A IGREJA LATINO
AMERICANA NO SÉC. XX
1. Panorama
da América Latina no início do séc. XX
1.1. Desenvolvimento
da Economia
- Políticas econômicas
Em 1880, as
economias exportadoras de matérias primas se consolidaram em quase todos os
países. Os fatores que influíram foram: a expansão das fronteiras agrícolas; o
fortalecimento das infra-estrutura exportadora; o crescimento demográfico e a
imigração; e o auge urbanístico. O maior ou menor êxito das políticas econômicas
dos países dependeu da estabilidade dos governos, de sua abertura aos mercados
internacionais e das possibilidades para aceder a esses mercados.
Os impostos
que representaram a principal fonte das entradas fiscais contribuíram a um meio
desenvolvimento da educação, da saúde e das condições urbanas. Até a Primeira
Guerra Mundial, a América Latina equilibrou a balança comercial. Depois da
recuperação da década de 1920 se produziu a Grande Depressão de 1929 que
obrigou a uma radical transformação das economias latino-americanas. Vários
países latinos chegaram a ser praticamente monoexportadores e, portanto,
dependentes de um artigo da economia com evidente perigo no jogo dos preços
internacionais.
- Imigração e crescimento demográfico
Desde a
segunda metade do séc. XIX se começou a produzir um forte aumento populacional
devido a demanda de mão-de-obra e, unida a esta, pela imigração que afetou
principalmente a Argentina, o Brasil, Cuba, Uruguai, Chile e Venezuela.
Os imigrantes
foram atraídos pela possibilidade de encontrar trabalho e meios de progredir.
Para a Igreja, o problema pastoral dos imigrantes foi difícil, sobretudo entre
os grupos que não chegaram com seus próprios sacerdotes e obviamente entre os
que tinha um credo distinto do católico.
1.2. Mudanças
de estrutura sócio-política
- Incremento da População Urbana
O
desenvolvimento da economia exportadora, o crescimento demográfico e a maior
burocratização dos Estados revalorizou o papel centralizante das cidades
latino-americanas como pólos de desenvolvimento. As capitais e os porto
marítimos têm destaque. A luta para ampliar a base social do Estado e
incorporar a massa rural com plenos direitos foi difícil.
- Desenvolvimento do movimento trabalhador
Quando se
iniciou o processo de industrialização existiam, na América Latina, além do
clero e dos militares, uma classe alta (latifundiários, aristocratas,
intelectuais) e uma classe popular que se viu acrescentada por grupos móveis
que se deslocavam na medida em que se apresentavam as ofertas de trabalho. A classe
intermédia era quase inexistente, porém, cresceu com o processo migratório que
trouxe pessoas de um nível cultural superior ao da classe cultural. A sua
chegada coincide com o fato de que o número de artesãos adquiria entidade em
algumas sociedades majoritariamente rurais. Os imigrantes chegaram à América
Latina imbuídos de idéias sindicalistas, reivindicatórias e frequentemente
revolucionárias.
A Igreja se
encontrou, de pronto, frente a um novo problema pastoral: por um lado,
movimentos anarquistas, de socialismo extremo; de outro, repressão violenta dos
governos e dos donos do capital, injustiças e aproveitamento. Animados pela
Igreja se criou o movimento trabalhador católico que teve incidência na
promoção humana e cristã dos trabalhadores e no fomento da ajuda mútua e do
cooperativismo.
O problema
situou-se em que teve que enfrentar dificuldades com os governos e não
preparação de um pessoal idôneo para o apostolado trabalhador. O pensamento
social da Igreja era claro, mas o clero e, mais ainda, os leigos não tinha uma
teologia das realidades temporais e se encontraram indefesos frente ás
estridências da moda do socialismo e marxismo. Pouco a pouco o comunismo se foi
apoderando do movimento, até conseguir apoio de partidos trabalhistas de
esquerda.
1.3. Alguns
fatos significativos que mudaram a fisionomia da América Latina
- Final do Império Espanhol na América
- Guerras e conflitos limítrofes
A causa foi a
indefinição das fronteiras entre alguns Estados, herança do domínio espanhol
que não se preocupou ou não teve os meios suficientes, não tinha a urgência que
se teve quando chegou a independência.
- Política expansionista do Brasil
A política das
novas fronteiras levou os Bandeirantes sempre mais longe. No séc. XX, durantes
15 anos se adiantou em negociações diplomáticas com os países vizinhos até
definir os territórios atuais.
- Colômbia e Panamá
Dentro dos
interesses estadunidenses estava a construção de um canal interoceânico no
departamento colombiano do Panamá. Em 1903, se produziu um levantamento propiciado
pelos Estados Unidos e se proclamou a nova República. O governo instaurado no
Panamá cedeu a franja para o Canal e reconheceu a soberania dos E.U.A.
- Políticas expansionistas dos Estados Unidos
Alguns estados
mexicanos foram anexados aos Estados Unidos
- Os processos revolucionários latino-americanos do
séc. XX
2.1. Revolução
Mexicana
Foi um
movimento político contra o centralismo e contra o bloqueio do longo governo de
Porfírio Diaz (1876-1911). Foi um movimento social em favor de uma reforma
agrária. Foi um movimento regional em prol do federalismo. Foi ainda movimento
de reivindicações de grupos representativos: indígenas, trabalhadores e
burguesia.
- Queda de Porfírio Diaz (1911)
Plano de San
Luis de Potosí: Francisco Madero propõe o motivo da insurreição geral. Madero é
eleito presidente e dada a sua vocação constituicionalista, se opõe à violência
e a expropriação com vista na reforma agrária. Dissolve o Partido
Anti-reelecionista e funda o Constitucional Progressista de tendência legalista
moderada.
- Queda de Madero (1911)
Foi impossível
satisfazer igualmente a todos os grupos. O Exército Oficial, sob o comando de
Victoriano Huerta (antigo porfirista) consegue deter aos revolucionários,
porém, ao ser enviado à Cidade do México para reprimir a ascensão de Félix Diaz
(sobrinho do ex-ditador), termina se unindo a ele contra Madero, o qual é
assassinado. Huerta assume a presidência.
- Queda de Huerta (1914)
Plano de
Guadalupe: Venustiano Carranza, propôs a revolução constitucionalista contra o
usurpador Huerta. Em Chihuahua, Pancho Villa organiza a rebelião conta o
governo, o mesmo faz Zapata em Morelos. Os
Constitucionalistas ocuparam a Cidade do México. A luta pelo
poder leva a um período anárquico que termina quando finalmente Carranza assume
o poder.
- Governo de Carranza (1915-1920)
Seus objetivos
básicos foram: a institucionalização do país, a consolidação da reforma
agrária, a sindicalização trabalhista e o direito de greve. A Nova Constituição
é intervencionista, nacionalista, anti-clerical e medianamente reivindicadora
dos interesses camponeses e trabalhistas.
- Governo de Obregón (1920-1924)
A revolução
tomou o atalho da definitiva institucionalização do país. Os Estados Unidos
reconhecem Obregón e favorece as medidas do seu governo. A distribuição de terras
foi mais efetiva nos lugares onde os proprietários de terra tinham apoiados a
revolução.
- Governo de Calles (1924-1927)
Continua a
linha de Obregón. Ao tentar por em prática as medidas anti-clericais da
Constituição, estala o movimento dos Cristeros (1926). A mediação dos Estados
Unidos permitiu um certo diálogo entre o México e o Vaticano. Calles
comprometia a não destruir o catolicismo, nem a Igreja Mexicana, apesar de
continuar com as leis anti-religiosas.
- México e Igreja depois da Revolução
Os bispos e
sacerdotes quando retornaram do exílio tentaram re-cristianizar as estruturas e
reconstruir o social de acordo com as urgentes conseqüências da Revolução. A
Igreja saiu fortalecida da Revolução, recuperou seu poder moral numa sociedade
combativamente católica governada por leis anti-católicas. A característica
principal da Igreja mexicana foi sua realização baseada na adesão popular e não
na proteção do Estado.
2.2. Revolução
Cubana (1953-1960)
Começou a
germinar desde o momento da independência (1898) em que se consagrou
constitucionalmente a tutela dos Estados Unidos. Até 1956, quando Fidel Castro
começa a luta na Serra Mestra e cria o M-26, a política e a economia cubanas giravam em
torno da potência despótica do Norte.
Em 1944,
tem-se as primeiras eleições livres em Cuba. É eleito Ramón Grau Sanmartín.
Este conseguiu um governo estável pela bonança açucareira. Em 1948, é eleito
Carlos Prío Socorras, com quem Cuba entra mais na órbita dos Estados Unidos, o
que significou repressão do comunismo.
Em 1953, Fidel
Castro, do partido ortodoxo, Começa a insurreição popular. Nestes momento
vastos setores do catolicismo cubano e ainda do clero apóiam o movimento M-26.
Batista ganha algumas eleições. Em 1954, Fidel Castro sai da prisão e se exila
no México. Em 1956, Castro desembarca em Cuba e cria um foco guerrilheiro na
Serra Mestra, província do Oriente. O M-26 se torna o Exército Rebelde e recebe
apoio da oposição a Batista e dos camponeses e vastos setores católicos se unem
ao movimento.
Quando cai
Batista, as intenções do M-26 começam a aparecer Anti-imperialistas
(anti-yanqui) e pró-comunista (pró-soviética). De 1959 em diante, a revolução
se converteu de anti-imperialista em revolução social de forte cunho
marxista-leninista. As primeiras reformas foram: a nacionalização, a reforma
urbana, alfabetização massiva e segurança sócia para toda a população.
Che Guevara
queria a industrialização acelerada baseada na diluição da economia de mercado
e na eliminação do incentivo material para o trabalho (salário), e isso levou
ao comunismo. Fidel Castro assume o poder do governo revolucionário. Fora Raúl
Castro, seu irmão, os demais chefes revolucionários foram desaparecendo de
diversas maneiras.
A Igreja
Cubana, sua hierarquia, os sacerdotes religiosos e leigos convencidos, muitos
deles ativistas da avançada ação católica, apoiaram por causa da liberdade que
viam refletida no gesto heróico da revolução humanista e cubana, dirigida por
Fidel Castro. Colaboraram decididamente com a reforma urbana e agrária e com a
luta para melhorar as condições de vida dos trabalhadores e camponeses. O
primeiro passo conflituoso ocorreu pelos juízos sumários e a pena de morte para
os inimigos da revolução. Em 1960,
a orientação marxista-leninista do regime castrista foi
um fato claro e se começou as reformas nos setores da educação, dos assuntos
eclesiásticos, da economia e do social.
As campanhas
de descrédito do clero e da ação da Igreja se basearam no lema de que tudo que
está fora do comunismo é revolução. A Carta aberta dos Bispos de Cuba a Fidel
Castro (4 de dezembro de 1960) foi a última declaração pública da hierarquia
cubana. Daí começou a Igreja do silêncio. Nacionalizou-se a educação,
confiscou-se os colégios e escolas da Igreja, ordenou-se a detenção dos bispos
e expulsou-se 132 sacerdotes, suprimiu-se qualquer imprensa católica e
proibiu-se cultos fora dos templos.
Em relação à
Santa Sé, podemos dizer que, por sabedoria e para o bem da Igreja e o povo
cubano, ela julgou mais conveniente a diplomacia que permitisse a salvaguarda
dos interesses da Igreja.
2.3. Revolução
Nicaragüense
Em 1934,
Sandino, herói nacional é traído e assassinado pelo chefe da guarda nacional,
Atanásio Somoza. Este começa uma ditadura a partir de 1936. Em 1961, nasce a
Frente Sandinista de Libertação Nacional, que executa ações guerrilheiras até
derrocar a dinastia dos Samoza, em 1979.
Daí até 1990, a Nicarágua é
governada por uma junta liderada ideologicamente pelo sandinismo, que se
acentuará cada vez mais no marxismo-leninista, ao estilo cubano. Mas, contra o
sandinismo, desenvolve-se a guerrilha dos Contra ajuda pelos E.U.A. E é aqui
que começam as diferenças com Cuba.
A Igreja
nicaragüense, os bispos e o clero, desempenharam um papel essencial na
orientação da revolução com o fim de que se conserve como processo para uma
sociedade plena e autenticamente nicaragüense, não capitalista, nem consumista,
nem dependente, nem totalitária. A diferença com a presença da Igreja em Cuba é
que aqui ela não padeceu a prova do silêncio.
- A Doutrina da Segurança Nacional e a Guerra Suja
Na América
Latina, desde a Independência, sempre existiu a crença de que, dada a alta dose
de ingovernabilidade dos países, é necessária a intervenção do estamento
militar na vida política. Os militares são os últimos garantidores da ordem
constitucional, estes se convertem em árbitros da situação, às vezes,
unilateralmente.
Na década de
1960 à de 1970, nos países do Sul, os militares recorreram à doutrina da
segurança nacional para justificar suas intervenções na política interna. Os militares
argentinos que governaram de 1976-1982 usaram o termo de Guerra Suja para
justificar a dureza repressiva e violação dos direitos humanos.
- A Dívida Externa
Com boa
intenção os países do continente entraram na dança dos milhões de dólares fruto
de espetacular bonança petroleira das décadas de 60-70. Desgraçadamente a
corrupção existente, a crise mundial da indústria e as políticas armamentistas
fizeram que se evaporassem partes consideráveis desses capitais produto do
endividamento.
O FMI impôs condições
pesadas para financiar a dívida externa com o objetivo de liberar as economias,
revalorizar o papel do mercado em detrimento do Estado, reduzindo o setor
público e ampliando o privado. A isso se assoma, que os governos e as classes
políticas caem uma descredibilidade pelo não cumprimento das promessas e as
diversas manifestações de corrupção.
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