem muitos traços do pensamento e da teologia judaica em Mateus: a narrativa da infância com uma genealogia; um paralelismo entre Moises e Jesus; o conhecimento das lendas judaicas; o sermão da montanha com modificações da lei; disputas com os fariseus; as imagens da autoridade de Pedro; o material especial no relato da paixão, que é quase um midrash de passagens veterotestamentárias.
Muitos encontrariam em Mateus 13,52 a autodescrição do evangelista. Tal reverencia pelo passado está testemunhada no acréscimo mateano (Mt 9,17 a Mc 2,22, que enfatiza que tanto o velho quanto o novo são conservados.

2.    Ambiente ou comunidade implícita
Por volta do século II, escritores eclesiásticos situavam a composição de Mateus na Palestina (Irineu situa-o na própria língua deles. Eusébio). Entretanto, alguns dos contextos palestinenses proprostos “Mt 23,5”, podem refletir o tempo de Jesus, e não o ambiente vital do evangelho. A opinião majoritária liga Mateus à Síria, especificamente a Antioquia. Em Mt 4,24 acrescenta-se Síria à  descrição marcana da atividade de Jesus.
A influência predominante que Mateus teria no cristianismo subsequente sugere que ele foi usado como o evangelho de uma Igreja cristã importante, numa cidade, como Antioquia. A comunidade em que o autor vive é, com muita probabilidade, Antioquia na Síria (At 11,19-26; 13,1). Terceira cidade do império depois de Roma e Alexandria.
A comunidade de Antioquia, formada em grande parte por judeus da diáspora com uma minoria de pagãos convertidos, é mais aberta na interpretação da Bíblia, na aplicação da lei, no relacionamento com os pagãos do que Jerusalém conservadora ligada à tradição. Foi em Antioquia que pela primeira vez os que creram no nome de Jesus, foram chamados de cristãos (At 11,26).
A interpretação mais plausível é a de que o evangelho de Mateus foi endereçado a uma Igreja, no inicio fortemente judaico cristã, cuja composição se tornou progressivamente gentia. Flavio José comenta no seu livro Antiguidade Judaicas, que existiam mais judeus em Antioquia do que em qualquer lugar da Síria. Não surpreende que os judeus cristãos helenistas quando foram expulsos de Jerusalém depois do martírio de Estevão (36 d.C At 8,1, e chegaram a Antioquia tenham falado do nome de Cristo aos gentios ali também (At 11,19-20). Foi em Antioquia que Pedro, Paulo e os da parte de Tiago ( o irmão do Senhor) discordaram asperamente  a respeito de como as leis judaicas acerca dos alimentos afetavam as relações comensais entre os judeus e os gentios cristãos.
3.    Data da redação
A opinião majoritária data Mateus entre 70 e 100, mas alguns importantes estudiosos conservadores defendem uma data anterior a 70, pois a datação do século II está descartada.
Mateus não deixa entrever nenhuma noção do problema do gnosticismo, se Mateus foi escrito na região de Antioquia, foi escrito provavelmente antes de Inácio de Antioquia (110) para quem o gnosticismo era uma ameaça.
No estremo muitos dos que julgam que o próprio apostolo Mateus escreveu o evangelho tendem uma datação pré 70. Existem argumentos de peso em relação à hipótese de uma redação tão antiga:
·         A formula em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo, é o passo mais avançado do NT numa direção trinitária, e é mais facilmente compreendido se dado no final do período veterotestamentario.
·         Em Mateus 28,20 é dado mais ênfase ao nome de Jesus, do que a sua segunda vinda.
·         As polemicas com os fariseus em Mateus e a condenação do uso indiscriminado do titulo “RABI” é apropriado para atmosfera do período rabínico primitivo depois do ano 70.
·         Duas passagens de Mateus 27,8; 28,15 descrevem tópicos na narrativa da paixão que são lembrados como “ate hoje” usando uma frase veterotestamentaria para explicar o topônimos bem antigos (Gn 26,33). Tais descrições são inadequadas se Mateus tivesse escrito somente duas décadas depois de 30/33 d.C. Provavelmente. O melhor argumento para uma data pós 70 seja dependência de Mateus em relação a Marcos, um evangelho comumente datado do período de 68-70.
4.    Temas e problemas para a reflexão
A leitura mais bem documentada de Mt 1,16 é: Jacó gerou José, o esposo de Maria, da a qual nasceu Jesus chamado Cristo. Há variantes nesse versículo em relação “o esposo de Maria”
Mt 6,13 no manuscrito KJV, tem uma doxologia ou atribuição que conclui a oração do Senhor. Essa sentença faltava na vulgata, dai originou-se um problema ecumênico. Hoje a maioria dos críticos reconhecem que não foi escrito pelo evangelista, mais era uma antiga expansão para o uso litúrgico baseada em 1 Cr 29,11. A atestação mais antiga se encontra na Didaqué 8.2: “pois teu é o poder e a gloria para sempre”. O problema entre os católicos e protestantes foi resolvido, na missa depois do Pai nosso foi acrescentado o vosso é o Reino... graças ao Papa Paulo VI.
Os principais acentos de Mateus:
 CRISTOLOGICAMENTE.
A revelação divina acerca de Jesus como o Messias, o Filho do Deus vivo, parece no meio do evangelho (Mt 16,16). As expressões Filho de Deus e do Filho do homem predominam amplamente e a denominação Emanuel surge no começo e no fim.
Jesus é comparado a Moises na narrativa da infância e no sermão da montanha; o paralelismo é forte com Davi na genealogia e nos últimos dias de Jesus; a identificação de Jesus com a divina sabedoria em Mt 11,19,27 se faz presente; o Filho é colocado no final do evangelho em relação ao Pai e ao Espirito.
ECLESIOLOGICAMENTE
A questão da fundação da Igreja aparece em Mt 16,18-19. As qualidades a serem salientadas se encontram no capitulo 18.
ESCATOLOGICAMENTE
O surgimento de Jesus assinalando uma mudança na historia, já é antecipado no relato da infância “a estrela”.
Os acontecimentos da morte de Jesus como: terremoto, ressurgimento dos santos, aparição em Jerusalém. Quanto a ressurreição: anjo que desce para abrir o tumulo.
Temos o sermão escatológico nos capítulos 24-25 conclui-se com a grande parábola do julgamento.
Depois a concepção virginal de Jesus em Mt 1,16.18-25. O Jesus mateano é muitas vezes descrito como o mestre da moralidade, por exemplo, no Sermão da montanha.
Alguns ditos de Jesus aparecem tanto nos evangelhos canônicos quanto no evangelho de Tomé, e se discute se os ditos deste derivam ou são independentes dos daqueles (ou ambas as coisas)
Mt 16,16 Tu és Pedro é uma das passagens mais discutidas do Novo Testamento, principalmente porque os católicos romanos tem-na usado para justificar o papel do Papa.
5.    Fontes e características redacionais.
Fonte: Marcos é a fonte primaria. Material de Q o que nos conhecemos de Dupla Tradição, material presente em Mateus e Lucas e não em Marcos.
Características redacionais: Mateus 15,39 muda o irreconhecível topônimo de Mc 8,10 Dalmanuta. Mt 26,45 deixa de lado a intraduzível palavra grega apechei e Mc 14,41.
Substitui os ambiciosos requerentes, de Mc 10,35 os filhos de Zebedeu, pela mãe deles, em Mt 20,20.
Mt 13,55 altera para filho do carpinteiro a descrição que Mc 6,3 faz de Jesus como carpinteiro. Mt 14,21 aumenta os cinco mil de Marcos na multiplicação dos pães, acrescentando mulheres e crianças.
DIVISÃO do LIVRO Mt
1,1—2,23 introdução
3,1—7,29 Primeira parte com a proclamação do Reino
8,1—10,42 Segunda parte ministério e missão na Galileia
11,1—13,52 Terceira parte questionamento e oposição a Jesus
13,53—18,35 Quarta parte cristologia e eclesiologia
19,1—25,46 Quinta parte viagem e ministério em Jerusalém
26,1—28,20 Climax: paixão, morte e ressurreição.






Nenhum comentário:

Postar um comentário