domingo, 28 de fevereiro de 2016

COMO FOI ESTABELECIDA A FUNÇÃO DE MARIA NO PROJETO DE SALVAÇÃO?



                  COMO FOI ESTABELECIDA A FUNÇÃO DE MARIA NO PROJETO DE SALVAÇÃO?

1.      Doutrina tradicional sob a mediação de Maria.
A doutrina tradicional sobre a mediação de Maria, poderia resumir-se em três pontos.

Primeiro: Cristo Jesus é o mediador entre Deus e os homens por excelência, como causa principal. Maria é mediadora por analogia, como causa secundária. Ela coopera com Cristo tanto no ato redentor como na acolhida da ação redentora por parte de cada indivíduo.
Segundo: A mediação universal de Maria é a missão que ela tem de solicitar a Deus todo tipo de graças (temporais e eternas) e distribui-las entre os homens. Divergem os mariológos em explicar se esta missão de Maria é devida a um influxo moral que ela exerce sobre Deus ou a um influxo físico-instrumental, enquanto que Deus se serve de Maria para conceder aos homens sua graça.
Terceiro: Maria intercede pelos homens para obter-lhes a graça de Deus; e mais, ela, enquanto corredentora, atua na aplicação destas graças a cada um dos homens.

2.      MEDIAÇAO DE MARIA NO VATICANO II.
O Vaticano II se deteve mais na maternidade espiritual de Maria, entendida já não só como cooperação histórica no acontecimento histórico salvífico, se não como permanente intercessão em favor dos homens que vai desde a assunção ao céu até a perpetua coroação dos eleitos.
A função de Maria se funda na mediação de Cristo, depende dela, está subordinada a ela, dela obtém toda a sua eficácia.

II. TEOLOGIA DA MEDIAÇÃO: ALGUNS ASPECTOS.

  1. A MEDIAÇÃO RELIGIOSA.
Próprio da categoria de mediação é também, segundo as religiões, unir o que está separado, Deus e o homem. Mediação é re-união. Mediador é aquele que, em nome e por encargo de Deus, efetua a reconciliação. Sua função não consiste em salvar a Deus da irreconciliaçao, do distanciamento do homem, por que Deus mesmo tem a iniciativa da ação mediadora: Deus é o sujeito e não o objeto da mediação; ele não necessita reconciliar-se com o homem; ele é que pede ao homem que se reconcilie com ele. Mediador é como o sacramento de Deus, que quer reconciliar o homem consigo.

  1. JESUS CRISTO MEDIADOR.
Deus se revela a nos e nos reconcilia com ele através do único mediador, Jesus Cristo. Deus é sempre aquele que atua e o mediador é aquele através de quem ele atua. Jesus Cristo representa, pois a Deus ante o homem; mas também o homem ante Deus.
A salvação nos chega através do seu ser filial, através de sua relação de filho com Deus Pai, levada a sua culminação no acontecimento pascal; e através de seu ser fraternal e diaconal, que chega a si mesmo a sua plenitude quando morreu e ressuscitou por nós.
3- NO ESPÍRITO SANTO.
Jesus não exerce sua função de mediador autonomamente. Sem o Espírito, Jesus não seria o mediador. Jesus chega a ser enquanto atua como mediador, graças ao Espírito. A humanidade de Jesus é mediadora enquanto tem a unção do Espírito.
A auto-revelação do Pai se completa em outra forma de revelação, que é a efusão do Espírito Santo sobre o Filho. Deus Pai atua através de sua mãos, o Verbo e o Espírito.
Quando o Filho concluiu sua kénosis na glorificação total e na ascensão, então concluiu a kénosis no Espírito e se produziu o Pentecostes. Assim como o Pai enviou o Filho pelo Espírito Santo per Spiritum Sanctum na encarnação, do mesmo modo o Filho enviou aos apóstolos per Spiritum Sanctum comunicando-lhes seu Espírito.

4- O ESPÍRITO COMO MEDIAÇAO.
A função mediadora do Espírito é estruturalmente diferente da de Jesus Cristo. O espírito não se fez homem como Jesus. É o Espírito de Jesus e é nosso Espírito. O mesmo em todos. O Espírito não interfere na mediação de Cristo, leva-a a sua plenitude.

5- ECCLESIA MEDIATRIX.
B- A Igreja, sacramento do único Mediador e da única mediação.
A mediação da Igreja é sacramento da mediação única de Jesus. É a mediação da Esposa que forma um só corpo com a Esposa. A Igreja é autenticamente a Igreja de Jesus Cristo quando toda ela é reflexo da única mediação, quando toda sua luz é só o reflexo da luz das Gentes que é Cristo.
Por instituição de Jesus, o mediador, os elementos constitutivos da Igreja se convertem em mediações. Entre as diversas mediações eclesiais, os sacramentos ocupam um lugar eminente, pois neles está comprometido todo o ser da Igreja e manifestam com a máxima transparência o único Mediador.
A Igreja é o sacramento do Único Mediador e a única Mediação espiritual.
Esta mediação espiritual se faz particularmente efetiva na “communio sanctorum”, que tem seu âmbito privilegiado na Igreja triunfante ou glorificada.
C- A mediação  da Igreja triunfante.
O ponto de partida é a afirmação da função permanente do Senhor Ressuscitado como mediador: Cristo levantado ao alto da terra, atrai a si os homens; está sentado a direita do Pai e “sem cessar atua no mundo para conduzir os homens a sua Igreja e por ela uni-los a si mais estreitamente e, alimenta-los com o seu próprio Corpo e Sangue, faze-los participes de sua vida gloriosa”. (LG 48).
Os que são assumidos na gloria do Senhor, exercem sobre nós um influxo benéfico através de sua permanente intercessão a Deus. “Os que chegaram já à pátria e gozam da presença do Senhor, por Ele, com Ele, e nEle não cessam de interceder por nós diante do Pai”. (LG 49).
Os santos, as santas, são para nós, os crentes, símbolos mediante os quais Deus se manifesta e se faz presente entre nós. São os ícones vivos de Deus. Através deles Deus Pai nos fala, nos manifesta seu reino, nos atrai para ele, nos une e identifica com Jesus Cristo.

II-                MARIA, PARADIGMA DA MEDIAÇAO DE JESUS CRISTO, DO ESPIRITO E DA IGREJA.
1- A CHAVE CRISTOLÓGICA: EXPRESSÃO, SIMBOLO DA MEDIAÇÃO DE CRISTO.
Sem Jesus, Maria haveria sido como um broto cortado da vida, como uma escrava sem redentor, como um ventre materno sem fruto, como uma mulher sem graça de Deus.

2- A CHAVE PNEUMATOLÓGICA: MARIA TRANSPARÊNCIA DO ESPÍRITO- MEDIAÇÃO.
A descida do Espírito Santo na sua anunciação não se reduz, pois, à sua concepção e dar a luz; depois da concepção, Maria não ficou privada da graça. O Espírito Santo “não a abandonou depois do nascimento de Cristo, senão que permaneceu com ela por todos os séculos e com toda a força da anunciação. Por isso, sua dei-maternidade, sua relação com o Verbo Encarnado, dura também eternamente”. (Bulgakov).
A presença de Maria no Pentecostes Eclesial revela a profunda e intima sintonia que se estabeleceu entre Maria, os doze e todos os demais crentes.
Mas Maria não é equiparada ao Espírito no aspecto da mediação. Maria tem acesso ao Pai por Cristo graças a mediação do único Espírito (Ef 2, 18). Maria não pode ser mãe, discípula de Jesus por si mesma: só mediante o Espírito. Maria nunca é uma pessoa entre muitas pessoas; não habita imediatamente nos outros; não é “o nós” de onde se realiza o encontro com Deus e os homens. Não teremos acesso imediato a ela, a glorificada, a não ser “mediante o Espírito e mediante Jesus o Senhor”. Não é equiparada a função de “advocatus” (Paráclito) do Espírito e a função de “advocata” de Maria; “a intercessão de Maria só pode ser concebida na dependência da do Espírito Santo, enquanto este é a mediação que se comunica a si mesma, e em subordinação absoluta a uma última”.(H. Muhlen).
A função materna de Maria de maneira alguma obscurece, diminui a dimensão do Espírito, se não que é um sinal de seu poder; e ela depende em tudo do Espírito.

3- MARIA, SÍMBOLO DA MEDIAÇÃO DE CRISTO E O ESPÍRITO.
Maria é a mediadora enquanto símbolo de mediação, e enquanto símbolo ela abre um espaço de mediação. Trata-se, evidentemente de um símbolo pessoal, que estabelece um tipo de relação autônoma com o simbolizado, diferente do símbolo material, que é pura passividade.
A mediação Mariana não é um complemento da única mediação de Cristo e do Espírito. É seu símbolo. Qual é a identidade teológica desta mediação? Maria é mediadora como o é a Igreja. É mediadora da Igreja triunfante.

4- MARIA E A MEDIAÇÃO DA IGREJA.
O Concílio se preocupa em ressaltar a diferença essencial existente entre a mediação própria de Cristo e a mediação de Maria (LG 62). A Igreja não duvida em atribuir esta função subordinada à Maria (LG 62).
A mediação de Maria é, pois, mediação participada. Dentro da Igreja se dão diferentes modos, inclusive essencialmente distintos, de participar da mediação, tal como sugere a comparação conciliar ao comparar a mediação com o sacerdócio de Cristo.(LG 10).
Maria ocupa um lugar único na Igreja em sua condição de mãe-virgem de Jesus, primeira crente e mãe espiritual do discípulo amado.
Maria é a imagem original e o centro pessoal da Igreja-Esposa, é a esposa arquétipica de Cristo, por isso pode ser denominada mãe e esposa espiritual do Filho.
Quando Maria, na cruz e no pentecostes se converte em Igreja, conclui e coroa seu caminho de cumprimento da vontade do Pai, de seguimento de Cristo e de docilidade do Espírito.

IV-  A NOVA EVA E O MISTÉRIO DE SUA MATERNIDADE ESPIRITUAL.
1-      A NOVA EVA?
Meu ponto de vista é que quando Irineu e os demais Padres da Igreja descobrem em Maria a nova Eva e assinam a função no ministério da salvação, estão fazendo referencia a um esquema de fundo mítico. Com ele indicam que a salvação deve ser total, holística.
Todos estão chamados a colaborar na salvação que tem como protagonista principal o novo Adão, aquele que recapitula a toda a humanidade, masculina e feminina. Mas homens e mulheres, na medida em que seguimos a Jesus, entramos em comunhão de vida com Ele, colaboramos em sua ação salvífica. Maria foi a primeira e a mais excelente colaboradora. O foi com sua maternidade física e na fé. Mas não foi a única. Ela representa o melhor da Igreja. Mas atrás dela estão todos aqueles e aquelas que se associam a Jesus e com Ele se entregam à salvação do mundo.

2-      MARIA, MÃE ESPIRITUAL.
A maternidade espiritual é maternidade no Espírito. Na Igreja falamos de “pai espiritual”, mãe espiritual”. É verdade que Jesus nos pediu que não chamássemos pai a ninguém na terra, pois só temos um Pai: o do céu.
Quando falamos de maternidade ou paternidade espirituais, estamos referindo-nos a um fenômeno espiritual, que tem o Espírito como protagonista, e na pessoa a que nos referimos, seu instrumento, sua mediação. O Espírito Santo é a alma da Igreja, de todo novo nascimento

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