sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

BASE BÍBLICA DA REFLEXÃO SACRAMENTAL



– BASE BÍBLICA DA REFLEXÃO SACRAMENTAL
TEMA 1: SACRAMENTOS E CRIAÇÃO
I.              A revelação sobre a Criação
1. A Aliança originaria da criação
“Deus criando tudo e conservando-o por seu Verbo, dá aos homens testemunho perene de si nas coisas criadas, e, querendo abrir o caminho da salvação sobrenatural, se manifestou, ademais, a si mesmo a nossos pais, já desde o principio”. (DV 3). “Os convidou a uma comunhão intima com Ele revestindo-os de uma graça e de uma justiça resplandecente” (CICat 54).
Gn 1, apresenta a Deus criando por meio de sua Palavra e de seu Espírito. Deus não tem necessidade de criar, cria por simples generosidade, como ato de autodoação, e pode se dizer que incluso de sacrifício, pois arrisca a ser incompreendido.
O primeiro passo da autocomunicação de Deus ao homem é, portanto a Criação. Deus se revela ao homem precisamente ao chamá-lo do nada ao ser, e ao chamar ao ser todas as coisas junto com o homem e para ele. Deu cria o homem, o constitui no ser, a sua imagem e semelhança.
Por livre disposição de Deus, o homem não recebe na criação unicamente o ser natural; ao tempo que criado, foi elevado, quer dizer, foi criado em estado de justiça original, participando da vida divina, a vida própria de Deus, a vida sobrenatural.
O homem, dando fé e obedecendo a Deus no uso das coisas e nas relações com seu próximo, realiza a resposta em ação de graças a benção originaria de Deus. Esta resposta se expressa na renúncia a considerar-se a si mesmo com a fonte última do bem e do mal, reconhece a lei que provem de sua condição de criatura feita a imagem e semelhança de Deus e portanto, sua dependência de Deus, o qual, em sentido amplo, implica um sacrifício (Gn 2,15-16).
2. Os signos de Deus na Criação
a. Deus se comunica pelas coisas materiais
·            O primeiro meios sensíveis, visíveis da comunicação de Deus são as coisas e o homem em si mesmo.
·            “Deus fala ao homem através da criação visível. O cosmos material se apresenta a inteligência do homem para que veja nele as pegadas de seu Criador”.
·            No AT as coisas se apresentam não como simples símbolos religiosos usados pelo homem, mas como símbolos que Deus utiliza para comunicar-se.
·            As coisas falam de Deus, simbolizam a sua grandeza (sua gloria) e sua proximidade. A relação entre o significante e o significado se estabelece aqui pelo vestígio, a pegada do Criador que a criatura traz em si. Por isso, o criado adquire uma função mediadora, de palavra, que fala de Deus como sua origem e seu fim.
·            Assim temos o conceito de sacramentalidade em sentido amplo: as coisas não são divinas, mas são signos através dos quais Deus se comunica.
b. Deus se comunica ao homem e por meio do homem
·            Deus fala através das coisas a um interlocutor inteligente e livre capaz de escutar e de responder: o homem. O AT apresenta ao homem como o cume da Criação, para o qual tem sido feitas as coisas.
·            O ensinamento do AT, nos mostra que as coisas criadas tem um potencialidade para expressar algo mais que elas mesmas: o Mistério de Deus que se comunica nelas. Esta potencialidade se atua por meio da ministerialidade do ser humano, quer dizer, qdo o ser humano interpreta as coisas, revela seu sentido oculto, se serve delas, e através de suas palavras e gestos, comunica com os outros seres humanos e com Deus.
·            O homem é culminação do comunicar-se criativo de Deus. A relação entre o homem e Deus não consiste num simples vestígio, pois o homem está feito a imagem e semelhança de Deus (Gn 1,27), contém um “sopro” que vem de Deus. (Gn 2,7).
·            O corpo dimensão visível da pessoa, revela visivelmente esta presença de Deus que o homem tem em sua interioridade.
·            Por meio da corporeidade, o homem pode reconhecer também a imagem e semelhança de Deus nos outros seres humanos. A comunidade humana, em especial a comunidade esponsal, se faz símbolo da comunicação entre Deus e o homem. Comunicando com seu próximo no amor verdadeiro, o homem comunica implicitamente com Deus.
c. A sacramentalidade primordial do criador
·            “Enqto criaturas, as realidades sensíveis podem chegar a ser lugar de expressão da ação de Deus que santifica aos homens, e da ação dos homens que rendem culto a seu Deus”.
·            No plano original de Deus o homem foi criado em graça original, portanto sua comunicação com Deus não era puramente intencional, quer dizer, só em nível de idéias e de valores. Era também no nível da vida intima de Deus. Ser feito a imagem e semelhança de Deus traz consigo esta abertura à comunicação da mesma intimidade divina. Ao receber a graça, o homem alcança plenamente sua condição de imagem e semelhança de Deus e se faz, em sentido amplo, sacramento de Deus para os demais.
d. Cristo, razão última da sacramentalidade do criador
·            O fundamento último da sacramentalidade primordial do criado é a sacramentalidade primordial originante de toda comunicação do divino, que é a da humanidade de Xto. A situação de elevação, de justiça original, estava chamada a encontrar sua plenitude em Xto. O primeiro homem era figura, inicio (profecia) do que Cristo seria plenamente.
·            O NT apresenta a Xto antes de tudo como autor da nova criação e como mediador desta nova criação com relação ao Pai; mas também como o autor e mediador da primeira criação.
·            “Realmente o mistério do homem só se esclarece no mistério do Verbo encarnado. Pois Adão, o primeiro homem, era figura do que havia de vir” (Rm 5,14; GS 22; CICat 359). Segundo isto, o homem foi criado em vista ou em previsão do Verbo Encarnado.
II.           A ruptura da sacramentalidade primordial
·            A ação diabólica do Espírito das Trevas ofuscou este caráter simbólico, sacramental, das coisas e da humanidade. O homem estava chamado a responder a Deus usando das criaturas segundo Ele, falhou substituindo a pela suspeita.
·            Em vez de ver as criaturas como meios para participar da vida de deus, as viu como uma limitação injusta por parte de Deus, que o impedia de ser como Deus (Gn 3,1-6). Se rebelou: sua humanidade mesma, a humanidade do próximo, as coisas, de veiculo de doação as converteu em objeto de apropriação e domínio egoísta.
III.        O começo do retorno à Aliança
·            Depois da queda, do pecado original, Deus colocou no coração de nossos pais a esperança da salvação como a promessa da redenção.
·            A separação Deus-homem, o pecado, traz como conseqüência as penalidades: a tendência ao descontrole interior; a incapacidade de comunicar plenamente com os demais, a hostilidade da natureza, e em ultimo, a morte. Sem embargo, essas penalidades são também um dom de Deus, enqto que põe ao homem em seu lugar e o fazem ver sua necessidade de Deus. São o novo chamado, agora doloroso, que Deus faz ao homem.
·            Junto com esse chamado, Deus dá a promessa; isto supõe já uma graça preparatória que prepara a chegada da plenitude da graça em Xto.
IV.        A religiosidade natural à luz da Revelação
·            Para o homem caído, a Criação permanece como primeira e fundamental manifestação de Deus, mas apresentando-se frequentemente mas como limite que como meio à união com Deus, a causa do coração obscurecido do homem.
·            O homem sente esta nostalgia do divino inscrita em sua humanidade, e como temos vis to, a descobre e a expressa através de sua corporeidade.
·            Além dos diversos momentos da vida do homem (Nasc. cresc. Casam. ...) surge a necessidade de reconciliação com Deus para superar a distância e a ruptura pelo pecado. Surgem os sacrifícios, os ritos de purificação, e junto com eles, a necessidade da pureza do coração e dum comportamento moral correto. A ministerialidade do homem com respeito às criaturas, tampouco perdida do todo, se manifesta na organização de uma comunidade cultica, com seus ministros de culto. Por isso, a religiosidade natural é o primeiro passo do retorno a Deus em Xto.
·            A existência da pluralidade de religiões é como um passo preparatório à economia da Revelação-Redenção.
·            Segundo João Paulo II na encíclica Redemptoris missio “Deus atrai a Si todos os povos, em Cristo, desejando comunicar-lhes a plenitude da sua revelação e do seu amor; Ele não deixa de Se tornar presente de tantos modos, quer aos indivíduos quer aos povos, através das suas riquezas espirituais, das quais a principal e essencial expressão são as religiões, mesmo se contêm também ‘ lacunas, insuficiências e erros’”.
·            Os ritos das religiões, no qual tem de verdadeiro e bom, gozam de uma certa sacramentalidade em sentido amplo, já que são expressão de uma graça de preparação e Deus pode servir-se deles para encaminhar aos homens à salvação em Xto.
V.           A redenção da religião
·            Com a ajuda de uma certa graça preparatória, o homem vai desenvolvendo uma estrutura ritual que se intui como meio para salvar a infinita distancia criatural e como remédio frente a ruptura do pecado. Será redimida e feita plenamente eficaz pela Encarnação, Morte e Ressurreição do Filho de Deus.
·            A religião natural necessita ser redimida. Existem elementos de revelação e de graça nas religiões, mas ao modo de chamado, chamado que traz consigo um esboço de resposta, mas não é a resposta completa.
·            A Revelação dá à religião sua realidade plena, e nisto consiste principalmente a salvação que traz ao homem: a plena união com Deus. A revelação é ao mesmo tempo Redenção, e redime ao homem precisamente desde sua dimensão mais profunda: a religiosa.
·            Na religião revelada – a revelação bíblica, quer dizer, a tradição religiosa judeu-cristã, que atesta a intervenção pessoal de Deus na historia, até chegar à Encarnação de Xto e a seu Mistério Pascal – Deus mesmo vem dar a resposta a seu próprio chamado, salvando a diferença ontológica infinita, os limites espaços-temporais, o pecado e a morte.
·            O Verbo ao assumir a condição humana, se faz meio para chegar a Deus, e ao aceitar sofrer por nós, em obediência amorosa ao Pai, toda a separação causada pelo pecado, se faz remédio para nossa situação decaída.
·            Os sacramentos são os ritos do homem redimido, da comunidade religiosa redimida: a Igreja.
Na Revelação os relatos fundantes narram fatos reais que, por intervenção divina, são a realização das esperanças de salvação da humanidade: sua sede de salvação frente à decadência física e moral, sua sede de união com Deus, de fraternidade universal, de vida eterna.

Nenhum comentário:

Postar um comentário