domingo, 28 de fevereiro de 2016

DINAMISMO EM TORNO DE JESUS, O FILHO DE MARIA

DINAMISMO EM TORNO DE JESUS, O FILHO DE MARIA


1. A Glória de Deus em uma criança envolta em panos e deitada num presépio
                  A perícope do nascimento de Jesus (LC 2, 1-21) está construída em forma de quiasmo: Cf.Pág.102
a)      “Quando se cumpriram os dias”
                  A ação se inicia com a viagem de José e Maria de Nazaré para Belém. Põe de relevo a obediência de José e Maria tanto para com a Lei quanto para com o anjo quando aos oito dias circuncidam o menino e lhes põe o nome de Jesus.
b)      O nascimento de Jesus e o sinal
                   No relato do nascimento de Jesus, Maria assume todo o protagonismo: é ela que dá a luz a seu Filho primogênito em Belém, a que o envolve em panos e a que o deita em um presépio. No alojamento, o Filho de Deus, o Santo, o Senhor da Glória, o Rei do Reino eterno não encontra lugar. Por isso será um sinal. Envolver uma criança em panos era um costume normal. Sem lugar, envolto em panos e deitado em um presépio é uma tríplice situação inicial de Jesus que se repete novamente no final de sua vida: expulsado da cidade, envolto em um lençol e deitado em um sepulcro.
                  O sinal que é oferecido aos pastores não é para robustecer a fé, pelo contrário, supõe a fé. Como é possível que uma criança nessas condições possa ser a manifestação do poder de Deus? A impotência se converte em sinal do poder de Deus.
c)      Os primeiros destinatários da grande notícia
                  Os destinatários da notícia são os pastores: “Nasceu hoje um salvador que é o Cristo e Senhor” (Lc 2, 11). Eles tiveram que pôr a caminho para ver o recém-nascido. Também Maria, depois de receber a boa notícia, se pôs a caminho para a casa de Isabel. Os pastores se convertem em mensageiros dos anjos, em portadores da revelação, Maria leva a revelação em si mesma.
                  Os primeiros elegidos para anunciar a boa nova, depois de Gabriel e Maria, são imagem daquele que é a impotência, a pequenez. Os pastores não são poderosos, nem grandes deste mundo, nem sábios, mas sim, pequenos, humildes. Deus atua sempre assim.
d)      Ligados à palavra
                  Esses servidores vigilantes, Maria e os pastores, estão em atitude de acolher a palavra-acontecimento de Deus. Vão ver a palavra, e depois de terem visto dão a conhecer a palavra-acontecimento, se convertem em testemunhas. Lucas apresenta Maria ligada à palavra. Maria é o protótipo do discípulo que não se contenta em escutar a palavra, mas a guarda em seu coração.

2. A Glória de Deus chega ao Templo
                  A perícope da apresentação no Templo está formada em cinco blocos.
Cf. Pág.105
a)      Obedientes à Lei: “quando chegou o tempo da purificação deles” (Lc 2, 22)
                  Novamente José e Maria se puseram a caminho, só que agora para o Templo, para cumprir a Lei do Senhor: “a purificação deles”. Os exegetas se perguntam, a quem se referem quando diz “deles”? A Maria e a José? A Maria e a Jesus? Aos três? Segundo a Levítico 12, 1ss, era considerada impura unicamente a mãe, e só ela, por isso, deveria purificar-se. Ela era considerada impura durante os 40 dias posteriores ao nascimento do filho; nesse intervalo de tempo não poderia ir ao Santuário. Jesus, como primogênito, devia ser consagrado ao serviço de Deus, mas, dado que deste serviço se encarregava a tribo de Levi, os primogênitos eram dispensados mediante o pagamento de 20 denários, que deviam ser pagos no Templo, daí a apresentação do Senhor no Templo (Lc 2, 22-23).
b)      A Glória entra no Templo de Jerusalém
                  Para Lucas é mais importante que o cumprimento do rito, foi a entrada do Filho de Deus, pela primeira vez, no Templo, e com ele, a Glória de Deus. Nesse momento se cumpriram várias profecias e uma delas foi: “...o senhor a quem buscais chegará de repente a seu Templo...”(Ml 3, 1). Então, aparece no átrio do Templo um certo Simeão, homem justo e piedoso que aguardava o consolo de Israel. Movido pelo Espírito Santo ele testemunha o destino da criança apresentada no Templo. A mesma coisa fez uma anciã profetiza, Ana de Fanuel.
c)      O complicado texto da profecia de Simeão
                  As palavras de Simeão diante dos pais de Jesus, depois do hino “Nunc dimittis”, são uma autêntica crux interpretum. Epifânio interpretou a espada como morte violenta a espada, e a piedade popular interpreta como espada de dor ou o sofrimento da Mater dolorosa ao pé da cruz, outros interpretam como a espada do juízo, outros como a espada da dúvida de Maria durante a paixão, outros como espada salvadora.
d)      A espada e suas interpretações
                  Segundo do profeta, uma espada (ρομΦαία) atravessará, passará através de (δειλεύσεται) da alma de Maria. No Novo Testamento, a espada é o símbolo da revelação divina, que ao mesmo tempo atua como juiz e obriga aos homens a manifestar as intenções ocultas de seu coração, produzindo neles uma divisão. Jesus mesmo disse “Eu não vim trazer a paz, mas a espada” (Mt 10, 34). No contexto de Lc 2, 35a, “a espada deve significar a divisão de Israel antes da paixão de Jesus (da que o v. 34 não fala explicitamente). Se a espada é anunciada a Maria, é porque ela será desgarrada, como seu filho, pela divisão do povo”. Neste sentido, a espada da descriminação teria chegado também a Maria. Com a figura de uma espada atravessando a alma de Maria, Lucas descreve presumidamente o difícil processo pelo qual aprende que a obediência à palavra de Deus transcende os laços familiares.
                  Em todo caso, “espada” nunca significa a dor na Escritura. Símbolos de dor no Novo Testamento são as “lágrimas” e o “pranto”. Lucas não entende o sofrimento de Jesus como uma tragédia, mas sim, como um triunfo, uma ressurreição. E, o verbo “atravessar”, que expressa a ação da espada, não significa “perfurar, ferir”, mas “passar através de um lugar”.
e)      A espada que passa através de Maria sem feri-la
            O que significa então a misteriosa “espada” anunciada por Simeão? Ele que primeiro anunciou a salvação que chegava com Jesus, agora anuncia à Maria o “dia da caída”, a espada, tão freqüente no livro de Ezequiel. Uns cairão. Outros se manterão em pé. O ancião segue anunciando que seu filho será “um sinal de contradição” e que, precisamente ao contradize-lo, muitos judeus cairão. De fato, Jesus “deitado na manjedoura” foi um sinal que só compreenderam os pastores.
            Maria, no entanto, não cairá. Ela ficará de pé diante da espada que passará por toda sua vida. A espada que anuncia Simeão como a praga exterminadora ao passar pelas casas de Israel no Egito, não pode atingir Maria. Ela representa o povo de Israel que escutou a palavra, por isso, ele não cairá. A espada que fará cair a quem recusar o Messias, segundo anuncia Simeão, não afetará, no entanto, o povo de Israel, representado por Maria.


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