A Santa Sé e a independência.
Introdução:
Até a independência Roma
não havia tido que pensar em seu sistema de relações com as colônias espanholas
e portuguesas distinto do regime de padroado. Espanha e Portugal asseguravam a
administração dos assuntos eclesiásticos e da evangelização. Roma adotou esta linha
de conduta desde o século XV, por diversos motivos. Alguns estavam pensando que
os papas trataram desta forma para se libertar das responsabilidades que
incubiam dando aos reis católicos da Espanha e de Portugal ao cargo de
apostolado de missão. Existem explicações que nos parecem, mas aceitadas: é uma
realidade histórica que a Santa Sé dentro da mentalidade da época julgava que o
apoio da autoridade civil católica era o caminho mais seguro e eficaz para a
cristianização das colônias na América e na Ásia.
O
padroado régio, dentro do contexto geral da cristandade pós-tridentina é um dos
aspectos da grande missão católica, é sem duvida um aspecto particular de
inegável transcendência que na América o fenômeno mais amplo é a união intima
entre as duas sociedades: a civil e a religiosa própria da época barroca.
Durante o século XVIII, as cortes espanhola e portuguesa organizaram o regime
eclesiástico das colônias americanas dento do sentido de unidade entre: a
Metrópole e sua extensão.
1.
A independência americana vista pelo Vaticano:
Para
poder entender o problema suscitado no Vaticano pelos movimentos emancipadores
americanos, há que ter presente o contexto político europeu da época posterior
à independência dos Estados Unidos e sobre tudo a Revolução francesa de
1789. A organização política européia
antes da Revolução da segunda metade do século XVIII havia caracterizado pela
concentração de poder nos monarcas absolutos; nos paises protestantes a
necessidade de uma organização e de uma autoridade, esta autoridade era
outorgada pelo direito de decidir a religião que os súditos haviam de seguir.
Nos
paises católicos, a intromissão nos assuntos eclesiásticos parecia justificável
pela necessidade de combater o cisma, a heresia e em geral qualquer erro em
matéria religiosa que se constituía em perigo social que atentava a unidade
nacional. Na Espanha e Portugal a legitimidade do regime monárquico era
defendida como uma defesa de causa da religião católica ameaçada pelo
protestantismo e pelo racionalismo; o Vaticano apoio a causa legitimista e
centralizou sua política em uma adesão sincera aos propósitos das monarquias
católicas sobre tudo na defesa da fé e na organização da Igreja. A
independência dos Estados Unidos não mudou nenhum problema político da Santa
Sé, o problema quando se tratou de nações católicas: a França em primeiro
lugar, a revolução de 1789 foi para a Santa Sé uma autentica catástrofe por que
significou a perda de um dos bastidores da catolicidade que era uma barreira em
contra da perigosa heterodoxia das poderosas potencias protestantes do centro e
norte da Europa; a revolução francesa significou um golpe para a Igreja e não
somente por que perdeu grande parte de suas riquezas e do poder temporal, mais
sim por que os princípios revolucionários se tinham como a reta ordem do mundo
que apenas se restavam das guerras religiosas do século XVII.
Quando
Napoleão quis instaurar uma nova ordem na Europa, algo pareceu que melhoraria a
situação e Roma firmou uma concordata com a França que certamente atendendo-se
ao principio de que é preferível assumir o mal menor para evitar o mal maior.
No Brasil, se realizou a emancipação sem graves preocupações para a Sé
Apostólica, pois iniciada em 1822 assumiu desde o principio a forma monárquica
e foi reconhecida oficialmente por Portugal em 1825. Em caso hispano-americano
era problemática para a Santa Sé desde o México até o Rio da prata, a
independência supõe uma larga guerra de quase 20 anos, o rei da Espanha
padroado das Igrejas americanas se opões radicalmente a todo reconhecimento com
o republicanismo americano. O Vaticano julgou como uma necessidade política que
na América o processo de evangelização e de organização das Igrejas através do
regime do padroado.
No meio
eclesiástico hispano-americano teve uma crise catástrofe: os bispos, as
paróquias, ordens religiosas, seminários, colégios e hospitais se paralisaram
sobre tudo por falta de uma provisão nos cargos vacantes. A expulsão dos
jesuítas de todos os domínios do rei da Espanha e a supressão da ordem por
pressão da corte sobre o papa Clemente XIV no ano 1773. Nas filas da hierarquia
os problemas eram as sedes vacantes que não podiam ter bispo já que estava
encerrado o caminho normal do padroado, a corte de Madri como um meio de
desacreditar o processo de independência.
Enclausurada a
comunicação com Roma, o movimento emancipador americano pela diplomacia da
Espanha cuja corte exportava ao Vaticano o que lhe interessava para
desacreditar os libertadores como subversivos e imorais e anti-eclesiásticos,
ficaram vacante muitas das sedes americanas.
2. A
independência americana nos tempos de Pio VII (1800-1823).
Já tendo que
afrontar situações o papa Pio VII fulminante do imperialismo de Napoleão, a
abdicação dos monarcas espanhóis, a independência americana e a reinstauração
do legitimismo monárquico a partir do congresso de Viena. Situações antes as
quais o papa tinha uma posição que era impossível desligar o campo eclesiástico
do campo político, Pio VII conhecia muito bem o terreno que pisava na Europa
havendo experimentado pessoalmente as imposição despóticas de Napoleão em
matéria religiosa. O papa intuiu que tinha que existir uma versão distinta dos
fatos na América e que os católicos dessas terras tinham direito de buscar
contato direto com a Sé Apostólica. Isto se sucedeu em 1813.
O rei da
Espanha, Fernando VII pode respirar tranqüilo vendo o caso sendo superado a
crise colonial americana. Pio VII deu a provisão dos bispos para as sedes
vacantes da América por meio de uma Encíclica dirigida ao clero da América
sujeita ao rei católico da Espanha. É necessário reconhecer a boa vontade de
Pio VII para com a América; a reação americana ante o documento do papa foi
muito variada: o México e Peru, os bispos e grande parte da aristocracia
aceitaram com entusiasmo as ideais do papa. A Venezuela e a Nova Granada
acreditou de novo para Santa Sé o problema da incomunicação e o papa o desejo
de conhecer os assuntos americanos através de vias distintas de Madri.
3. A causa
eclesiástica americana no tempo de Leão XII 1823-1829
A missão Muzi
e Buenos Aires e Chile 1823-1825, em Roma a política absolutista da Santa
Aliança. Durante esses anos se produziu a reação francesa em favor do
absolutismo espanhol e conseguinte plano de Fernando VII de restituir seu poder
na América com o apoio da Rússia e da Áustria. Nesse ambiente absolutista por
interesse econômico de potencias que já estava na nova era da revolução
industrial, chega a Sede de São Pedro Leão XII que tinha um ato de seu dever
pastoral no caso da emancipação. Três eram os focos de atenção primeira para o
novo papa com respeito aos assuntos americanos: Chile, México que ressurgia da
crise produzida; Leão XII que havia participado na preparação da missão Muzi,
não só a confirmou mais sim que fez com ela grandes esperanças religiosas. No
Vaticano se pensava que era possível desligar do assunto eclesiástico organizar
as Igrejas americanas do político de reconhecer que as novas nações não queriam
nada com a Espanha e com o padroado.
Com o México,
o papa foi claro ao seguir a política por Pio VII de chegar informações através
de enviados americanos, o problema mais complexo para o papa Leão XII era a
grande Colômbia, ali a guerra seguia o eu curso em 1823 com o objetivo
definido, libertar definitivamente o Peru. O governo de Bolívar e Santander
havia entrado em contato com Roma. Fernando VII sabia do pensamento do papa e
quis neutralizar o efeito dos contatos vaticanos com os rebeldes americanos.
3.1. Colômbia
A Encíclica de
Leão XII não produziu nenhum efeito na América e nem ser quer na Espanha, o
papa esteve muito consciente de seu dever pastoral e julgou com boa fé seu
papel de não forçar os acontecimentos no plano político e não apartar de suas
obrigações de pastor Universal desejando que a sua Encíclica seguisse o curso
normal pela via de Madri. Não teve Leão XII o mesmo êxito com Centro da América
e México, o problema surgiu porque o governo quis forçar o reconhecimento
político para seus delegados ante o Vaticano como condição para negociar o
assunto dos bispos dos quais em 1829 tirava da Republica.
3.2. Chile
No Chile
depois do fracasso da missão de Muzi, o problema eclesiástico havia degenerado
no enfrentamento do governo e do eclesiástico Santiago com o bispo Rodrigues. O
papa Leão XII temeroso de que no Chile se repetira o Cisma Centro - americano.
O presidente se decidiu por enviar um delegado oficial a Roma com o fim de
negociar assuntos eclesiásticos chilenos. Previsto de boas cartas de
recomendação do presidente; não foi fácil para o papa Leão XII manejar o
espinhoso assunto sobre a irreguralidade com que Cenfuegos havia governado a
diocese de Santiago sem nenhuma delegação do bispo legitimo. O papa via
claramente o importante papel que julgava Cenfuegos na política chilena. Em
1829 o papa Leão XII morre.
O seu sucessor
o papa que tinha a difícil tarefa de trazer uma linha mais definitiva de
política religiosa da Santa Sé com respeito às novas Republicas
hispano-americana.
4. Avanços e
retrocessos durante o pontificado do papa Pio VIII ( 1829-1830 ).
O papa Pio
VIII tinha o suficiente realismo político para dar-se conta que a causa
espanhola estava perdida na América. Sentia a urgência pastoral de organização
a Igreja Americana, no pontificado de Pio VIII a Santa Sé procurou a
aproximação com as províncias do Rio da Prata e com o México com êxito no
primeiro caso e com fracasso no segundo caso.
Durante o governo unitário de
Rivadavia ( 1826-1827 ), não se deu nenhum passo de aproximação a Santa Sé, não
se tratava de uma atitude cismatica mais uma calculada política de deixar que a
Igreja argentina se vivesse sem bispos e sem sacerdotes e sem seminários. O
frei Justo de Santa Maria consagrado por um chileno Cenfuegos foi o primeiro
bispo da Argentina independente e causa de uma mudança radical na política
eclesiástica de seu governo.
4.1. México
Outro caso
distinto foi i México fatos que atentavam contra qualquer solução inclusive a
de mandar vigários apostólicos como no Chile e Argentina. O papa devia
reconhecer o México como nação independente da Espanha. O assunto era
especialmente grave em um momento em que se produzia a invasão espanhola do
general Barradas; com a queda de Guerrero e a ascensão do general Bustamante
pareceu que melhoraria a situação; o novo regime colocou condições a Santa Sé
para continuar as negociações: queriam no México bispos redenciais e não
vigários. O argumento básico era a dignidade nacional; não era justo que o papa
negava a petição do México unicamente por não contrariar o rei da Espanha.
Roma se
comoveu ante as reclamações do embaixador mexicano e muitos dos conselheiros do
papa se mostraram indignados a conceder ao menos dois bispos residenciais para
o México.
5. A situação do
problema eclesiástico americano nos tempos de Gregório XVI ( 1831-1835 ).
Na eleição do
novo papa julgou um papel importante da Igreja americana foi eleito com plena
consciência do conclave de que era um partido fervente da instauração
definitiva da hierarquia americana com presidência do padroado régio, dado pelo
rei da Espanha. Eleito Gregório XVI celebrou seu primeiro consitorio e publicou
solenemente seis bispos para o México eleitos: Motu Próprio e sem mediar
consultas nem com o governo mexicano nem com Madri.
5.1. México
A corte
espanhola teve que calar ante o fato consumado que não podia contradizer com
novos fatos de força sobre América já que se haviam fatos definitivamente
impossíveis. O governo proclamou que a emancipação e liberdade do México se
haviam visto solenemente reconhecidas pelo padre comum dos fieis.
5.2. Chile e
Argentina:
Gregório XVI
com sua política decisiva em favor da regularização da hierarquia americana se
ocupou do assunto eclesiástico na Argentina, no Chile e Uruguaio. Morto o
ancião bispo de Santiago, Rodrigues, o papa nomeou Vicunha como bispo residencial
da capital chilena.
Reações
diversas se deram, por que o sistema não padroado de governo eclesiástico era
desconhecido nas Igrejas americanas e em parte por que os governos civis
queriam exercer um padroado sobre as dioceses semelhantes ao exercer pela
Espanha; Gregório XVI teve que intervir muitas vezes para evitar os conflitos
entre os bispos e os enviados. As dificuldades iniciais confirmaram cada vez
mais ao papa em sua política contra os vigários apostólicos hispano-americanas
e em favor de colocar bispos redenciais para as diversas dioceses.
5.3.Uruguaio:
Em 1830 ano em
que o Uruguaio empenhou a ser a nação soberana das mudanças políticas aos que
se veio o problema da autonomia eclesiástica de Montevidéu com respeito ao
bispo de Beunos Aires ao qual pertencia espiritualmente. Quando se protocolizou
por parte da Argentina e Brasil o nascimento da nova nação, Gregório XVI deu um
passo de erigir o vicariato apostólico de Montevideo desmembrando de Buenos
Aires e com Monsenhor Larranga como primeiro vigário com caráter episcopal; o
papa ao deu o passo definitivo de erigir dioceses em Montevideo pela
instabilidade política que se tinha em Uruguaio e pela escassez do clero.
5.4. Peru:
O caso do Peru
teve um processo parecido ao da Grande Colômbia e de que o próprio libertador
se ocupou do negocio de evitar a Muzi a que extendia sua missão até Lima.
Certamente a demora na provação das dioceses peruanas se deu a demora em fazer
chegar a Roma as informações e também a mudança política verificado no Peru em
1827 durante o governo de Bolívar.
O congresso
constituinte da nação anulou as designações que o libertador havia feito para a
arquidiocese de Lima nem manteve a petição oficial da Santa Sé que se
providenciam bispos as sedes de Lima, e nem apresentou novos candidatos. As
dificuldades políticas peruanas de 1827 não impediram que existisse comunicação
oficial com a Santa Sé em assuntos referentes ao uso do padroado. Em Roma, nada
sabia dos propósitos do governo de Lima com respeito aos bispos; o papa se
decide a romper o silencio entrando em comunicação com os bispos e com o
próprio vigário de Lima, com o fim de preparar ao terreno para a provisão das
sedes peruanas. Deste modo, a chegada a presidência de Luis José em 1833 se
entrando na negociação oficial para a nominação.
Um juízo geral
sobre a atuação de Gregório XVI com respeito a Igreja americana tem quer levar
em conta a concepção realista que sempre teve o papel da religião e da
organização eclesiástica em meio dos conflitos políticos do século XIX. O papa
procedeu dentro do critério de que a revolução independente em
hispano-americana era um fato consumado e irreversível e de que seguir insiste
nos argumentos legitimistas não só era utópico sim que prejudicava a causa
religiosa nas novas nações, sem a religião estava em perigo e os americanos
queriam ser fieis a Igreja, o papa tinha que atrair-los e ajudá-los evitando
haurir suas idéias nacionais que estavam centrados na formula republicana.
Gregório XVI
proclama na Constituição Sollicitude Ecclesiarum, em 1831 que as vicissitudes
políticas dos Estados não podiam impedir nunca a Santa Sé de necessidades
espirituais das almas e especial a criação de novos bispos; Gregório XVI
reconheceu os diversos estados americanos: México, Equador, Chile e
posteriormente Peru, Bolívia e Argentina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário