quinta-feira, 10 de março de 2016

A IGREJA LATINO AMERICANA NO SÉC. XX

A IGREJA LATINO AMERICANA NO SÉC. XX



1. Panorama da América Latina no início do séc. XX

1.1.  Desenvolvimento da Economia
  1. Políticas econômicas
Em 1880, as economias exportadoras de matérias primas se consolidaram em quase todos os países. Os fatores que influíram foram: a expansão das fronteiras agrícolas; o fortalecimento das infra-estrutura exportadora; o crescimento demográfico e a imigração; e o auge urbanístico. O maior ou menor êxito das políticas econômicas dos países dependeu da estabilidade dos governos, de sua abertura aos mercados internacionais e das possibilidades para aceder a esses mercados.
Os impostos que representaram a principal fonte das entradas fiscais contribuíram a um meio desenvolvimento da educação, da saúde e das condições urbanas. Até a Primeira Guerra Mundial, a América Latina equilibrou a balança comercial. Depois da recuperação da década de 1920 se produziu a Grande Depressão de 1929 que obrigou a uma radical transformação das economias latino-americanas. Vários países latinos chegaram a ser praticamente monoexportadores e, portanto, dependentes de um artigo da economia com evidente perigo no jogo dos preços internacionais.

  1. Imigração e crescimento demográfico

Desde a segunda metade do séc. XIX se começou a produzir um forte aumento populacional devido a demanda de mão-de-obra e, unida a esta, pela imigração que afetou principalmente a Argentina, o Brasil, Cuba, Uruguai, Chile e Venezuela.
Os imigrantes foram atraídos pela possibilidade de encontrar trabalho e meios de progredir. Para a Igreja, o problema pastoral dos imigrantes foi difícil, sobretudo entre os grupos que não chegaram com seus próprios sacerdotes e obviamente entre os que tinha um credo distinto do católico.

1.2.  Mudanças de estrutura sócio-política
  1. Incremento da População Urbana

O desenvolvimento da economia exportadora, o crescimento demográfico e a maior burocratização dos Estados revalorizou o papel centralizante das cidades latino-americanas como pólos de desenvolvimento. As capitais e os porto marítimos têm destaque. A luta para ampliar a base social do Estado e incorporar a massa rural com plenos direitos foi difícil.

  1. Desenvolvimento do movimento trabalhador

Quando se iniciou o processo de industrialização existiam, na América Latina, além do clero e dos militares, uma classe alta (latifundiários, aristocratas, intelectuais) e uma classe popular que se viu acrescentada por grupos móveis que se deslocavam na medida em que se apresentavam as ofertas de trabalho. A classe intermédia era quase inexistente, porém, cresceu com o processo migratório que trouxe pessoas de um nível cultural superior ao da classe cultural. A sua chegada coincide com o fato de que o número de artesãos adquiria entidade em algumas sociedades majoritariamente rurais. Os imigrantes chegaram à América Latina imbuídos de idéias sindicalistas, reivindicatórias e frequentemente revolucionárias.
A Igreja se encontrou, de pronto, frente a um novo problema pastoral: por um lado, movimentos anarquistas, de socialismo extremo; de outro, repressão violenta dos governos e dos donos do capital, injustiças e aproveitamento. Animados pela Igreja se criou o movimento trabalhador católico que teve incidência na promoção humana e cristã dos trabalhadores e no fomento da ajuda mútua e do cooperativismo.
O problema situou-se em que teve que enfrentar dificuldades com os governos e não preparação de um pessoal idôneo para o apostolado trabalhador. O pensamento social da Igreja era claro, mas o clero e, mais ainda, os leigos não tinha uma teologia das realidades temporais e se encontraram indefesos frente ás estridências da moda do socialismo e marxismo. Pouco a pouco o comunismo se foi apoderando do movimento, até conseguir apoio de partidos trabalhistas de esquerda.

1.3.  Alguns fatos significativos que mudaram a fisionomia da América Latina
  1. Final do Império Espanhol na América
  2. Guerras e conflitos limítrofes

A causa foi a indefinição das fronteiras entre alguns Estados, herança do domínio espanhol que não se preocupou ou não teve os meios suficientes, não tinha a urgência que se teve quando chegou a independência.

  1. Política expansionista do Brasil
A política das novas fronteiras levou os Bandeirantes sempre mais longe. No séc. XX, durantes 15 anos se adiantou em negociações diplomáticas com os países vizinhos até definir os territórios atuais.

  1. Colômbia e Panamá
Dentro dos interesses estadunidenses estava a construção de um canal interoceânico no departamento colombiano do Panamá. Em 1903, se produziu um levantamento propiciado pelos Estados Unidos e se proclamou a nova República. O governo instaurado no Panamá cedeu a franja para o Canal e reconheceu a soberania dos E.U.A.

  1. Políticas expansionistas dos Estados Unidos
Alguns estados mexicanos foram anexados aos Estados Unidos

  1. Os processos revolucionários latino-americanos do séc. XX

2.1.  Revolução Mexicana

Foi um movimento político contra o centralismo e contra o bloqueio do longo governo de Porfírio Diaz (1876-1911). Foi um movimento social em favor de uma reforma agrária. Foi um movimento regional em prol do federalismo. Foi ainda movimento de reivindicações de grupos representativos: indígenas, trabalhadores e burguesia.
  1. Queda de Porfírio Diaz (1911)
Plano de San Luis de Potosí: Francisco Madero propõe o motivo da insurreição geral. Madero é eleito presidente e dada a sua vocação constituicionalista, se opõe à violência e a expropriação com vista na reforma agrária. Dissolve o Partido Anti-reelecionista e funda o Constitucional Progressista de tendência legalista moderada.


  1. Queda de Madero (1911)
Foi impossível satisfazer igualmente a todos os grupos. O Exército Oficial, sob o comando de Victoriano Huerta (antigo porfirista) consegue deter aos revolucionários, porém, ao ser enviado à Cidade do México para reprimir a ascensão de Félix Diaz (sobrinho do ex-ditador), termina se unindo a ele contra Madero, o qual é assassinado. Huerta assume a presidência.
  1. Queda de Huerta (1914)
Plano de Guadalupe: Venustiano Carranza, propôs a revolução constitucionalista contra o usurpador Huerta. Em Chihuahua, Pancho Villa organiza a rebelião conta o governo, o mesmo faz Zapata em Morelos. Os Constitucionalistas ocuparam a Cidade do México. A luta pelo poder leva a um período anárquico que termina quando finalmente Carranza assume o poder.

  1. Governo de Carranza (1915-1920)
Seus objetivos básicos foram: a institucionalização do país, a consolidação da reforma agrária, a sindicalização trabalhista e o direito de greve. A Nova Constituição é intervencionista, nacionalista, anti-clerical e medianamente reivindicadora dos interesses camponeses e trabalhistas.

  1. Governo de Obregón (1920-1924)
A revolução tomou o atalho da definitiva institucionalização do país. Os Estados Unidos reconhecem Obregón e favorece as medidas do seu governo. A distribuição de terras foi mais efetiva nos lugares onde os proprietários de terra tinham apoiados a revolução.

  1. Governo de Calles (1924-1927)
Continua a linha de Obregón. Ao tentar por em prática as medidas anti-clericais da Constituição, estala o movimento dos Cristeros (1926). A mediação dos Estados Unidos permitiu um certo diálogo entre o México e o Vaticano. Calles comprometia a não destruir o catolicismo, nem a Igreja Mexicana, apesar de continuar com as leis anti-religiosas.

  1. México e Igreja depois da Revolução
Os bispos e sacerdotes quando retornaram do exílio tentaram re-cristianizar as estruturas e reconstruir o social de acordo com as urgentes conseqüências da Revolução. A Igreja saiu fortalecida da Revolução, recuperou seu poder moral numa sociedade combativamente católica governada por leis anti-católicas. A característica principal da Igreja mexicana foi sua realização baseada na adesão popular e não na proteção do Estado.

2.2.  Revolução Cubana (1953-1960)

Começou a germinar desde o momento da independência (1898) em que se consagrou constitucionalmente a tutela dos Estados Unidos. Até 1956, quando Fidel Castro começa a luta na Serra Mestra e cria o M-26, a política e a economia cubanas giravam em torno da potência despótica do Norte.
Em 1944, tem-se as primeiras eleições livres em Cuba. É eleito Ramón Grau Sanmartín. Este conseguiu um governo estável pela bonança açucareira. Em 1948, é eleito Carlos Prío Socorras, com quem Cuba entra mais na órbita dos Estados Unidos, o que significou repressão do comunismo.
Em 1953, Fidel Castro, do partido ortodoxo, Começa a insurreição popular. Nestes momento vastos setores do catolicismo cubano e ainda do clero apóiam o movimento M-26. Batista ganha algumas eleições. Em 1954, Fidel Castro sai da prisão e se exila no México. Em 1956, Castro desembarca em Cuba e cria um foco guerrilheiro na Serra Mestra, província do Oriente. O M-26 se torna o Exército Rebelde e recebe apoio da oposição a Batista e dos camponeses e vastos setores católicos se unem ao movimento.
Quando cai Batista, as intenções do M-26 começam a aparecer Anti-imperialistas (anti-yanqui) e pró-comunista (pró-soviética). De 1959 em diante, a revolução se converteu de anti-imperialista em revolução social de forte cunho marxista-leninista. As primeiras reformas foram: a nacionalização, a reforma urbana, alfabetização massiva e segurança sócia para toda a população.
Che Guevara queria a industrialização acelerada baseada na diluição da economia de mercado e na eliminação do incentivo material para o trabalho (salário), e isso levou ao comunismo. Fidel Castro assume o poder do governo revolucionário. Fora Raúl Castro, seu irmão, os demais chefes revolucionários foram desaparecendo de diversas maneiras.
A Igreja Cubana, sua hierarquia, os sacerdotes religiosos e leigos convencidos, muitos deles ativistas da avançada ação católica, apoiaram por causa da liberdade que viam refletida no gesto heróico da revolução humanista e cubana, dirigida por Fidel Castro. Colaboraram decididamente com a reforma urbana e agrária e com a luta para melhorar as condições de vida dos trabalhadores e camponeses. O primeiro passo conflituoso ocorreu pelos juízos sumários e a pena de morte para os inimigos da revolução. Em 1960, a orientação marxista-leninista do regime castrista foi um fato claro e se começou as reformas nos setores da educação, dos assuntos eclesiásticos, da economia e do social.
As campanhas de descrédito do clero e da ação da Igreja se basearam no lema de que tudo que está fora do comunismo é revolução. A Carta aberta dos Bispos de Cuba a Fidel Castro (4 de dezembro de 1960) foi a última declaração pública da hierarquia cubana. Daí começou a Igreja do silêncio. Nacionalizou-se a educação, confiscou-se os colégios e escolas da Igreja, ordenou-se a detenção dos bispos e expulsou-se 132 sacerdotes, suprimiu-se qualquer imprensa católica e proibiu-se cultos fora dos templos.
Em relação à Santa Sé, podemos dizer que, por sabedoria e para o bem da Igreja e o povo cubano, ela julgou mais conveniente a diplomacia que permitisse a salvaguarda dos interesses da Igreja.

2.3.  Revolução Nicaragüense

Em 1934, Sandino, herói nacional é traído e assassinado pelo chefe da guarda nacional, Atanásio Somoza. Este começa uma ditadura a partir de 1936. Em 1961, nasce a Frente Sandinista de Libertação Nacional, que executa ações guerrilheiras até derrocar a dinastia dos Samoza, em 1979.
Daí até 1990, a Nicarágua é governada por uma junta liderada ideologicamente pelo sandinismo, que se acentuará cada vez mais no marxismo-leninista, ao estilo cubano. Mas, contra o sandinismo, desenvolve-se a guerrilha dos Contra ajuda pelos E.U.A. E é aqui que começam as diferenças com Cuba.
A Igreja nicaragüense, os bispos e o clero, desempenharam um papel essencial na orientação da revolução com o fim de que se conserve como processo para uma sociedade plena e autenticamente nicaragüense, não capitalista, nem consumista, nem dependente, nem totalitária. A diferença com a presença da Igreja em Cuba é que aqui ela não padeceu a prova do silêncio.




  1. A Doutrina da Segurança Nacional e a Guerra Suja

Na América Latina, desde a Independência, sempre existiu a crença de que, dada a alta dose de ingovernabilidade dos países, é necessária a intervenção do estamento militar na vida política. Os militares são os últimos garantidores da ordem constitucional, estes se convertem em árbitros da situação, às vezes, unilateralmente.
Na década de 1960 à de 1970, nos países do Sul, os militares recorreram à doutrina da segurança nacional para justificar suas intervenções na política interna. Os militares argentinos que governaram de 1976-1982 usaram o termo de Guerra Suja para justificar a dureza repressiva e violação dos direitos humanos.

  1. A Dívida Externa

Com boa intenção os países do continente entraram na dança dos milhões de dólares fruto de espetacular bonança petroleira das décadas de 60-70. Desgraçadamente a corrupção existente, a crise mundial da indústria e as políticas armamentistas fizeram que se evaporassem partes consideráveis desses capitais produto do endividamento.
O FMI impôs condições pesadas para financiar a dívida externa com o objetivo de liberar as economias, revalorizar o papel do mercado em detrimento do Estado, reduzindo o setor público e ampliando o privado. A isso se assoma, que os governos e as classes políticas caem uma descredibilidade pelo não cumprimento das promessas e as diversas manifestações de corrupção.




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