– BASE
BÍBLICA DA REFLEXÃO SACRAMENTAL
TEMA 1: SACRAMENTOS E CRIAÇÃO
I.
A revelação
sobre a Criação
1. A
Aliança originaria da criação
“Deus criando tudo e conservando-o por seu Verbo, dá aos homens
testemunho perene de si nas coisas criadas, e, querendo abrir o caminho da
salvação sobrenatural, se manifestou, ademais, a si mesmo a nossos pais, já
desde o principio”. (DV 3). “Os convidou a uma comunhão intima com Ele
revestindo-os de uma graça e de uma justiça resplandecente” (CICat 54).
Gn 1,
apresenta a Deus criando por meio de sua Palavra
e de seu Espírito. Deus não tem
necessidade de criar, cria por simples generosidade,
como ato de autodoação, e pode se
dizer que incluso de sacrifício, pois
arrisca a ser incompreendido.
O primeiro
passo da autocomunicação de Deus ao homem é, portanto a Criação. Deus se revela ao homem precisamente ao chamá-lo
do nada ao ser, e ao chamar ao ser todas as coisas junto com o homem e para
ele. Deu cria o homem, o constitui no ser, a sua imagem e semelhança.
Por livre
disposição de Deus, o homem não recebe na criação unicamente o ser natural; ao
tempo que criado, foi elevado, quer
dizer, foi criado em estado de justiça
original, participando da vida divina, a vida própria de Deus, a vida
sobrenatural.
O homem, dando fé e obedecendo a Deus no uso das
coisas e nas relações com seu próximo, realiza a resposta em ação de graças a benção originaria de Deus. Esta
resposta se expressa na renúncia a considerar-se a si mesmo com a fonte última
do bem e do mal, reconhece a lei que
provem de sua condição de criatura feita a imagem e semelhança de Deus e
portanto, sua dependência de Deus, o
qual, em sentido amplo, implica um sacrifício
(Gn 2,15-16).
2. Os signos de Deus na Criação
a. Deus se comunica pelas coisas
materiais
·
O primeiro meios sensíveis, visíveis da
comunicação de Deus são as coisas e o homem em si mesmo.
·
“Deus fala ao homem através da criação visível.
O cosmos material se apresenta a inteligência do homem para que veja nele as
pegadas de seu Criador”.
·
No AT as coisas se apresentam não como simples
símbolos religiosos usados pelo homem, mas como símbolos que Deus utiliza para comunicar-se.
·
As coisas falam de Deus, simbolizam a sua
grandeza (sua gloria) e sua proximidade. A relação entre o significante e o
significado se estabelece aqui pelo vestígio,
a pegada do Criador que a criatura traz em si. Por isso, o criado adquire uma função
mediadora, de palavra, que fala de
Deus como sua origem e seu fim.
·
Assim temos o conceito de sacramentalidade em sentido amplo: as coisas não são divinas, mas
são signos através dos quais Deus se comunica.
b. Deus se comunica ao homem e por meio
do homem
·
Deus fala através das coisas a um interlocutor inteligente e livre capaz de escutar e
de responder: o homem. O AT apresenta ao homem como o cume da Criação, para o qual tem sido feitas as coisas.
·
O ensinamento do AT, nos mostra que as coisas
criadas tem um potencialidade para
expressar algo mais que elas mesmas: o Mistério de Deus que se comunica nelas.
Esta potencialidade se atua por meio da ministerialidade
do ser humano, quer dizer, qdo o ser humano interpreta as coisas, revela seu
sentido oculto, se serve delas, e através de suas palavras e gestos, comunica
com os outros seres humanos e com Deus.
·
O homem é culminação do comunicar-se criativo de
Deus. A relação entre o homem e Deus não consiste num simples vestígio, pois o homem está feito a imagem e semelhança de Deus (Gn 1,27), contém um “sopro” que vem de Deus. (Gn 2,7).
·
O corpo dimensão visível da pessoa, revela visivelmente esta presença de
Deus que o homem tem em sua interioridade.
·
Por meio da corporeidade, o homem pode reconhecer também a imagem e semelhança
de Deus nos outros seres humanos. A
comunidade humana, em especial a comunidade esponsal, se faz símbolo da
comunicação entre Deus e o homem. Comunicando com seu próximo no amor
verdadeiro, o homem comunica implicitamente com Deus.
c. A sacramentalidade primordial do
criador
·
“Enqto criaturas, as realidades sensíveis podem chegar a ser lugar de expressão da ação de Deus que santifica aos homens, e
da ação dos homens que rendem culto a seu
Deus”.
·
No plano original de Deus o homem foi criado em
graça original, portanto sua comunicação com Deus não era puramente intencional, quer dizer, só em nível de
idéias e de valores. Era também no nível da vida intima de Deus. Ser feito a
imagem e semelhança de Deus traz consigo esta abertura à comunicação da mesma
intimidade divina. Ao receber a graça, o homem alcança plenamente sua condição
de imagem e semelhança de Deus e se faz, em sentido amplo, sacramento de Deus
para os demais.
d. Cristo, razão última da
sacramentalidade do criador
·
O fundamento último da sacramentalidade
primordial do criado é a sacramentalidade primordial originante de toda
comunicação do divino, que é a da humanidade
de Xto. A situação de elevação, de justiça original, estava chamada a
encontrar sua plenitude em Xto.
O primeiro homem era figura,
inicio (profecia) do que Cristo seria plenamente.
·
O NT apresenta a Xto antes de tudo como autor da
nova criação e como mediador desta nova criação com relação
ao Pai; mas também como o autor e mediador da primeira criação.
·
“Realmente o mistério do homem só se esclarece
no mistério do Verbo encarnado. Pois Adão, o primeiro homem, era figura do que
havia de vir” (Rm 5,14; GS 22; CICat 359). Segundo isto, o homem foi criado em
vista ou em previsão do Verbo Encarnado.
II.
A ruptura da
sacramentalidade primordial
·
A ação diabólica
do Espírito das Trevas ofuscou este caráter simbólico,
sacramental, das coisas e da humanidade. O homem estava chamado a responder a
Deus usando das criaturas segundo Ele, falhou substituindo a fé pela suspeita.
·
Em vez de ver as criaturas como meios para
participar da vida de deus, as viu como uma limitação injusta por parte de
Deus, que o impedia de ser como Deus (Gn 3,1-6). Se rebelou: sua humanidade
mesma, a humanidade do próximo, as coisas, de veiculo de doação as converteu em
objeto de apropriação e domínio egoísta.
III.
O começo do
retorno à Aliança
·
Depois da queda, do pecado original, Deus
colocou no coração de nossos pais a
esperança da salvação como a promessa
da redenção.
·
A separação Deus-homem, o pecado, traz como
conseqüência as penalidades: a
tendência ao descontrole interior; a incapacidade de comunicar plenamente com
os demais, a hostilidade da natureza, e em ultimo, a morte. Sem embargo, essas
penalidades são também um dom de Deus,
enqto que põe ao homem em seu lugar e o fazem ver sua necessidade de Deus. São o novo chamado, agora doloroso, que Deus
faz ao homem.
·
Junto com esse chamado, Deus dá a promessa; isto supõe já uma graça preparatória que prepara a chegada da plenitude
da graça em Xto.
IV.
A
religiosidade natural à luz da Revelação
·
Para o homem caído, a Criação permanece como
primeira e fundamental manifestação de Deus, mas apresentando-se frequentemente
mas como limite que como meio à união com Deus, a causa do coração obscurecido
do homem.
·
O homem sente esta nostalgia do divino inscrita
em sua humanidade, e como temos vis to, a descobre e a expressa através de sua
corporeidade.
·
Além dos diversos momentos da vida do homem
(Nasc. cresc. Casam. ...) surge a necessidade de reconciliação com Deus para superar a distância e a ruptura pelo
pecado. Surgem os sacrifícios, os ritos
de purificação, e junto com eles, a necessidade da pureza do coração e dum comportamento
moral correto. A ministerialidade do
homem com respeito às criaturas, tampouco perdida do todo, se manifesta na
organização de uma comunidade cultica,
com seus ministros de culto. Por
isso, a religiosidade natural é o primeiro passo do retorno a Deus em Xto.
·
A existência da pluralidade de religiões é como
um passo preparatório à economia da Revelação-Redenção.
·
Segundo João Paulo II na encíclica Redemptoris missio “Deus atrai a Si todos os
povos, em Cristo, desejando comunicar-lhes a plenitude da sua revelação e do
seu amor; Ele não deixa de Se tornar presente de tantos modos, quer aos
indivíduos quer aos povos, através das suas riquezas espirituais, das quais a
principal e essencial expressão são as religiões, mesmo se contêm também ‘
lacunas, insuficiências e erros’”.
·
Os ritos das religiões, no qual tem de
verdadeiro e bom, gozam de uma certa sacramentalidade
em sentido amplo, já que são expressão de uma graça de preparação e Deus pode servir-se deles para encaminhar aos homens à salvação em Xto.
V.
A redenção
da religião
·
Com a ajuda de uma certa graça preparatória, o
homem vai desenvolvendo uma estrutura ritual que se intui como meio para salvar a infinita distancia
criatural e como remédio frente a
ruptura do pecado. Será redimida e feita plenamente eficaz pela Encarnação,
Morte e Ressurreição do Filho de Deus.
·
A religião natural necessita ser redimida.
Existem elementos de revelação e de graça nas religiões, mas ao modo de
chamado, chamado que traz consigo um esboço de resposta, mas não é a resposta
completa.
·
A Revelação dá à religião sua realidade plena, e
nisto consiste principalmente a salvação que traz ao homem: a plena união com
Deus. A revelação é ao mesmo tempo Redenção, e redime ao homem precisamente
desde sua dimensão mais profunda: a religiosa.
·
Na religião revelada – a revelação bíblica, quer
dizer, a tradição religiosa judeu-cristã, que atesta a intervenção pessoal de
Deus na historia, até chegar à Encarnação de Xto e a seu Mistério Pascal – Deus mesmo vem dar a resposta a seu próprio
chamado, salvando a diferença ontológica infinita, os limites
espaços-temporais, o pecado e a morte.
·
O Verbo ao assumir a condição humana, se faz
meio para chegar a Deus, e ao aceitar sofrer por nós, em obediência amorosa ao
Pai, toda a separação causada pelo pecado, se faz remédio para nossa situação decaída.
·
Os sacramentos são os ritos do homem redimido,
da comunidade religiosa redimida: a Igreja.
Na Revelação os relatos fundantes narram fatos reais que, por intervenção divina,
são a realização das esperanças de salvação da humanidade: sua sede de salvação
frente à decadência física e moral, sua sede de união com Deus, de fraternidade
universal, de vida eterna.
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