sábado, 13 de fevereiro de 2016

A QUEDA DOS ANJOS

A QUEDA DOS ANJOS

O catecismo da Igreja aborda sobre a queda dos anjos, dos números 391-395. Onde que por traz da voz de desobediência de nossos primeiros pais a uma voz que se opõe a Deus, a mesma é identificada no livro do gênesis como uma serpente (Gn 3,1-5). E que por pura inveja os fez cair na morte. O livro da sabedoria identifica com o Diabo (Sb 2,24). Baseando-se nessa voz que se opõe a Deus e na inveja como inicio da morte, a Tradição da Igreja e a Sagrada Escritura viram a figura de um anjo destronado, chamado de Diabo ou Satanás. (aquele que perdeu o seu trono), segundo a afirmação de Joao 8,44, que mostra o diabo como pai da mentira desde o inicio. A igreja ensina que ele tenha sido um anjo bom criado por Deus, segundo a definição do IV Concilio Lateranense.
Segundo o catecismo a escritura fala de um dos pecados desses anjos, citando a segunda carta de São Pedro 2,4. Trata-se de um pecado por livre iniciativa, no qual rejeitaram a Deus. O pecado dos anjos é irrevogável por causa da sua opção, e não uma deficiência da misericórdia de Deus. O argumento é valido fazendo uma analogia com a morte; assim como não existe perdão apos a morte, também não existe arrependimento para eles, essa argumentação é de São Joao Damasceno (De Fide Orthodoxa)
A Escritura atesta a influencia nefasta daquele que Jesus chama de Homicida desde o principio, e que chegou a tentar desviar Jesus da missão recebida do Pai. O catecismo tenta colocar a culpa do pecado dos primeiros pais na sedução do Diabo. Fala que o poder de Satanás não é infinito, mas poderosa pelo fato de ser puro espirito. Embora ele atue no mundo por ódio contra Deus e o mundo, sua ação causa graves danos de natureza espiritual e física, mais essa ação é permitida por Deus na qual permanece como um grande mistério.


CONSIDERAÇOES SOBRE O TEXTO.

Será que é possível querer identificar essa voz sedutora no relato do gênesis, juntamente com a inveja que foi responsável pela morte no mundo, com a figura de um anjo destronado chamado de Diabo, ou Satanás? É o que iremos abordar a partir de agora.
De fato, biblicamente posso identificar o termo Diabo com Satanás, tratam-se da mesma (pessoa), porém em línguas diferentes. Diabo é de origem grega no substantivo Diabollos; este é o significado que corresponde à palavra hebraica satã. O termo Satã do hebraico foi traduzido pelos setenta na versão grega por Diabo (QUEVEDO. 1989 p.268).
Quem é que não aprendeu ou ouviu falar da guerra dos anjos. Se estudarmos o judaísmo tardio circulavam narrações a esse respeito. Fato como esse encontramos no livro de Noé do Século II a.C, depois passada para o livro de Henoc, descoberto na Etiópia em 1773, a igreja etíope tinha como canônico este livro. Padre Quevedo citando Eissfeld, nos diz que hoje nós encontramos fragmentos em hebraico e aramaico descobertos em Qumran (ESSFELD.1964,p.836). Segundo os 36 capítulos do apócrifo de Henoc, 200 guardiãs ou anjos, sob o comando de Semyasa, decidiram engendrar filhos com as mulheres humanas, as mesmas geraram 3.000 gigantes. Os gigantes começaram a devorar os homens, que desesperados começaram a clamar a Deus. O altíssimo envia o anjo Uriel para prevenir Noé do dilúvio, e para reprimir Semyasa, Azazel, envia Miguel. O que se chama de demônio no livro de Henoc são os espíritos dos gigantes mortos no dilúvio. Os demônios (espíritos dos gigantes percorrem toda a terra) fazendo mal aos homens. Satã também é apresentado como o chefe dos anjos perversos, esta ultima parte deste livro é bem próxima da época de Cristo. Quevedo citando Charles nos diz que este livro era conhecido pelos escritores do novo testamento e muitos padres o tinham como inspirados tal como os livros canônicos (CHARLES, 1927,p.10-14). Outros livros que falam a respeito: Livro dos Segredos de Henoc; Livro dos Jubileus começou a ser escrito no século II a.C, o mesmo repete a historia que os anjos se apaixonaram por mulheres humanas. No livro dos Jubileus se dá a entender que os demônios são os espíritos dos gigantes mortos (QUEVEDO. 1989 p.269-271). A origem da tradição da queda dos anjos derrotados por Miguel fica assim muito clara.
No novo testamento encontramos duas alusões: Jd 6; IIPd 2,4. Mais aqui trata-se de figuras de linguagens metafóricas. Quando Cristo fala em Mt 25, 41, esta aludindo a queda dos anjos? Talvez,mais de acordo com textos neo testamentários não se refira a queda dos anjos; I Cor 5,5; ITm 3,6; extabiblicos; I Hn 63,3. Mais ao castigo dos homens pecadores, servidores do Diabo. Igualmente segue o Apocalipse (12,7-11) aqui não se ratifica ou revela a queda dos anjos, senão que simboliza a vitoria da redenção contra as dificuldades dos cristãos. Outra exegese  é mais esclarecida, a luta dos anjos se refere ao presente e futuro do cristianismo, não um longínquo passado. Algo de análogo podemos ver na frase de Cristo: vi Satanás cair do céu... Lc 10,18, ou seja, os apóstolos estão vencendo o mal (Idem, p.275-276)
Será mesmo que os anjos pecaram? Como podiam pecar apesar de estarem contemplando a face de Deus, irresistivelmente atraídos pelo Sumo Bem. Na própria patrística a discordâncias. Irineu, Tertuliano... Deixaram se levar por ciúme com respeito à humanidade por ser amada por Deus, eles estariam se fundamentando no apócrifo vida de Adão e Eva. Taciano, Orígenes, Gregório Nazianzeno, Agostinho. Eles vão à linha de que os anjos pecaram por soberba, pois os anjos não teriam aceitado a encarnação de Deus em Jesus. Acaso eles não adoravam a Deus? Por que não adorar em Cristo? Seriam os anjos tão poucos inteligentes? Justino, Clemente de Alexandria, Cipriano, caem no absurdo ao dizer que os anjos pecaram sexualmente com mulheres (Idem,p.278).
Outra questão, é que não há definições dogmáticas em relação ao demônio. No IV Concilio Lateranense, do ano de 1215, citam-se os demônios dentro de uma definição dogmática. Há quem diga que a afirmação dogmática engloba toda natureza, quanto a sua forma. O concilio declarou como dogma de fé contra os albigenses, que Deus havia criado tudo bom. A questão é se Deus criou seres maus. Porém a definição do concilio não visa à atividade e nem a existência de Demônios. Karl Rahner é de parecer favorável a existência dos demônios, pois segundo ele a crença em anjos e demônios esta sustentada na Sagrada Escritura (RAHNER.1970.p.372). Pressupõe-se a existência de demônios mais não se define, e nem se julga a sua atividade no mundo. Ao que se entende dizer que uma idéia é simplesmente pressuposta é equivalente a admitir que ela não seja objeto dessa definição. O mesmo argumento de só pressupor se aplica a Trento e ao Vaticano I. Já no Vaticano II, fala-se do abuso de sua liberdade por instigação do demônio, e no fim deste mesmo parágrafo afirma-se que Cristo veio expulsar o príncipe deste mundo. No começo do parágrafo o Concilio da a entender que seria a própria liberdade do homem. O texto do Lateranense IV é repetição de Braga, no ano de 561, que condenou a tese maniqueia, de que Deus havia criado um principio do mal (DENZIGUER. 286 325 e 457). No mesmo contexto esta a profissão de fé do Papa Inocêncio III em 1208 contra os valdenses (Idem. 797). Não são nomeados nem anjos e muito menos demônio no antiqüíssimo concilio de Nicéia (321) a Igreja de Ancira alude aos anjos e não aos demônios (372). Estes textos não são para provar a existência dos demônios, mais são afirmações que a Igreja opõe a tese de um principio mal que, ao lado de Deus, condivide a criação. Quando se trata de dogma, é a condenação desse principio mau; não a explicação dada para tal rejeição (QUEVEDO.1989,p.343-345).
Dentro do magistério moderno da Igreja. Se pegarmos o catecismo de São Pio X, se afirma a existência de anjos e não de demônios. Na encíclica Quas Primas de Pio XI se alude somente a anjos (cf. DENZIGUER.n.2194). a Encíclica Humani Generis de Pio XII, alerta os teólogos que duvidam que os anjos são seres pessoais (Idem. n. 3818). No credo de Paulo VI se alude aos anjos... Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. O papa Pio XII, autorizou o pesquisador moderno em termos relacionados a ciência, a discordar de São Tomas de Aquino, da Patrística, e do Magistério Ordinário da Igreja em diferentes épocas (Pio XII, discurso ao corpo acadêmico na Gregoriana,17-10-1953.

O catecismo descreve o demônio como um ser que age no mundo de forma espiritual e física causando graves danos. É contraditória essa afirmação com a própria realidade. Quantos anos Dom Paulo Pontes passou na Arquidiocese de São Luis? Quantos exorcismos ele autorizou? Dom Xavier Gilles passou 12 anos na Diocese de Viana, e quantos exorcismos ele autorizou? Alem do mais não é comum em qualquer Diocese no Brasil vermos casos de pessoas que se dizem estar possessas.
A crença de fato nos demônios já teve a sua época, porém se encontra em um discurso ultrapassado. Uma força não do nosso mundo agindo no nosso mundo somente Deus. Pois correr o risco de falar valente e honestamente, este é o verdadeiro amor a Igreja de Cristo, como hierarquia e como seguidores de Cristo. É preciso que o clamor surja das bases, eu parto desse suposto e depois a hierarquia confirmara... Antes que os demônios voltem (QUEVEDO.1989,p.532)











Nenhum comentário:

Postar um comentário