sábado, 13 de fevereiro de 2016

INTRODUÇÃO AOS SINÓTICOS

1.    EVANGELHO.
Em sua origem, a palavra evangelho não se refere aos quatros escritos, mas aos anúncios proclamados oralmente. Palavra grega “ euaggélion” boa noticia. Tem quatro momentos de desenvolvimento.

1.1 NO ANTIGO TESTAMENTO
A palavra hebraica “bissár” acompanhada de um adjetivo “bom”. Como um nascimento de um filho Jr 20,15
A vitoria sobre os inimigos ou a morte do adversário 1 Sm 31,9; 2 Sm 1,20.
Depois atinge um sentido religioso Sl 40, 4.10
Passa-se para o segundo Isaias 52,7. Esses acontecimentos se transformam em oração Sl 96, 2-3.
1.2 OS ESCRITOS GREGOS
No mundo grego evangelho era a noticia da vitoria no campo de batalha, a resposta da divindade por meio de oráculos como qualquer acontecimento importante, concernente ao imperador. Desde as origens dois evangelhos se contrapõem: Cesar e Cristo.
1.3 O EVANGELHO DE JESUS
Nos sinóticos, a palavra é encontrada doze vezes, das quais quatro em Mateus ( 4,23; 9,35; 24,14; 26,13) e oito em Marcos (1,14.15; 8,35; 10,29; 13,10; 14,9; 16,15). A palavra vem sempre da boca de Jesus, ou então se refere a sua pregação. Em Lucas prevalece o verbo evangelizar presente dez vezes (1,19; 2,10; 3,18; 4,18.43; 7,22; 8,1; 9,6; 16,16; 20,1). Há uma identificação entre evangelho e Jesus Mc 8,35.
1.4  EVANGELHO “SOBRE JESUS”
É o evangelho sobre Jesus, anunciado por aqueles que foram enviados pelo mundo inteiro para anunciar o Evangelho para toda a humanidade (Mc 16,15).
Na historia da Igreja foi Justino, quem usou primeiro o termo evangelho em memória dos Apóstolos. Antes se chamava palavras do Senhor (Papia). Dentro dos evangelhos nós iremos encontrar dificuldade em relação ao termo: Mt 1,1; Lc 1,1 por isso os autores foram chamados evangelistas.
Os evangelhos manifestam um claro interesse pela atividade terrena de Jesus, sem, contudo, atribuir-lhe uma cronologia ou topografia precisa, como demonstram os genéricos: “naquele tempo, depois, em seguida, em casa, sobre o lago, sobre a montanha”.
Os evangelhos são também atualização, dialogo catequese: dimensão essa que nos dá a capacidade e a possibilidade de poder traduzi-los para a nossa época e para a nossa vida pessoal.
1.5 USO DA PALAVRA EVANGELHO. Os argumentos deste tópico são do Raimond Brown. Introdução ao Novo Testamento.
            No tempo do Novo Testamento, a palavra Evangelho não se refere há um livro, mais a uma proclamação. Os estudiosos discutem se o próprio Jesus usou a palavra evangelho, para descrever a sua mensagem do Reino. Seus seguidores sim o fizeram, enfatizando que as boas-novas implicavam aquilo que Deus fizera em Jesus (Rm 1,3-4). Mais comumente para Paulo, o evangelho está centrado no sofrimento/morte/ressurreição de Jesus e no poder de justificação e salvação definitiva (Rm 1,16).
Mc 1,1 inicia a sua narrativa com as palavras: “ Principio do Evangelho de Jesus Cristo”. Esse Evangelho será proclamado a todas as nações (Mc 13,10). Ainda que nem Mateus e Lucas comecem como Marcos, o esquema é o mesmo. Em Mateus Jesus proclama o Evangelho do Reino (Mt 4,23; 9,35; 24,14) e Lucas usa a forma verbal  “euaggelizein” (proclamar a boa nova) para descrever a sua atividade (8,1;16,16). João não usa a expressão euaggelion nem a forma verbal. Contudo 1 João (1,5; 3,11) usa o termo aggelia (mensagem) que pode ter sido a designação para aquilo que conhecemos como evangelho segundo João.
O século II atesta o uso de euaggelion para designar escritos cristãos. Dai surge à expressão “evangelho segundo” para combater os outros livros considerados evangélicos. A existência de evangelhos além dos canônicos é uma questão agravada pelos problemas terminológicos.
a)    Temos o proto-evangelho de Tiago e Pedro não se autodenominam evangelhos
b)    O titulo evangelho tem sido usado para obras não canônicas.
Por causa dessas complicações terminológicas, pode ser útil manter distintas duas categorias: “material sobre Jesus” (Narrativas da infância e da paixão, coleção de ditos, coleção de milagres, discursos atribuídos ao Jesus ressuscitado). E “evangelhos”, ou seja, narrativas completas tais como encontramos nos quatros escritos canônicos (que abrange o ministério publico de Jesus, paixão, morte, ressurreição e combinam milagres e ditos de Jesus. Por exemplo: os evangelhos apócrifos dos primeiros séculos não se conservou nenhuma narrativa evangélica completa. Do evangelho de Pedro conservou de forma parcial a paixão/ressurreição. Orígenes conhecia um evangelho petrino da infância.
1.6  NOS EVANGELHOS TEMOS RETRATOS DE JESUS?
É preciso fazer a distinção entre três retratos: o do Jesus real, o do Jesus histórico e o Jesus evangélico. Um retrato do Jesus real incluiria tudo o que fosse interessante a seu respeito como: datas exatas do seu nascimento e da sua morte; detalhes reveladores sobre seus pais e sua família, como se relacionava com eles e como cresceu; como e onde trabalhou quando começou a pregar; quais eram as suas preferencias ao comer e beber; se adoeceu alguma vez; se era bem humorado e apreciado pelos moradores de Nazaré etc. Nos evangelhos nada temos a respeito dessas informações, essa carência nos mesmos é a razão de muitos estudiosos se recusarem a ver nos evangelhos biografias sobre Jesus.
Um retrato do Jesus histórico é uma construção dos estudiosos baseada na leitura daquilo que jaz sob a superfície do evangelho, despidos de todas as interpretações, alargamentos e desenvolvimentos que possam ter acontecido dos trinta aos setenta anos que separam o ministério publico e a morte de Cristo dos evangelhos escritos.
Destarte, a busca inicial pelo Jesus histórico tinha um tom de contestação, como que o Cristo da fé, tinha pouco a ver com o Jesus da Historia. O retrato do Jesus histórico se baseia em dados limitados e destinados a produzir uma visão minimalista que pode receber consenso cientifico. Ele pode oferecer-nos, no máximo, uma fração mínima da particularidade e do colorido do Jesus real, e será constantemente alterado a medida que os métodos exegéticos se refinam ou se redefinem.  A ideia de que a fé cristã depende de reconstruções do Jesus histórico é um perigoso mal entendido.
 O Jesus evangélico é o retrato pintado por um evangelista. O evangelista incluía somente informações que eram uteis ao seu objetivo, e as necessidades do publico destinatário afetavam o conteúdo e a apresentação. Por essa razão os evangelhos, escritos por diferentes pessoas para públicos diversos, em variadas décadas, tinham de ser diferentes um dos outros.
Esta introdução pretende informar os leitores acerca do que existe no NT. Em primeiro lugar, portanto, ocupar-se-á do Jesus evangélico. Trabalhando com opiniões defendidas por uma maioria de estudiosos moderados, em vez daqueles altamente especulativos, a próxima subseção exporá de forma simplificada uma teoria dos três estágios que contribuíram para os retratos de Jesus nos evangelhos. Com o intuito de ajudar os nãos especialistas, esta é a parte mais importante deste capitulo para a compreensão dos evangelhos.
2.    OS TRES ESTAGIOS DA FORMAÇAO DOS EVANGELHOS
2.1 O ministério público ou atividade de Jesus (1° terça parte do século I d.C). sub-apostolico
            Ele proclamou a sua mensagem, escolheu companheiros que viajaram com ele. O que eles lembraram de suas palavras e ações constituiu o material sobre Jesus em estado bruto. Tais memorias eram seletivas, pois eles se concentraram naquilo que Jesus dizia respeito à proclamação que Jesus fazia de Deus, e não as muitas trivialidades da vida cotidiana.
O modo de falar de Jesus, os problemas que ele enfrentou, seu vocabulário e esquema mental eram os daquele tempo e lugar específico. Jesus dos anos 20 da era cristã do primeiro século.
2.2 A pregação sobre Jesus (Era apostólica, segunda terça parte do século I d.C). Apostólico.
Aqueles que viram e ouviram Jesus tiveram o seguimento deles confirmado pelas aparições após a ressurreição (1Cor 15,5-7) e chegaram a fé no Jesus ressuscitado como aquele mediante o qual Deus manifestou seu absoluto amor salvífico por  Israel e finalmente por todo o mundo. Uma fé que verbalizaram por meio de títulos confessionais (Messias/Cristo, Senhor, Salvador, Filho de Deus etc.)
Dizemos que esses pregadores são apostólicos porque se compreendiam como enviados pelo Jesus Ressuscitado, e a pregação deles é muitas vezes descrita como proclamação “querigmatica” que tinha por objetivo conduzir outros à fé.
Outro fator operante nesse estagio do desenvolvimento era a necessária adaptação da pregação a um publico alvo. Jesus era Galileu, viveu na Palestina, falava Aramaico. Seu evangelho estava sendo anunciado na diáspora, em grego, uma língua que ele não falava, a judeus e pagãos urbanizados. Essa mudança de língua implicava tradução, uma mudança de vocabulário. As vezes a reformulação afetava detalhes secundários, como a citação de um tipo de telhado familiar a ouvintes gregos em Lc 5,19, em contraste com o estilo palestinense de telhado no qual foi feita a abertura em Mc 2,4.
Outras reformulações, porém, tinham repercussões teológicas, por exemplo a escolha de soma “corpo”, para o componente nos sinóticos e em 1Cor 11,24, em contraste com a tradução mais literal sarx “carne” em Jo 6,51.
2.3 Os evangelhos escritos (pós-apostólico) ultima terceira parte do primeiro século aparentemente.
Provavelmente houve material que foi perdido antes da redação dos evangelhos. Papias por volta do ano 115 d.C já procurava pelos mesmos. Provavelmente os evangelhos canônicos foram escritos em meados dos anos 65-100. Contudo a maioria dos estudiosos modernos não pensa que os evangelistas foram testemunhas oculares do ministério de Jesus. Ao menos no que diz respeito a Mateus e João. Lc 1,2-3 afirma claramente que o escritor não era uma das testemunhas oculares, embora tivesse recebido informações delas.
Só assim nós compreendemos as diferenças entre os evangelhos, é importante admitir que os evangelistas não fossem testemunhas oculares do ministério de Jesus. Como poderia a testemunha ocular João (cap 2) narrar a purificação do templo no começo do ministério e a testemunha ocular Mateus (21) situar o mesmo episodio no fim do ministério?. A fim de reconcilia-los, os interpretes dizem que tais acontecimentos aconteceram duas vezes ao longo da vida de Jesus.
O que devemos concluir a respeito da teoria da formação dos evangelhos?
·         Os evangelhos não são registros literais do ministério de Jesus.
·         Para alguns, tal modo de tratar a verdade dos evangelhos não é satisfatório. Se ocorreram adaptações como poderemos saber se a mensagem que os evangelhos oferecem é fiel a Jesus? A resposta é teológica, pois aqueles que acreditam na inspiração divina sustentarão que o Espirito Santo orientou o processo, garantindo que o produto final dos evangelhos reflita a verdade que Deus enviou Jesus a proclamar.
·         Na ultima metade do século XX, o respeito pela individualidade de cada evangelho teve um efeito na liturgia ou ritual da Igreja (Lecionário trienal de vez anual).
3.     O PROBLEMA SINÓTICO
 Passamos para as estatísticas e terminologias. Marcos tem 661 vv.; Mateus 1.068 e Lucas 1.149. 8% dos versículos de Marcos estão reproduzidos em Mateus e 65% em Lucas. O material Marcano encontrado nos dois outros se chama de Tríplice Tradição. Aquilo que esta em Mateus e Lucas e não em Marcos é denominado de Dupla Tradição.
3.1 Soluções que postulam um ou mais proto-evangelhos.
Surgiram comentários a respeito da existência de um evangelho anterior aos canônicos. No século XVIII G.E. Lessing argumentou que os três evangelhos foram extraídos de um evangelho aramaico desaparecido. Uma variante dessa tese foi retomada por estudiosos que pretendiam fazer dos evangelhos apócrifos a fonte dos canônicos (o evangelho de Tomé será discutido em relação à hipótese Q).
Smith argumenta que é o evangelho secreto de Marcos composto no começo do século II. Já Koester que o Evangelho secreto de Marcos, na verdade foi escrito antes do Marcos canônico. Além do evangelho secreto de Marcos, Crossan postula a prioridade de uma forma mais breve do Evangelho de Pedro, do qual os quatros canônicos tiraram a sua narrativa da paixão.
Em uma busca mais tradicional de um proto-evangelho, alguns invocam Papias, ele falou não de um Mateus que nós conhecemos, mas sobre uma coleção anterior, da qual Marcos e o Mateus canônico.
De fato, a maior parte da pesquisa, em seu esforço para explicar as diferenças e semelhanças sinoticas, em vez de apostar em proto-evangelhos não mais existentes em apócrifos bem antigos, utiliza-se do relacionamento entre os evangelhos existentes, ou seja, de hipóteses de mutua dependência, para as quais nos voltamos agora.
3.2 Hipóteses de que Mateus foi o primeiro evangelho e foi usado por Lucas.
            Essa Hipótese foi criada por Santo Agostinho e é datada do IV século da era cristã, é a mais antiga hipótese. Foi aceita pelos católicos romanos ate o século XX. Segue-se a ordem como esta na escritura.
Em 1789 J.J Griesbach propôs uma teoria de dependência de acordo com a ordem: Mateus, Lucas e Marcos. A base dessa teoria de que Mateus é o primeiro fundamenta-se de que é desde a antiguidade que se pensa assim (Tradição). O argumento de que Marcos se utilizou de Lucas esta nas passagens relacionadas à tríplice tradição (Mateus e Lucas). Por exemplo Marcos omite a pergunta feita a Jesus em Mt 26,28; Lc 22,64; Mc 14,65).
3.3 hipóteses baseadas na prioridade de Marcos.
Marcos foi escrito primeiro, tanto Mateus quanto Lucas se utilizaram dele. Uma versão dessa teoria chega a dizer que Lucas se baseia em Mateus, pois não tem consistência. A tese mais comum, portanto, argumenta que Mateus e Lucas dependem de Marcos e escreveram independentemente um do outro.
O que eles têm em comum (Dupla Tradição) não proveio de Marcos mais da fonte Q. é conhecida como a Teoria das Duas fontes:

             

Aqui estão alguns pontos que se deve ter mente ao trabalhar com a prioridade de Marcos:
·         Mesmo depois que Marcos foi escrito, a memoria da tradição oral sobre Jesus não cessou.
·          Se tanto Mateus quanto Lucas utilizaram Marcos, a teologia deles pode ser estudada com base nas alterações que eles fizeram na narrativa de Marcos.
·         Se alguém conclui que Mateus ou Lucas acrescentaram material ao que foi tomado a Marcos, tal adição, às vezes provinda de material especial, não precisa ser datada mais tardiamente do que o material marcano. Passagem interrante é a de Mt 16,17-19 composta de material emprestado de Mc 8,29-30. O material acrescentado, que tem um cunho semítico muito forte, pode muito bem ser primitivo.
3.4 FONTE Q
Os especialistas alemães a denominaram, Q, abreviação para die Quelle. Q é uma fonte hipotética, postulada pela maioria dos estudiosos para explicar o que anteriormente foi denominado Dupla Tradição. Por trás dessa hipótese está a pressuposição plausível de que o evangelista mateano não conheceu Lucas e virce-versa, de modo que deveriam ter uma fonte em comum. É conhecida também como evangelho Q, para justamente enfatizar a sua integridade e não apenas o seu uso. O mesmo não tem referencia clara a destruição real de Jerusalém ou de seu templo, como acontece, por exemplo, em Mc 13, por isso é normalmente datado dos anos 50 do século I.
Não estamos certos da sequencia do material em Q, pois Mateus e Lucas não o apresentam na mesma ordem; todavia muitas reconstruções seguem a ordem lucana, pois, aparentemente, Mateus elaborou material de Q em seus grandes discursos ( SM Mt 5-7, e o discurso missionário Mt 10).
É igualmente improvável que existisse apenas uma copia de Q em circulação, aqual Mateus e Lucas tiveram acesso individualmente, e é possível que algumas das diferenças de fraseologia entre ambos derivem de copias levemente diferentes de Q.
A fonte Q reconstruída em ditos e em algumas parábolas com um mínimo absoluto de contexto narrativo. A descoberta do evangelho de Tomé em copto, que representa um grego original do século II, provavelmente, mostra que havia composições cristas formadas por coleções de ditos.
Hipóteses extravagantes, baseadas nesse documento hipotético, deixaram suas marcas na pesquisa moderna sobre o “Jesus Histórico”. O retrato do Jesus mestre de sabedoria ou filosofo cínico, sem nenhuma mensagem apocalíptica ou anuncio messiânico, surge de especulações sobre o primeiro estagio da teologia de Q. um retrato que alguns gostariam de por no lugar do Jesus dos evangelhos e da fé da Igreja.
Um tanto ríspida, mas digna de reflexão, é a definição de Meier, que os exegetas deveriam repetir toda manhã: Q, é um documento hipotético cuja extensão exata, não pode ser conhecida.
Mais na opinião de muitos estudiosos, Q é a melhor maneira de explicitar aquilo que está em Mt e Lc, mais não em Mc.
Observação em relação ao evangelho de Tomé. Comentário a partir do livro A descoberta do Jesus Histórico. Texto: As duas vozes mais antigas da Tradição de Jesus.
É um documento copta datado do século XX. Foi descoberto em 1945 as margens do rio Nilo. Trata-se de uma coleção dos ditos de Jesus e independentes dos sinóticos e da fonte Q.
O evangelho de Tomé não possui uma narrativa ou uma estrutura temática. Simplesmente é um apanhado de ditos de Jesus com palavras que unem alguns desses ditos aqui e ali. As mesmas frases que estão contidas no SM ou SP no mesmo capitulo, no Evangelho de Tomé estão espalhadas ao longo do corpo do evangelho.
Ex:
Bem-aventurados os pobres. Tomé 54. Em Q: Lc 6,20; Mt 5,3
Bem-aventurados os famintos. Tomé 69,2. Em Q; Lc 6,21: Mt 5,6
Bem-aventurados os perseguidos. Tomé 68. Em Q; Lc 6,2-23; Mt 5,11-12
  Enquanto a datação, se o evangelho fosse independente em relação a um ou mais de um dos evangelhos sinóticos, ele seria, necessariamente, posterior a eles. No entanto, como se trata de um texto independente, pode ser mais antigo, contemporâneo ou posterior a eles.

4 MARCOS
4.1 Autoria
O titulo evangelho segundo Marcos foi acrescentado por volta do fim do século II. Em meados do século II Justino se refere às memorias de Pedro, que trariam uma passagem encontrada apenas em Mc 3,16-17.
De quem é de fato esse Marcos que Papias fala? Esse nome não era incomum, pois isso ajuda a complicar mais dentro do novo testamento a encontrar a figura de Marcos.
 O livro dos Atos dos Apóstolos traz informação sobre um homem por três vezes assim chamado de João cujo sobrenome era marcos (At 15,39; 12,25; 13,4.13. em Fm 24, uma inquestionável carta autentica, enviada entre 55-63, Paulo menciona Marcos como um colaborador que estivera com ele no lugar de onde escreve. Em colossenses 4,10 Marcos é primo de Barnabé.
1 Pd 5,13 escrita em Roma, identifica Marcos como “filho de Pedro”. Em 2Tm 4,11, quando Paulo cogita morrer na prisão, pede que Marcos seja levado ate ele. É possível reunir tudo isso num quadro João Marcos: era conhecido de Pedro, em Jerusalém. Foi consequentemente companheiro de Paulo, mais se desentendeu com ele no período de 46-50. Depois de alguns anos, o mesmo se reconciliou com o Apostolo, indo finalmente a Roma, nos anos 60, onde se tornou útil tanto a Paulo quanto a Pedro antes do martírio desses.
O mais provável é que a tradição de Papias referia-se a esse (João) Marcos como aquele que escreveu o que foi dito e feito pelo Senhor.  Ate que ponto essa tradição é plausível? Se alguém estava inventando no século I uma tradição acerca da autoria, por que atribuir o evangelho a uma figura menor do cristianismo? O fato de Marcos fazer de Pedro o mais importante dentre os doze, não significa que Pedro é a fonte do evangelho. É difícil conciliar a ideia de o autor desse evangelho grego ser João Marcos, um Judeu de Jerusalém, que se tornará bem cedo cristão, com a impressão de que o texto não seja uma tradução do aramaico, que dependa de tradições recebidas em grego e que seja confuso em relação à geografia da Palestina.
Pode se especular que uma tradição anterior atribuiu o evangelho a outro cristão, desconhecido, chamado Marcos, que subsequentemente foi amalgamado com João Marcos.
O fato de Marcos ser designado interprete, não significa que Pedro falava aramaico e Marcos traduzia para o grego. Papias declara que Marcos não foi uma testemunha ocular, mas dependia do anuncio e impunha o seu próprio esquema para aquilo que escrevia.
4.2 DATA DA REDAÇAÕ
Aqueles que dão credito a tradição de Papias acreditam que Marcos escreveu pouco antes ou pouco depois da morte de Pedro; portanto, em meados ou fins dos anos 60. Internamente, tal datação pressupõe basear-se na ausência, em Marcos, de qualquer conhecimento dos detalhes da primeira revolta judaica contra Roma em 66-70, e de menção a queda de Jerusalém.
Poderia ter sido escrito depois de 70? Dificilmente cristãos de raízes judaicas poderiam ignorar o simbolismo desses fatos depois que tivessem acontecido (Mt 22,7 e Lc 21,20 são considerados mais exatos do que Marcos com respeito a destruição de Jerusalém.
Uma data posterior a 75 é improvável já que Mt e Lc conheceram Mc. Os mesmo estão datados nos anos 80-90.
Não há como sabermos precisamente quando Marcos foi escrito. Callaghan, em 1972, encontrou algumas de Mc 6,52-53 num fragmento de papiro grego (7Q5) de Qumrã datado entre 50 a.c e 50d.C (subtraindo, ou acrescentando-se 25 anos). Tal identificação pode fazer supor que o evangelho já circulava havia uma década ou mais da destruição da comunidade de Qumrã. O texto encontrado é problemático, em Qumrã os textos em sua grande maioria são hebraicos e Aramaicos. É possível que algum cristão tenha vindo ate a gruta Q7 depois da destruição do local e ter guardado o manuscrito lá. Outro problema, todos os demais manuscritos antigos do evangelho, em papiro, de que se tem conhecimento provem de códices. 7Q5 provem de um rolo... esta faltando em Mc 6,52-53 a frase grega “para a região”



Um comentário:

  1. Muito obrigado, material rico e muito sincero. Deus rica e poderasomente continue abençoando vocês!
    P.S: Última linha do ponto 3.2, é Mt 26.68 contrariamente a Mt 26.28.

    ResponderExcluir